Izabella Bicalho, ex-Narizinho do Sítio do Picapau e hoje no teatro como mãe de Sidney Magal, vai ser avó aos 50 anos


A atriz, que, na década de 80 deu vida à personagem de Monteiro Lobato, hoje é uma das principais estrelas dos musicais no Brasil. Ela está no espetáculo “Quero Vê-la Sorrir!”, como a mãe do cantor Sidney Magal e se prepara para show com repertório de Maria Bethânia. Na TV, está em Sob Pressão. Na vida particular, vibra bastante com a gravidez da caçula de seus quatro filhos. Sobre programação infantil na TV ela afirma: “Estamos com uma grande maioria de conteúdo superficial e poucas ações realmente que educam as crianças”

* Por Carlos Lima Costa

A atriz e cantora Izabella Bicalho, eterna Narizinho, do Sítio do Picapau Amarelo, que sucedeu Rosana Garcia e Daniele Rodrigues no emblemático personagem do clássico programa infantil exibido nos anos de 1970 e 1980, vive um momento de euforia profissional e pessoal. Estrela de musicais, ela faz sucesso interpretando dona Sônia, mãe de Sidney Magal, no espetáculo “Quero Vê-la Sorrir!”, que retrata a trajetória do cantor. Na TV, faz participação na quinta temporada da série Sob Pressão, no Globoplay. No âmbito pessoal, ela se prepara para ser avó pela primeira vez. O nascimento do netinho está previsto para dezembro, dois meses depois de ela celebrar seus 50 anos de vida, em outubro.

Izabella é mãe de Flora, 33 (filha de criação), Taoã, 30, Tainá, 29 (única na área artística, é foquista, integra a equipe de câmera do cinema), e da caçula, Maria Ingrid, 24, que está grávida. “Estou muito feliz que vou ser avó. Agora, ela não quer saber o sexo, vamos morrer de curiosidade até o nascimento (risos)”, conta ela. Sobre o meio século de vida, em 5 de outubro, não tem do que reclamar. “Estou em uma fase bem importante, bem criativa, com bons parceiros de trabalho. Eu posso dizer que vou comemorar os meus 50 anos com louvor”, assegura.

Izabella Bicalho, prestes a fazer 50 anos, brilha no musical Quero Vê-la Sorrir! e vai ser avó (Foto: Claudio Rebelo)

O espetáculo musical Quero Vê-la Sorrir!, onde desde a estreia costuma ser aplaudida de pé ao cantar a clássica Se Todos Fossem Iguais A Você, de Vinicius de Moraes (1913-1980) e Tom Jobim (1927-1994), também a deixa radiante. “Sou superfã do Magal, me identifico com a música dele, cantei muito, por exemplo, Sandra Rosa Madalena e Meu Sangue Ferve Por Você. Mas nunca tive contato pessoal com ele, infelizmente. Para me preparar para a peça, eu li a biografia (Sidney Magal: Muito Mais que um Amante Latino, de Bruna Ramos da Fonte), na qual em mais de 100 páginas, ele cita a mãe, uma figura muito forte na vida dele. A partir desse livro, montei o perfil da mãe dele, da personagem que eu faço ali. E usei também minha experiência materna”, frisa.

Izabella encontra semelhanças entre ela e a mãe de Sidney Magal, que no musical é interpretado por Marcio Louzada. Dona Sônia era superprotetora, apoiava e incentivava o filho na busca por um espaço na área artística. “Ela tinha alguns exageros, mas a principal mensagem dela é a minha também enquanto mãe. É importante abrir mão de projetar nos filhos os nossos desejos, apoiá-los nos sonhos deles é fundamental e deixar que floresçam da forma mais espontânea e orgânica. Sônia foi uma mãe que apoiou o filho, que gostava de subverter, como vestir roupas extravagantes e a afinidade com à estética cigana. Em nenhum momento, ela criticou ou condenou. O resultado foi maravilhoso”, ressalta. Depois do Rio, o espetáculo vai ter uma pequena turnê.

“É importante abrir mão de projetar nos filhos os nossos desejos e apoiá-los nos sonhos deles”, ressalta Izabella (Foto: Claudio Rebelo)

Um dos grandes nomes dos musicais brasileiros, Izabella tem em seu currículo espetáculos como Gota D’ÁguaBilac Vê Estrelas e Elizeth, A Divina, no qual interpretou a protagonista, a cantora Elizeth Cardoso (1920-1990), uma das maiores intérpretes da música brasileira. A atriz também realiza shows, como o Baile da Bicalho, onde presta tributo a grandes estrelas da canção, como Beth Carvalho (1946-2019) e Dalva de Oliveira (1917-1972). O próximo está programado para o dia 30, em Marechal Hermes, Zona Norte do Rio. E já prepara novo show, Bicalho Canta Bethânia, com músicas do repertório de Maria Bethânia, como Carcará e Grito de Alerta. “Depois vai virar uma peça”, adianta.

