Estreando nos palcos, o escritor Eduardo Bueno admite: “Eu sou um provocador!”


Dono de muita opinião e de uma carreira de enorme sucesso, Peninha falou também sobre ser jornalista na ditadura: “Aprendi a escrever dissimuladamente”

O jornalista Eduardo Bueno estreou ontem (29) no teatro com o espetáculo Não vai cair no Enem- Uma Peça, no Rio de Janeiro.  Tratando de acontecimentos da história do Brasil de forma mais leve, o escritor que é conhecido como Peninha, é autor do roteiro, da pesquisa de conteúdo e da condução da peça. Depois de lotar a noite de estreia, Eduardo contou ao site HT algumas das suas várias histórias em torno dos seus mais de 40 anos de carreira. Além de, é claro, falar sobre esse novo projeto nos palcos, fruto do seu canal no YouTube.

O amor pela história vem desde os 10 anos de idade e hoje, percorre toda a vida de Eduardo (FOTO: Denise Dambros)

Quem conhece Peninha, sabe o quanto ele tem opinião de sobra para dar, principalmente quando o assunto é o Brasil. Com uma vontade imensa de ser escritor e um amor enorme pela história desde os 10 anos de idade, ele resolveu que seria jornalista, já calculando um futuro mais distante. “Meu principal interesse sempre foi escrever. Só que começar como escritor não dá, então jornalismo foi o caminho mais natural. Acabei sendo fisgado pela profissão e virei 100% jornalista. Só depois, quando eu achei que já estava dominando a minha técnica de escrita, eu resolvi escrever livros de história do Brasil, mas com um viés mais light.”, afirmou.

Apesar de ser um caminho natural para o objetivo que tinha em vista, exercer o jornalismo não foi fácil, já que por muitos anos, fez seu trabalho no período ditatorial. “O Censor do governo militar ficava dentro da redação. As matérias eram entregues pro chefe e o chefe entregava para ele, que decidia o que passava ou não”, explicou o jornalista, que muitas vezes driblou a censura. Trabalhando na parte esportiva, Peninha fez uma matéria na cobertura da copa de 1978 que ficou conhecida nacionalmente. “Ali era bem mais fácil passar os ‘contrabandos’, burlar a censura. Teve uma copa, por exemplo, que eu fiz uma reportagem chamada ‘O que leem os craques’, perguntando aos jogadores brasileiros quais eram as suas leituras. Eu fiz uma abordagem política, da questão de o futebol ser manipulado na ditadura. Só que foi nas entrelinhas, claro. Para mim, aquilo foi uma esgrima, um aprendizado. Aprendi a escrever dissimuladamente.”, admitiu.

Sucesso na imprensa e também com a venda de seus livros, que já alcançaram mais de 1 milhão de exemplares vendidos, Eduardo é promissor também em seu canal no YouTube.  Chamado Buenas Ideias, o projeto contém vídeos com um viés bastante opinativo sobre a história do Brasil e possui mais de 300 mil inscritos. Quando questionado sobre o que o levou a criar o canal, ele relembrou o amigo humorista Marcelo Madureira: “Ele dizia ‘você nasceu para internet, você tem que ter um quadro para falar sobre história do Brasil’. Só que por conta dos comentários que muitas vezes são agressivos, eu não queria. Se é para discutir, eu discuto, mas eu não queria perder energia brigando”. E completou em tom de brincadeira: “Ele ficou me enchendo o saco e acabou me ganhando no cansaço”, explicou Eduardo, que aceitou a proposta desde que não precisasse ler os comentários. Apesar de não ficar chateado com os pouquíssimos feedbacks negativos ou agressivos, ele afirmou não ter tempo para respondê-los, mas acredita saber lidar com a situação: “Eu sou um provocador. Quem provoca tem que estar preparado”.

O jornalista se autodenomina como um provocador (FOTO: Denise Dambros)

Mesmo com a rotina apertada, o escritor resolveu colher os frutos mais palpáveis do seu canal no YouTube, embarcando em mais um projeto. Pela primeira vez nos palcos, ele admitiu o nervosismo nas duas primeiras apresentações: “Nos vídeos do meu canal, eu faço tudo na improvisação. Só que quando eu cheguei no teatro, tinha marcação de luz, tinham as deixas para entrar a trilha sonora. Então, é bem mais exigente e eu nunca tinha feito nada assim”. Apesar da ansiedade inicial, ele se diz mais calmo para a apresentação de hoje (30): “Na pré-estreia, eu tinha ensaiado só duas vezes por causa da correria, então fiquei nervoso. Ontem, fiquei um pouco também, mas hoje eu estou bem mais tranquilo. Espero fazer cada vez melhor”.

Com a sinceridade que lhe é característica, admitiu estar orgulhoso do novo espetáculo e afirmou que em 2019 se dedicará a ele. “Nós vamos do descobrimento aos dias atuais de uma forma diferente. É divertido e mais do que isso, é provocador. Essas apresentações agora foram um balão de ensaio, já que a ideia é rodar o Brasil em 2019 com essa peça”, explicou ele, que também pretende lançar um novo livro no ano que vem.

Serviço “Não Vai Cair no Enem – Uma Peça”

Quando: 30 de Novembro

Onde: Teatro XP Investimentos

Av. Bartolomeu Mitre 1110 Jockey Club Brasileiro – Telefone: 3807-1110

Horário: 21 horas

Duração: 1h15

Faixa Etária: 14 anos

Preços: R$ 60,00 (meia – R$ 30,00)