“As pessoas se escondem atrás de perfis falsos para destilar ódio gratuito”, diz Arthur Vinciprova


Empolgado com a estreia de seu primeiro filme de terror, “A gruta”, lançado em diversos países via Amazon Prime Video, o ator, diretor e roteirista não sabe qual será a reação do público, mas está preparado para lidar com as críticas. “Temos que ter senso de competência para filtrar o que é construtivo e o que é destrutivo. Os haters são frustrados que querem chamar a atenção de alguma forma. Pessoas que, em vez de estarem produzindo e vivendo suas vidas, ficam assistindo a vida dos outros e disseminando ódio e inveja. É triste”, afirma

*Por Simone Gondim

Ator, diretor e roteirista, Arthur Vinciprova não tem medo de arriscar. Depois de duas comédias românticas, “Turbulência”, de 2016, e “Rúcula com tomate seco”, de 2017, ele acaba de estrear o terror “A gruta”, lançado em diversos países via Amazon Prime Video. Nas três produções, Arthur escreve e atua, sem se preocupar com as críticas. “Quando um artista expõe seu trabalho, deve estar preparado para encarar diversas opiniões conflitantes. Temos que ter senso de competência para filtrar o que é construtivo e o que é destrutivo”, afirma. “Só evoluímos quando conseguimos ter um certo distanciamento disso tudo”, garante.

Nem a crueldade encontrada na internet é capaz de abalar Arthur. “As pessoas se escondem atrás de perfis falsos para destilar ódio gratuito”, lamenta. “Os haters são frustrados que querem chamar a atenção de alguma forma. Pessoas que, em vez de estarem produzindo e vivendo suas vidas, ficam assistindo a vida dos outros e disseminando ódio e inveja. É triste”, completa. “Graças a Deus recebo mais carinho do que qualquer outra coisa. Tenho que agradecer aos fãs, que me apoiam muito. Mas busco manter os pés no chão, não focar nos elogios ou nas críticas”, diz.

“Quero muito atuar em projetos novos, de outros diretores e produtores”, afirma Arthur Vinciprova (Foto: Priscila Nicheli)

A jornada múltipla também está longe de ser um problema – no caso de “A gruta”, Arthur vive o protagonista Jesus, assina o roteiro e ainda é responsável pela direção do longa. “Escrever, dirigir e atuar são três atividades muito naturais para mim, que se complementam e se atraem. Sou bastante organizado e me planejo muito ao longo de um trabalho como esse. Sei da responsabilidade que tenho com toda a equipe e com os artistas que confiam em mim e na minha visão sobre o projeto. A responsabilidade é sempre grande, mas a satisfação é ainda maior. O prazer em poder me expressar artisticamente nessas áreas, simultaneamente, não tem preço”, conta.

No momento, se tiver que escolher entre as três funções, ele opta pela interpretação. “Quero muito atuar em projetos novos, de outros diretores e produtores. Creio que essa é a prioridade agora, me arriscar em novos desafios nesse sentido”, explica Arthur. “Daqui a alguns anos esse cenário pode mudar. Sou apaixonado pelas três coisas e não me vejo deixando de exercer essas funções ao longo da vida. Não necessariamente fazer as três ao mesmo tempo, mas pretendo continuar atuando, dirigindo e escrevendo”, acrescenta.

Bastidores do filme “A gruta”: Carolina Ferraz é a madre Helena e Arthur Vinciprova é um jovem chamado Jesus, que sofre um acidente (Foto: Nicole Gomes)

Enquanto não começam as gravações de seu próximo filme, “Chamado noturno”, que ele define como um suspense noir, Arthur aguarda a repercussão de “A gruta”, sua primeira experiência com o gênero terror. “Queria trabalhar em algo desafiador, diferente do que que vinha produzindo e estava acostumado a ver no cinema nacional. Por coincidência, um produtor amigo me perguntou se eu toparia dirigir um filme de terror”, lembra. “Senti que sairia da minha zona de conforto e poderia entregar um trabalho que fugisse do óbvio. Meu irmão adora filmes de terror e sempre assistimos a muita coisa juntos, somos exigentes com o gênero. Dificilmente algo me assusta. Achei que seria um desafio levar aos espectadores esse sentimento de tensão”, observa.