Marcio Louzada e Izabella Bicalho, interpretam Sidney Magal e a mãe, Sônia, no musical Quero Vê-la Sorrir! (Foto: Cristina Granato)

A atriz que começou criança, participando de novelas como Coração Alado e Roque Santeiro, onde deu vida a Viúva Porcina adolescente, além da série Sítio do Picapau Amarelo, no papel da Narizinho, explica que o caminho para os musicas aconteceu naturalmente. “Eu sempre tive um bom ouvido, fui afinada e quando começaram a ressurgir os musicais no Brasil, com um boom há uns 20 e tantos anos, eu naturalmente fui me virando para isso. Atores que cantavam tinham vantagem, o mercado foi naturalmente me absorvendo, até que os grandes personagens começaram a vir”, conta ela, que tem dois álbuns lançados, o EP Ilusão, além de 100 anos de Elizeth Cardoso, com releituras de sucessos.

Izabella Bicalho é aplaudida em cena aberta no musical sobre Sidney Magal (Foto: Cristina Granato)

Quando atuou na clássica versão de Sítio do Picapau Amarelo, no início da década de 80, as TVs abertas tinham forte programação infantil. “Mudou tanto. Com o advento das TVs a cabo, há canais exclusivos para as crianças, mas não com o acesso que tinha antes, então, ficaram prejudicadas as classes menos favorecidas. E caiu muito a qualidade. Estamos com uma grande maioria de conteúdo superficial e poucas ações realmente que educam as crianças. Todo mundo muito ligado em ganhar seguidor e poucos ligados em instruir. Mas tem gente fazendo. A própria bisneta do Monteiro Lobato (1882-1948), herdeira do Sítio está tendo uma preocupação enorme agora em revitalizar a obra dele, em revisar, tirar os termos racistas e relançar de forma modernizada para que o conteúdo do Sítio fique acessível às crianças de hoje em dia e adaptado aos novos tempos. Isso é sensacional”, comenta.

Izabella Bicalho na época em que interpretava a Narizinho, no Sítio do Picapau Amarelo (Foto: Arquivo Pessoal)

Ela explica que o difícil hoje em dia é conseguir controlar o que o filho está vendo. “É tanta oferta. O dedinho vai passando na tela do celular de forma tão rápida, que você não consegue saber o que seu filho está vendo. A grande tarefa é conseguir direcioná-los para os conteúdos de qualidade. Fazer uma filtragem disso virou tarefa hercúlea. Se eu fosse mãe de criança, hoje, um caminho seria continuar trabalhando um horário de qualidade com os filhos. Eu sempre trabalhei muito, mas sempre separei um tempo, pequeno que fosse, para estar com meus filhos, estabelecer atividades, um tempo de qualidade, onde lhes dava 100% de atenção. Moro em uma rua sem saída e não vejo criança nenhuma brincando aqui, enquanto meus filhos cresceram brincando nessa rua. Todo mundo, em geral, ficou acomodado com a babá eletrônica (celular) que agora está acessível a mão. Então, vale a pena quando se esforçar e dar atenção aos filhos”, reflete ela, que achava divertidíssimo trabalhar durante a infância.

“Sou muito noveleira e tenho uma memória afetiva grande com as novelas, principalmente trabalhando quando criança. Eu adorava estar no meio artístico, decorar texto, interpretar. Foram dois anos de sítio, um trabalho bem puxado, mas era prazeroso”, recorda ela, cuja mais recente aparição na TV foi na novela Gênesis, da Record, ano passado.

“Na televisão, estamos com uma grande maioria de conteúdo superficial para as crianças e poucas coisas realmente que educam”, frisa Izabella (Foto: Claudio Rebelo)

Sobre todo esse período pandêmico, ela aponta que a pandemia trouxe grandes lições para o mundo. “Pelo menos, para quem quis aprender. Eu aprendi sobretudo o sagrado tempo de você cuidar de si, parar um pouco a correria do dia a dia e olhar para as suas necessidades, não deixar que a pressa e a complexidade de tudo que você tem para fazer te engulam e sejam mais importantes do que o seu bem estar e a sua saúde mental, física e espiritual”, reflete.

E é com a mesma perplexidade e indignação de todos, que ela encara também os desdobramentos dos assassinatos do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips, no Vale do Javari, oeste do Amazonas. “Isso lembra a ditadura, onde reina a política da crueldade, do banditismo e da violência. É isso aí que a gente está vivendo. O assassinato dessas pessoas é o retrato disso”, enfatiza.

Diante de tantas mazelas no país, Izabella deposita esperanças de um Brasil melhor na eleição presidencial, no próximo mês de outubro. “Espero que as pessoas tomem consciência e parem simplesmente de escolher seus candidatos por informações que chegam no WhatsApp e passem a se informar, a entrar nos sites oficiais, colher dados verdadeiros, porque na última eleição foi eleito um presidente totalmente equivocado, absurdo e desvalorizador do humano, só trouxe coisas horrorosas para nós. Era só ter olhado que no histórico dele não tinha nada de bom. Nunca conseguiu aprovar nada que prestasse em todos os anos na vida política. Ainda tivemos que enfrentar a pandemia no meio do caminho. Isso agravou ainda mais a situação. A conclusão é que 60% da população está abaixo do nível de pobreza. É só andar pela cidade e ver a quantidade de moradores de rua. Isso é fruto da má escolha dos governantes. Em vez de ficar só a picuinha, é esquerdopata, é bolsominion, se informem antes de escolher seus candidatos. Quem o elegeu, pelo amor de Deus, devia ter vergonha. Sem projeto social não há como um país subdesenvolvido ir pra frente”, finaliza.