O espetáculo Profetas da Chuva – Chico Mariano e Paroara valoriza a cultura nordestina e traz luz a uma prática milenar


A peça retrata os homens e mulheres do interior o sertão cearense que são conhecidos por prever o tempo da região. “Foi um tema que me tocou profundamente, porque estamos focando na beleza das falas deles, a simplicidade e a esperança. São pessoas que vivem em um local de muita pobreza e seca, mas ao mesmo tempo eles cultivam uma troca com a população e existe todo um carinho e cuidado sobre isto”, comentou a atriz Clara Santhana

A beleza da cultura nordestina é algo que encanta e surpreende, e as atrizes Clara Santhana e Paulinha Cavalcanti provaram com a peça Profetas da Chuva – Chico Mariano e Paroara que a região pode mostrar ainda muito mais. O espetáculo fala sobre uma prática ancestral realizada no sertão do Ceará aonde homens e mulheres se dedicam a observar a natureza para prever o clima. No segundo sábado de janeiro, cerca de 30 profetas se reúnem com a população das cidades de Quixadá e Quixeramobim para dizer como ficará o clima naquele ano. Sendo assim, a montagem retrata exatamente este encontro no qual dois senhores contam as suas histórias e vivências. “Foi um tema que me tocou profundamente, porque estamos focando na beleza das falas deles, a simplicidade e a esperança. São pessoas que vivem em um local de muita pobreza e seca, mas ao mesmo tempo eles cultivam uma troca com a população e existe todo um carinho e cuidado sobre isto”, comentou Clara Santhana, que interpreta o Chico, enquanto Paroara é vivido por Paulinha. O espetáculo estreia no dia ia 22 de junho, no Teatro Candido Mendes, em Ipanema.

Profetas da Chuva – Chico Mariano e Paroara estreia nesta sexta-feira (Foto: Guga Melgar)

A montagem teve origem a partir de uma pesquisa feita pelas duas na época da faculdade. Elas estudavam na UniRio quando leram o livro Profetas da Chuva, de Karla Patricia Holanda Martins, e resolveram ir atrás desta história. “Eu e Paulinha já estávamos querendo desenvolver um projeto juntos na universidade. Na época, nós trabalhávamos em uma biblioteca e acabamos nos deparamos com este livro. Inicialmente, não tínhamos a intenção de fazer uma peça, fizemos apenas algumas cenas experimentais com a supervisão artística e orientação de Nara Keiseman. Em um determinado momento, nos vimos tão envolvidas com este tema que resolvemos transformar em espetáculo e ir até o Ceará para conhecê-los”, comentou. Esta ideia já faz parte da vida das artistas há cerca de dez anos e, enquanto ainda eram universitárias, chegaram a apresentar uma montagem com esta temática.

Clara Santhana e Paulinha Cavalcanti em cena como Chico e Paroara (Foto: Guga Melgar)

Entre idas e vindas, as duas resolveram retomar este roteiro e montar a peça. Ao todo, foram cinco anos trabalhando nesta temática até chegar ao espetáculo atual. “O texto, inicialmente, foi criado a partir de algumas falas que existiam no livro de Karla Patricia Holanda Martins, já que metade do exemplar é construída a partir de entrevistas feitas com estas personalidades do sertão. Esta parte é muito fiel às formas como eles se comunicam, as expressões e entre outros. Elegemos dois destes profetas e desenvolvemos a dramaturgia”, relatou.

As duas chegaram a viajar para o Ceará para ir atrás desta história (Foto: Guga Melgar)

O evento  já existe no interior do sertão cearense há 23 anos e cresceu muito desde então, não só por ter uma importância muito grande para as pessoas daquela região como também por atrair curiosos, como a dupla de atrizes. Existem outros estados do Brasil que fazem este tipo de previsão, mas a nomenclatura ‘profetas da chuva’ só existe nas cidades de Quixadá e Quixeramobim. Clara Santhana e Paulinha Cavalcanti chegaram a estes dois lugares a partir da indicação no livro de Karla Patricia Holanda Martins. Durante estas duas viagens que fizeram até o local, tiveram a oportunidade de conhecer diversas personalidades como os dois protagonistas. “O encontro foi belíssimo, porque são pessoas muito disponíveis. A gente foi muito bem recebido”, comentou. As duas escolheram os dois pelas formas diferentes com as quais fazem as suas previsões. Chico Mariano era um dos mais respeitados por acertar quase sempre. Ele se baseava nos astros, enquanto Paroara, nos insetos como formatos das teias de aranhas e caminho das formigas. Este último chamou muito a atenção de ambas por usar a poesia para citar as suas premonições.

A ideia surgiu a partir de um livro que as duas leram na universidade (Foto: Guga Melgar)

Uma das belezas do espetáculo é a valorização destes conhecimentos milenares e da introspecção que, muitas vezes, é deixado nas sombras pela correria das grandes cidades. “Para mim, é muito forte poder falar desta cultura ancestral. A minha família, por parte de mãe, é do sertão da Paraíba, então sei que ela viveu esta realidade dos tempos de seca, então tem histórias que são deste universo. Dou muito valor a este conhecimento popular. O meu olhar também é muito voltado para o mistério da vida e esta simplicidade. Acho que os profetas são grandes mestres que merecem a nossa atenção. É uma honra poder propagar um pouco disto”, comemorou.

Além de valorizar estes sábios da atualidade, a peça ainda coloca nos holofotes a cultura nordestina, não só através da história como da música e dos trejeitos. A atriz contou que tentou trazer esta identidade da região através de um olhar sincero, curioso e humano. “É no nordeste aonde se nascem grandes belezas do Brasil. Temos grandes músicos, humoristas e poetas que são de lá. Quis trazer este conhecimento da forma mais honesta e cuidadosa possível, sem estereótipos”, afirmou.

Nos últimos cinco anos, Clara Santhana brilhou nos palcos ao protagonizar a montagem Deixa Clarear, Musical sobre Clara Nunes. Como para todo o ator, a artista encara de forma muito saudável esta mudança brusca de personagem.  “Acho que me enriquece muito profissionalmente e pessoalmente, porque provoca um deslocamento de olhar, uma vez que passo a entender outra realidade. Ao mesmo tempo, também acho que ambos se comunicam, afinal, a Clara Nunes valorizava muito esta cultura ancestral. Ela é uma cantora do povo por justamente não ter perdido a conexão com as suas origens do interior de Minas Gerais”, comentou.

Desde que está em cartaz, o espetáculo já foi visto por mais de 200 mil pessoas, sendo um sucesso de bilheteria. Sendo assim, a artista retomou a parceria com Isaac Bernat, que assina a direção tanto desta peça quanto de Profetas.  “Ele foi um presente na minha vida e um professor muito marcante na minha trajetória pela UniRio. Sendo assim, foi a primeira pessoa que pensei ao fazer Clara Nunes e, por já conhecer esta pesquisa desde o início, também o chamei para dirigir Profetas da Chuva. Já fizemos outros espetáculos juntos e gosto muito do seu olhar muito humano e criativo na troca com o ato”, comemorou.

 

Serviço:

Profetas da Chuva – Chico Mariano e Paroara

Temporada:  De 22 de junho a 29 de julho.

Teatro Candido Mendes:Rua Joana Angélica, 63 – Ipanema

Telefones:2523-3663.

Dias e horários: Sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 19h.

Ingressos: R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia).

Lotação: 103 pessoas

Duração: 1h

Classificação indicativa: Livre

Funcionamento da bilheteria: Diariamente, a partir das 14h.

Vendas online: https://ticketmais.com.br/