A trama de “A gruta” conta a história de Jesus, interpretado por Arthur. O personagem, único sobrevivente de um desmoronamento em uma gruta interditada, é suspeito de ter matado a mulher e os amigos antes de ser resgatado. Ele nega os assassinatos e se recusa a falar com a polícia, dizendo que só conversa com alguém da igreja. É aí que entra a madre Helena (Carolina Ferraz), a fim de tentar obter informações que possam ajudar na investigação e esclarecer o caso. “Apesar de ser um suspense com terror sobrenatural, acredito que o filme é muito mais do que isso. É um drama que fala da busca pela fé, do poder de nossas escolhas e como elas se refletem em nossas vidas”, ressalta.

“Busco manter os pés no chão, não focar nos elogios ou nas críticas”, diz Arthur Vinciprova (Foto: Priscila Nicheli)

A inspiração para escrever o roteiro de “A gruta” veio de clássicos do gênero, como “O bebê de Rosemary”, ” O Iluminado” e “O Exorcista”, filmes que estão na lista de favoritos de Arthur, junto com produções mais recentes, como “Hereditário”. “Tentei criar uma obra atemporal, que não focasse em efeitos especiais e modismos, mas sim na dramaturgia e construção dos personagens”, descreve. “Algo que me influencia muito nos filmes de terror é a tensão sobre aquilo que não vemos. Acredito que o medo vem do desconhecido. Então, busquei priorizar isso no filme”, admite.

Por falar em clima tenso, lidar com a pandemia causada pelo novo coronavírus não está sendo fácil. Assim como outros profissionais da área cultural, Arthur também teve projetos suspensos. “Estava em cartaz no Teatro Laura Alvim, no Rio de Janeiro, com a peça “Você tem o direito de permanecer calado”. Tínhamos passado em um edital bastante disputado e estávamos completando a primeira semana em cartaz, com inúmeras críticas positivas, quando surgiu a paralisação. Foi um balde de água fria”, recorda. “Lidamos com isso da melhor forma possível. Entendemos que, nas atuais circunstâncias, estarmos com saúde e protegidos é a grande prioridade. Tudo pareceu muito pequeno diante das fatalidades. Se tudo der certo, voltaremos assim que isso passar”, acredita.

(Foto: Priscila Nicheli)

Arthur escolheu ficar de quarentena na casa dos pais, em Volta Redonda (RJ). A pausa forçada teve um lado positivo, porque ajudou o artista a diminuir um pouco o ritmo. “Sempre pulei de um trabalho para o outro e nunca conseguia frear um pouco, tirar o pé do acelerador. Esse momento foi importante para conseguir me conectar com outras coisas, valorizar áreas da minha vida como a família e a saúde”, confessa. “A arte também ajuda muito. Assistir a filmes e séries, ler um bom livro, ouvir música… Tudo isso contribui para manter o equilíbrio”, assegura.

O artista não acha que teve problemas como a chamada Síndrome da Cabana, que provoca medo de voltar à rotina anterior ao isolamento, mas assume que evita sair de casa. “No início, ir à rua era muito difícil, dava uma tensão muito grande. Por isso, entendo essa síndrome. Ainda mais ao ver que muitos não respeitam os protocolos de segurança e insistem em não manter o distanciamento e o uso de máscaras”, comenta. “Durante esse isolamento, ficou claro que a arte é fundamental para manter nossa sanidade mental. Espero que muitos venham a valorizar o trabalho da classe artística e, com isso, tenhamos novos editais de fomento”, torce.