Exclusivo: do sumiço das novelas à Lei Rouanet, Vera Fischer comenta: “Patrocínio virou o enredo principal de um projeto teatral”


Antes de encenar a peça “Relações Aparentes” em Vitória (ES), a atriz conversou com HT e falou também sobre a felicidade depois dos 60: “Faça aquilo que você gosta de fazer, respeite o próximo, seja coerente com você mesma. Não deixe que o tempo embace valores que outrora você acreditou”

Nove anos. Por esse tempo Vera Fischer ficou longe da ribalta, desde que agradeceu os aplausos na última sessão da peça “Porcelana Fina”. De lá para cá, à toa ela não ficou. “Fiz muitas coisas nesse período: escrevi livros, pintei, expus e gravei novela”. Ocupações bem ajudaram na década de ausência, mas há uma culpa específica. “Esse hiato talvez tenha sido consequência das dificuldades de se produzir hoje em dia no país. Tive alguns projetos que não vingaram por agendas e outros por patrocínios”, admite a atriz em entrevista exclusiva ao HT. Mas como para Vera “tudo tem o seu tempo e a sua hora”, ela, agora, volta a viver entre coxias viajando com “Relações Aparentes” ao lado de Tato Gabus Mendes, Michel Blois e Anna Sophia Folch.

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Sob direção de dupla Ary Coslov e Edson Fieschi, Vera embarcou em um texto que, passado na Inglaterra de 1965, narra mal entendidos de dois casais, sendo acalentador (ou assustador, fica a critério do caro leitor): o chifre é da idade da pedra, babies. “O que seria de Shakespeare sem a traição? Ela sempre foi presente, tema de grandes enredos, de tragédias de obras-primas”, parece aceitar Vera, já ligando o sinal amarelo no meio do raciocínio. “Mas uma coisa é ficção outra é a realidade. Para mantermos a conduta do comportamento humano, esses fiéis das balanças têm que estar equalizados, caso contrário, a humanidade não resistiria. Em particular, acho que ser fiel é ser coerente consigo mesmo, ser consistente do início ao fim”, analisa cheia da positividade: “Eu vejo esperança em um mundo fiel”.

A comédia, que será encenada no Teatro da UFES, em Vitória (ES), nos dias 7 e 8 de novembro, tem uma característica que Vera adora: roteiro sem palavras de baixo calão. Para ela, o público se ofende. “O texto é o que podemos chamar de comédia perfeita, onde a trama e os personagens, aliados à situação, são suficientes para entreter, divertir, mas sem subestimar o público. E, quando isso é perfeito, não se sente falta de palavrões ou expressões de apelo popularescos”. A peça, então, é pudica? “Pelo contrário. O texto é bastante reflexivo quanto ao casamento, discute, através do humor, questões muito atuais. Agora, se o mundo está politicamente correto, talvez sim, só um pouquinho, para não se perder as rédeas”.

Palavras de quem, aos 63 anos, não tem medo do tempo. “Mas ficar gorda até que dá para driblar”, gargalha a atriz. “Acho que todos nós tentamos driblar, retardar todo esse processo. O que acho válido e apóio. Mas não podemos esquecer também de que a mente, essa sim, só envelhece se você quiser. Então, acho que nessa todo investimento deve ser feito”, aconselha. Quando o assunto é sua própria estrada de vida, Vera leva tudo às mil maravilhas. “Você diz quando eu envelhecer? Pelo Estatuto do Idoso eu já cheguei lá! Brincadeiras à parte, me sinto jovem, com muita energia, disposta para o trabalho, atrair meu público que sempre me prestigiou e me deu carinho. E se continuar a assim, que venha o tempo, a gente acaba se entendendo”, ameniza.

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O que nos deixa mais à vontade ainda para saber o segredo da felicidade pós 60. “Faça aquilo que você goste de fazer, respeite o outro, seja coerente com você mesma. Não deixe que o tempo embace valores que outrora você acreditou. Viva! E deixe viver!’, dá aula. Nessa leva de curiosidades, HT aproveitou para colocar tudo em pratos limpos. Como, por exemplo, a história que ela retornará à Globo em uma produção humorística. “Esse é um grande desejo meu, já que sempre fui convocada para papéis mais intensos e dramáticos. Recebi há pouco tempo um convite pra fazer o ‘Tomara Que Caia’, uma experiência interessante dada a formatação do programa, mas, infelizmente, coincidiu com a temporada do espetáculo”, conta.

E é verdade que você tem dez livros na gaveta pronto para chegar às livrarias? “Tenho alguns para serem lançados e outros tantos já em andamento. Escrevo porque gosto, por necessidade minha, nunca fiz com pretensões literárias”, explica Vera, que fala de mulheres estranhas e em que possa se encontrar. “Também falo do amor, dos encontros e desencontros da vida da gente. Tudo sempre com muito romantismo, sagacidade, humor, pois é assim que eu vejo a vida”. Mas, afinal, vai lança ou não? “Não tinha pensado sobre isso. Mas se eu tocar um único coração que seja, acho que terei cumprido meu objetivo”, filosofa.

Da literatura para às televisões, Vera Fischer está desde 2012 longe das novelas globais. Pausa comum na vida de atores, segundo Vera, que, novamente, justifica estar “embrenhada em outros projetos”. “O fato é que eu, depois de 37 anos contratada da TV Globo, ter feito grandes sucessos, posso desfrutar de avaliar o que quero fazer. Recebi alguns convites até bem interessantes, mas, no momento, eram incompatíveis com outros projetos particulares”, esclarece. Dentre tantos, HT soube de uma tragédia que a atriz tentou estrear nos palcos, mas que não conseguiu por causa da dificuldade na captação de recursos permitidos pela Lei Rouanet. E, quando esse é o assunto, é melhor deixar Vera falar.

“Essa historia de patrocínio virou o enredo principal de um projeto teatral. Mais às vezes do que o próprio ato teatral. E isso é muito perigoso, foge do nosso objetivo principal. Talvez esses mecanismos tenham que ser reavaliados para que o artista não fique tão a mercê dos desejos do mercado. Agora estamos afundados numa crise econômica, política, quase institucional, e o lado mais fraco da economia, no caso do Brasil, a cultura, se ressente muito”, dispara, novamente, com perfume de esperança. “Mas o teatro é guerreiro! Desde que o mundo se reconheceu como civilização ele está aí. Pode até vergar, mas não tomba! Ainda bem”. Tipo Vera Fischer. Pode até balançar. Mas não cai.

Serviço

“RELAÇÕES APARENTES” nos dias 07 e 08 de Novembro de 2015

Com VERA FISCHER E TATU GABUS MENDES

Local:Teatro Universitário – UFES

Endereço:Av. Fernando Ferrari, 514 – Campus da UFES – Goiabeiras – Vitória (ES)

Horários: sábado, às 20h / domingo, às 20h

Informações: UFES: 27 3335 2953 / WB 27 3029 2765

Ingressos: Setor A – R$ 90,00 (inteira) e R$ 45,00 (meia)

Setor B – R$ 70,00 (inteira) e R$ 35,00 (meia)

Mezanino – R$ 50,00 (inteira) e R$25,00 (meia)

 

Horário de funcionamento bilheteria:de terça a sexta, de 15h às 20h.