Thiago Felix, do Studio Stella Adler, desmistifica The Lucid Body: técnica teatral que tem conquistado cada vez mais fãs e preza pela saúde mental do ator


O coach explicou melhor quais os caminhos abordados nas suas aulas e a importância da empatia no trabalho do ator.

O corpo é o instrumento de trabalho do ator. Não existe teoria teatral desde Stanislavski que tenha preterido essa informação e uma das novas correntes de treinamento e preparação chamada The Lucid Body (ou Corpo Lúcido) achou uma forma de trabalhar o ator e a sua relação com a sua própria estrutura que ainda não havia sido pensada. Juntando o Teatro Físico e a terapia energética, a diretora americana Fay Simpson usa os sete centros energéticos do corpo humano para ajudar o ator a melhorar sua percepção de comportamento e aperfeiçoar a criação de um personagem.

O ator e professor Thiago Felix é um dos emissários da técnica no Brasil. Ele fez parte do grupo teatral Tá Na Rua do conceituado diretor Amir Haddad e viajou o país fazendo teatro. Chegou a gravar participações e trabalhos para a Rede Globo, mas sentiu que deveria mudar os ares. Em uma conversa informal com um amigo, descobriu a existência do curso em Nova York e partiu para lá na primeira oportunidade que lhe apareceu. Hoje, ele trabalha como professor no Stella Adler Studio of Acting, um dos centros de atuação mais respeitados no mundo inteiro. De passagem pelo Brasil, Thiago tentou detalhar a técnica melhor ao HT:

“O Lucid Body trabalha uma nova forma de enxergar o ser humano. Com menos julgamentos e mais empatia e compaixão. Esse é o diferente. É um olhar microscópico sobre o comportamento humano. Quando eu, ator, olho um cara que bate na mulher, eu tenho que perceber o que está impulsionando essa ação. Eu tenho que entender as profundezas desse cara e o que veio anteriormente na vida dele. Como foi a formação desse corpo emocional e mental para ele chegar a esse ponto de dar um tapa na cara da mulher que ele ama. Esse é um ponto essencial que o ator tem que ter na visão do ser humano para aplicar com verdade o sentimento de um personagem”, disse o professor.

Thiago resolveu exemplificar para que não restassem dúvidas: “Se eu tenho problemas com ego e sou escalado para um personagem egocêntrico, eu vou acabar julgando ele consciente ou inconscientemente. Vejo os atores em dois padrões nesses casos: ou ele indica o comportamento e não vai muito fundo ou força o corpo a entrar em contato com essa emoção e essa fisicalidade e ai pode se machucar. As feridas podem ser emocionais e até de uma profundidade em que o ator não consegue sair do personagem e começa a viver com aquele ego 24 horas por dia. Muito do meu trabalhar é dar para os atores essa compreensão de que comportamento humano é universal. É por isso que vamos ao teatro ou ligamos a tv! Porque a gente se reconhece naquelas histórias. O ator tem que entender essa universalidade e eu trabalho onde eles moram: no corpo de cada um deles.”

“O processo é bem investigativo. Vamos a um extremo do comportamento humano e depois voltamos para a linha do meio, depois vamos a outro ponto e voltamos a linha do meio. A gente está sempre achando e ampliando as possibilidades de atuação dos atores sem que ele perca o equilíbrio. A diferença do Lucid Body é esse trabalho em cima da saúde emocional e mental do ator. É um ator que é capaz de encontrar a visceralidade dos sentimentos seja amor ou ódio, mas com a ferramenta para se desligar desse personagem para que ele não invada a minha vida e afete a minha saúde física e mental”, completou o coach.

Toda a técnica do Corpo Lúdico envolve muito a conexão do ator com o seu corpo e autoconhecimento desse material de trabalho mais poderoso. Nos tempos atuais, o culto e a busca por um corpo perfeitos ocupam a cabeça de maioria gritante das pessoas, podendo chegar a níveis preocupantes com artistas que dependem da imagem para sobreviver. Por isso, Thiago falou da necessidade de trabalhar em suas aulas a segurança e aceitação do corpo. “Muito da minha aula é para que os atores percam esse julgamento em cima do corpo. A atuação é física. Mesmo que muitas teorias sejam mentais, quando a gente vai pro palco ou ligam as câmeras, o que é mostrado são as reverberações físicas do meu corpo. Se eu como ator, tenho julgamentos ou pudores em relação ao meu corpo, dificulta. O ator tem que ter profundo conhecimento do seu corpo para assim ele poder aciona-las.”

Vivendo entre os Estados Unidos e o Brasil, Thiago Felix diz que é possível perceber algumas dificuldades diferentes pelas regiões: “O ator brasileiro tem muita paixão e é ótimo no improviso. Lá fora, eu tenho que dar o espaço para que os atores se joguem um pouco mais nos personagens.”