“Mulheres à beira de um ataque de nervos” chega ao Rio de Janeiro com a união de intensidades entre Pedro Almodóvar e Miguel Falabella


Se as mulheres de Almodóvar são um clássico, nas mãos de Falabella e suas protagonistas Marisa Orth, Stella Miranda e Helga Nemeczyk, elas ganham vida e drama. “É uma peça de e para mulheres. Os personagens masculinos são pano de fundo”, disse Miguel

Misture um clássico retrato das mulheres de Pedro Almodóvar com a direção caprichosa de Miguel Falabella, outro grande entendedor da alma feminina, e, nesse caldeirão, acrescente atuações brilhantes de Marisa Orth, Stella Miranda e Helga Nemeczyk. Assim é o espetáculo “Mulheres à beira de um ataque de nervos”, que chega ao Rio de Janeiro no dia 5, sábado, no Teatro Oi Casa Grande, depois do enorme sucesso em São Paulo. No palco, a vida das personagens Pepa, Lúcia e Candela se cruzam com muito drama de mulheres que chegam ao limite psicológico – mas, como não poderia deixar de ser, de forma bem-humorada. E é “uma peça de e para mulheres”, de acordo com Miguel Falabella. “Os personagens masculinos são pano de fundo, como o Ivan (Juan Alba), que é muito interessante. Ele aborda a sexualidade do macho latino que está sempre vendo a próxima mulher que vai pegar, mas, ainda assim, não é um personagem dramaturgicamente tão desenvolvido. A peça, assim como o filme, é escrita para as mulheres. Que eram as mulheres de Almodóvar”, explicou Miguel, que não precisou “abrasileirar” as personagens para trazê-las ao Brasil.

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Stella Miranda, Miguel Falabella e Marisa Orth (Foto: Alex Palarea/AgNews)

“As atitudes delas já são extremadas e muito latinas. A peça se passa em Madri, ou seja: são espanhóis, latinos, parecidos conosco. Nos Estados Unidos essa história não funcionou tão bem talvez por que as americanas não entendam tanto isso de sair de madrugada, chamar a amiga, ver se o carro do cara está na garagem. Americano não faz isso, põe um advogado, entra com um processo e pronto”, analisou. Marisa Orth contou que desde que viu o filme, na década de 80, tinha o desejo de interpretar Pepa. “Desculpe pelo chavão, mas essa personagem é um presente. É um papel que gosto e um prazer ser eleita para isso. É comédia pura, mas a Pepa está sempre sofrendo”, adiantou ela. Explicamos: a personagem é uma atriz que se vê abandonada pelo amante Ivan, com quem tinha uma relação de 19 anos. É que Ivan era casado com Lúcia (Stella Miranda), que estava internada em um hospício durante todo esse tempo. “A peça começa com Pepa tomando fora pela secretária eletrônica de um homem que ela viveu 19 anos, grande amor da vida dela. Ela foi amante, porque ele era casado com a internada”, contou Marisa.

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A cena que abre o espetáculo é “Madrid” (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Stella, que estreia na temporada carioca – em São Paulo, Lúcia foi vivida por Totia Meirelles – contou que a sua composição da personagem é diferente. “Entrei com responsabilidade, pedindo licença para Totia, que fez lindamente em São Paulo. Quando vi o filme, a imagem da Lúcia ficou na minha cabeça. A esposa traída, louca de amor, com revólver na mão, na década de 80, sendo que ela foi abandonada em 60, foi para o hospício e ficou lá 19 anos, então meio que ainda vive nos anos 60, elegante, fora de época. A Lúcia é quase um monólogo do delírio. Fico feliz de fazer a louca de amor. Muito bom poder entrar no delírio de Almodóvar com o do Falabella. Peguei o trem andando e a minha Lúcia certamente é outra…. mas tomara que seja legal”, torceu. Na verdade, Stella era a primeira escolha de Miguel para o papel. “Ela foi a primeira a ser convidada, mas a agenda não permitiu. A Totia fez brilhantemente, mas é maravilhoso. As duas são incríveis”, elogiou o diretor. “O Miguel tinha me chamado praa fazer esse papel da louca de amor, mas na época não deu. Porque a roda do destino gira, era para eu fazer, ele me convidou para a temporada do Rio e eu estou aqui”, disse.

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Carla Vasquez, Ivan Parente, Daniel Torres, Stella Miranda, Marisa Orth, Helga Nemeczyk, Erika Riba e Juan Alba (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Pois bem, a personagem “louca de amor” contrata a advogada Paulina Morales (Erika Riba) e resolve se vingar do ex-marido nos tribunais depois de ter sido deixada. “A personagem surpreende a plateia, pois entra como advogada da Lúcia que processa o Ivan e, lá na frente, entendemos que na verdade ela é a próxima vítima dele. É uma personagem que tem surpresas, viradas, tem um discurso feminista, tem uma ambiguidade grande, que é bacana exercitar para uma atriz”, contou Erika. “É interessante a composição do espetáculo. A primeira mulher casou, teve filho, foi abandonada e internou. Aí vem a segunda, que é dubladora, amante e também é traída pela terceira, que é a advogada, que defende a Lúcia contra o Ivan. O Almodóvar faz três mulheres de gerações diferentes, que, mesmo sendo de outros tempos, caem na lábia do mesmo homem. É triste, nada muda. Engraçado para dar uma refletida e superatual”, constatou Marisa.

