Ludmila Wischanky interpreta uma mulher que perdeu a memória na peça ‘Branca’ que foi patrocinada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro


Família e amigos sofrem pela doença da mulher que não se vê mais na realidade que tinha antes. O espetáculo teve temporada prorrogada de 2 a 26 de junho na Sede das Cias, na Lapa

‘Para sempre’, ‘Como se fosse a primeira vez’, ‘Como não esquecer essa garota’, ‘Diário de uma paixão’ e, até mesmo, ‘Procurando Nemo’ são filmes que retratam a vida de uma pessoa que perdeu a memória. De formas diferentes, o tema é abordado de forma a mostrar todas as dificuldades de um ser sem passado. A peça ‘Branca’, escrita por Walter Daguerre, fala exatamente deste assunto trazendo uma visão completamente diferente desta doença. Ao acordar de um coma por choque anafilático, a personagem de Ludmila Wischanky não se lembra da sua história e renega a realidade a qual é apresentada. Filhos, maridos e amigos são pessoas estranhas que ela não entende como podem um dia ter feito parte de sua vida e, por isso, a mulher resolve encontrar um novo caminho. “Nós mergulhamos no inconsciente desta pessoa para tentar explicar o motivo de ela não conseguir se encaixar naquela família mais. Uma frase da peça diz que ela não entendia as escolhas que a levaram a ser o que as pessoas dizem que é, por isso a gente tenta falar de algo mais subjetivo, em um plano mais humano e delicado”, explicou a atriz Ludmila.

A peça, agora, será exibida no mês de junho no Teatro Sede das Cias, devido a questão de agenda. No mês de maio, o espetáculo foi exibido no Glaucio Gill com grande público. “Branca” é patrocinada pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, Secretaria Municipal de Cultura por meio da Lei Municipal de Incentivo à cultura – Lei do ISS e conta com o apoio institucional do Governo do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura. A captação de dinheiro foi feita há três anos, mas teve a execução adiada por vários motivos diferentes. A atriz afirmou que se não tivesse arrecadado antes o dinheiro, talvez o espetáculo não estaria acontecendo agora. “A situação da cultura está bem difícil, não tem como manter nem copo descartável. O teatro é um ato de resistência que acho muito bom que estejamos em cartaz. É preciso estar em cartaz mesmo para mostrar que estamos aqui”, afirmou.

Poster da peça Branca (Foto: Divulgação)

A peça foi montada em um mês e meio, por isso os atores não tiveram muito tempo para procurar outras referências, além do texto e direção. No entanto, para Ludmila, o pouco tempo não prejudicou o espetáculo devido à química do elenco composto por José KariniJulia Stockler e Karen Coelho. “A equipe é muito comprometida, todos te olham e já sabem o que você quer e mostra que estamos juntos”, complementou.

(Foto: Renato Mangolin)

A troca de olhares é importante em uma época em que o mundo é muito globalizado unindo em um só lugar várias informações diferentes. Segundo Ludmila, é importante que utilizando a arte possamos questionar nossas decisões. “Somos afetados por uma avalanche de informações que, às vezes, não temos tempo de pensar quem somos diante de tudo isso. A gente tenta questionar isso e os valores e afetos. É doloroso e bonito ver uma mulher que abre mão da vida por causa de uma nova, sem se julgar moralmente. Não queríamos julgar as escolhas da personagem, temos que entender que podemos fazer escolhas que fujam do lugar comum. É uma desconstrução de um sujeito”, contou.

Na peça, família e amigos sofrem com o estado da mulher (Foto: Renato Mangolin)

Apesar das atitudes dessa mulher não terem sido questionadas pelo elenco, no próprio texto há uma pessoa que funciona como uma espécie de consciência. A psicóloga introduz ela no mundo tentando localizá-la. “A psicóloga ajuda essa mulher a achar um caminho, um norte, utilizando técnicas de hipnose, tentando trazer a razão. Ao mesmo tempo, elenca a estrutura de uma pessoa que está buscando sua identidade independente dos conceitos morais de família, mulher e mãe”, comentou a atriz.

(Foto: Renato Mangolin)

De uma coisa a atriz está segura, todos saem tocados do espetáculo. A certeza dela existe porque a mesma se sentiu muito impressionada quando leu pela primeira vez o roteiro ao lado do diretor. “Esse texto saiu de uma pesquisa feita por mim e pelo Ivan, o diretor. Queríamos encontrar um roteiro que nos tocasse e amamos desde o primeiro momento, foi um presente enorme. Sempre quis falar do feminino e, esse texto, traz a mulher em um lugar diferente de escolha. Um lugar bem sutil sem discutir os direitos de forma institucional. Traz uma visão poética e sutil desse mundo”, comentou.