“Um dos desejos é justamente provocar as várias interpretações”, diz Michel Melamed sobre o “Bipolar Show”, que estreia em maio sua segunda temporada


O ator e apresentador também comentou política, questões de gênero e Lei Rouanet: “(…) cultura é educação”

Bipolar Show

“O ‘Bipolar’ é um projeto artístico centrado nas questões da linguagem, transgride as expectativas do gênero, podendo, na melhor das hipóteses, precipitar um olhar renovado” | Foto: Canal Brasil

Bipolar Show já tem segunda temporada gravada! O programa comandado por Michel Melamed volta dia 31 de maio às terças do Canal Brasil, com convidados como Marcelo Adnet, Júlia Rabelo, Maria Flor, Selton Melo, Dani Barros, Emilio DantasMatheus Nachtergaele. Quem acompanhou a temporada de estreia sabe que o “Bipolar” é baseado na informalidade, com direito a encenação, música, e até beijo na boca. Para Michel, o talk-show é para quem quiser: “Não acredito que o programa seja para um público específico, porque não vejo sendo dita uma só coisa ali, com um único sentido, para ser compreendido ou não. Ao contrário, acho que um dos desejos dele é justamente provocar as várias interpretações”.

O formato, livre para improvisos e misancenes, torna o programa o mais irreverente possível. “O desejo de liberdade é uma das singularidades do programa, o que por outro lado, curiosamente, exige muitos formalismos… De todo modo, creio que o risco – e então muitas vezes o erro e outras tantas a pérola –, não tem tido tanto espaço quanto merece e precisa…”, pontua Michel. Para o apresentador, o programa é  “(…) uma declaração de amor e um ato político”. Ele explica: “Tudo ali é mediado pelo afeto, você precisa mesmo ouvir o outro, ser tocado pelo outro, para então responder – e só é possível ser sincero, amando, quer dizer, verdade sem amor é crueldade… Isso per si já me parece um ato político, conquanto o que não será? O Bipolar Show é um projeto artístico centrado nas questões da linguagem, assim, transgride as expectativas do gênero, podendo, na melhor das hipóteses, precipitar um olhar renovado…”.

Bipolar Show

Na primeira temporada, rolou beijo com Mateus Solano e Alexandre Nero | Foto: reprodução

Como mostramos no HT, eventos como o “Teatro pela Democracia” têm rolado no Rio para discutir a situação política do país. Gregório Duvivier participou do ato declarando “temos que defender o indefensável”, e Michel deu sua opinião a respeito: “O fundamental sobre pensar a respeito é esse mesmo: juntos. O momento é muito sério, difícil, complexo. Imagino que o Gregório estivesse falando sobre defender um governo muito ruim em nome de algo maior, a democracia e a legalidade… Mas gosto ainda mais no ‘defender o indefensável’, do oxímoro, das palavras com sentidos opostos juntas, então é a recusa ao maniqueísmo que não aceita a complexidade e suas contradições, sendo que o momento é, justamente, de grandes contradições – a bipolarização não dá conta da realidade, ao contrário, dificulta o entendimento e, consequentemente, o diálogo”.

E foi além: “Daí pensar também no seu duplo, a defesa do defensável: a Democracia, o Estado De Direito, a República, a busca pela pluralidade de visões nos meios de comunicação, a equidade da justiça, a reforma política (financiamento público, voto distrital misto, etc.) e, principalmente e sempre, um projeto educacional como prioridade nacional”.

Outro assunto, que tem estado muito em voga nos últimos tempos fez Michel soltar o verbo: a Lei Rouanet. “Ela tem distorções que devem ser corrigidas, assim como outros mecanismos podem ser criados, mas hoje é a única forma de fomento cultural e é um valor ínfimo pra um dos setores mais importantes do país – cultura é educação. Todos os segmentos recebem dinheiro público, da indústria automobilística ao agronegócio, é umas das funções do estado, e, uma vez mais, a cultura, que é parte fundamental do processo educacional, que, por sua vez, na minha visão, é a coisa mais importante para o país, e um país tão desigual…”, finalizou.