“Eu não conheço nenhuma mulher que não tenha sofrido agressão”, afirma Karine Teles


A atriz atua em “Os últimos dias de Gilda”, no Teatro Maria Clara Machado. Com apenas três apresentações, de hoje a domingo, dia 17, o monólogo dirigido por Camilo Pellegrini volta aos palcos 15 anos depois, com um amadurecimento da personagem e do texto

*Por Rafael Moura

“Gilda fala desse lugar da violência sofrida. Ela começou a reagir e a entender essa mudança e o amadurecimento, a permanência, a paciência”, comenta a atriz Karine Teles logo no início do nosso papo. ‘Os Últimos Dias de Gilda‘ conta a história de Gilda, uma talentosa cozinheira, que quer mudar o mundo e acha que quem mais precisa aprender são os homens — então, dá a eles colo, comida, carinho e… algo mais. Por isso, passa a ser agredida pela vizinhança. Com foco na intolerância, o espetáculo questiona o direito à liberdade de ser diferente e a violência que enfrentam os que têm coragem para tal.

A montagem que fica em cartaz neste final de semana, no Teatro Maria Clara Machado, no Planetário da Gávea, Rio de Janeiro, volta aos palcos 15 anos depois. “A sensação é de recomeço. Estamos partindo do zero. Temos muito carinho desde os tempos do Carlos Gomes, lá em 2004”, lembra Karine quando fez o monólogo pela primeira vez entre seus 24/ 25 anos e já pensava: “quando eu for mãe, eu quero interpretar esse texto de novo. Hoje, eu conheço esse texto e a Gilda como mulher”. O diretor Camilo Pellegrino conta que hoje à mais fácil fazer esse texto pelo amadurecimento dele e da atriz e ressalta “nas primeiras sessões, nós éramos desconhecidos”.

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“O Camilo é um diretor que trabalha muito bem, ele vai dando corda e deixa acontecer. Nós somos muito amigos. Cada apresentação é única”, explica a atriz. “A proposta parte da emoção, ainda mais num monólogo em que a ator precisa ter o todo o domínio da cena”, conta o diretor.

O autor Rodrigo de Roure escreveu esse texto especialmente para a Karine apesar de ter feito uma homenagem à mãe e à avó dele. “Por mais que tenha sido escrito por um homem, ele tem uma enorme sensibilidade. O Rodrigo conseguiu atingir esse íntimo. Eu acredito que um homem pode ser feminista sim. É uma homenagem à mãe dele”, afirma Karine e enfatiza que o texto está sendo montado no México, na França e já foi traduzido para o alemão.

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“O teatro está morrendo, estamos sendo bombardeados pelos blockbusters. No teatro, vemos um público que valoriza a presença”. E Karine Teles completa:  “Estamos nas trevas para as artes. Parecem tática de controle de massa. Quase a tentativa de uma volta à Idade Média. Um momento importante para reflexão e iluminação. As pessoas entenderem novos assuntos”.

“Os meus filhos gêmeos, tem oito anos, nós temos um diálogo super aberto, eles adoram teatro, cinema. Eles adoram ir ao teatro (Karine descobriu que eles estão organizando um espetáculo no colégio, mas não quiseram contar detalhes para a mãe). Temos um diálogo super aberto. Eles ficam curiosos para ver a peça, mas ainda não é o momento de expor as crianças aos dilemas da Gilda”, afirma Karine. E acrescenta: “Eu não conheço nenhuma mulher que não tenha sofrido violência. Há um tempo atrás era normal os homens baterem nas mulheres. Elas sempre foram propriedades dos pais e dos maridos. É daí vem a tradição do pai levar a filha ao altar. Hoje em dia, eu entendo a Gilda, porque eu amadureci, sinto essa violência como mulher”.

A peça que tem cenografia de André Sanches e produção de Gabriel Bortolini em breve estará no Canal Brasil. Karine conta que serão quatro episódios, gravados em novembro de 2018. A série ampliou os significados, na TV ela ganha cara e corpo. “Esperamos que a série na TV as pessoas tenham mais curiosidade e interesse de rever a peça também”, conclui Karine.

Serviço

Local: Teatro Maria Clara Machado – Av. Padre Leonel Franca, 240 – Gávea – Rio de Janeiro.

Datas: 15 a 17/3. Sexta e sábado, 21h. Domingo, 19h.

Ingressos: R$40,00 (inteira), R$20,00 (meia-entrada). Classificação: 14 anos.

Informações: (21) 2274-7722