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O taxista e o elenco em cena (Foto: Alex Palarea/AgNews)

A personagem de Marisa tem uma melhor amiga, Candela, vivida por Helga Nemeczyk. Candela é uma aspirante a modelo muito desajeitada e ingênua que também se vê “à beira de um ataque de nervos” quando se apaixona por um terrorista. “A partir daí, ela corre para a Pepa para pedir conselhos! Imagine. Ela conhece um homem na boate, leva para casa, ele é maravilhoso. No dia seguinte, ele coloca um cinto com granadas e ela fica louca, começa a ligar para a Pepa, deixa milhões de recados na secretária. Quando ela chega na casa da amiga, ainda vê no jornal a cara do homem, procurado pela polícia. Enlouquece. No final das contas se apaixona por outro, porque ela se apaixona fácil”, resumiu Helga, que emagreceu 15kg para a personagem. “Foi um processo maravilhoso. O Miguel me convidou e disse que só faria se emagrecesse… e se não emagrecesse metade até o começo dos ensaios o papel não seria meu”, contou, aos risos.

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“Mulheres à beira de um ataque de nervos” (Foto: Alex Palarea/AgNews)

No meio do furacão, Ivan é “o único do espetáculo que não está à beira de um ataque de nervos”, de acordo com seu intérprete Juan Alba. “Ele é um conquistador compulsivo, ‘latin lover’. Deixa as mulheres enlouquecidas, mas é sempre na cabeça delas que a coisa fica maior. É um trabalho incrível para mim, estou cantando em um registro que não imaginei que conseguisse e atuando ao lado desse elenco de primeira. Trabalhar com o Miguel era um desejo enorme também”, contou. Ainda no lado masculino da história, o taxista vivido por Ivan Parente é uma espécie de observador dessas mulheres quase surtadas. “Meu taxista tem um pouco de psicólogo, fala muito com as mulheres. Ele tem cenas com a Pepa que está sempre com mil questões. O taxista dá lições e cita provérbios. É um personagem legal que intermedia o espetáculo, apresenta as personagens, o mundo do Almodóvar”, explicou.

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Juan Alba é o “latin lover” Ivan (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Além dele, Carlos (Daniel Torres), filho de Lúcia, é o homem responsável por viver o lado masculino de um dilema no palco. Trata-se de sua primeira noite de amor. “O Carlos é filho de uma mulher absolutamente desequilibrada. É um personagem muito legal, porque dos homens é o que está mais perto de estar à a beira de um ataque de nervos. Ele se afeta com os ataques das mulheres em volta dele. É bonzinho demais, muito tenso. Elas gritam com ele, ele sofre. Ele é noivo de Marisa (Carla Vasquez) e quer a primeira noite de amor e não consegue, é frustração. Tadinho”, contou ele, que já tem intimidade de outros trabalhos com Miguel Falabella. “Também já trabalhei com a Stella em ‘Toma lá, dá cá’. Aliás, essa peça é muito importante, porque é um momento de muitos reencontros para mim. Tem a Marisa, a Helga…”, listou.

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O casal Marisa e Carlos (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Assim, entre amigos, é o clima dos bastidores, enquanto no palco a tensão impera. “O legal dessa peça é que é literalmente no limite de todos nós. Todos estão em situações-limite. É interessante ver a maneira como nos relacionamos mal com o afeto, reagimos à rejeição. As latinas tem uma forma mais extremada ainda. Gosto também de como musicaram. É uma comédia vaudeville, de erros. As canções são lindas, o compositor americano ficou buscando latinidade na sonoridade da música, então passa por diversos ritmos: mambo, bossa nova, tudo entrou na composição”, contou Miguel, que gosta de falar de mulheres: “Elas verbalizam mais do que os homens. Para quem vive de palavras,  isso é fundamental”, disse. E como!

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A amizade entre o elenco e Miguel Falabella durante a coletiva no Rio de Janeiro (Foto: Alex Palarea/AgNews)

Serviço:
Período: 05 de março a 08 de maio de 2016
Local: Teatro Oi Casa Grande (Shopping Leblon – Rua Afrânio de Melo Franco, 290 – Leblon, RJ)
Horários: Sexta 21h; Sábado 17h30 e 21h30; Domingo 17h30
Duração: 2h30 (com intervalo)
Capacidade: 926 lugares
Preços dos ingressos R$50 a R$180
Vendas pela bilheteria do Teatro Oi Casa Grande (aberta de terça a domingo, a partir das 15h), sem taxa de conveniência. Pela internet no site www.ingresso.com, com taxa.
Classificação etária: 12 anos
Mais informações: (21) 2511-0800