“Era Pra Ser Um Stand Up” levanta reflexão sobre o conflito entre o humor e o drama


A peça é dirigida por Wendell Bendelack e conta, de forma bem humorada, questões entre uma atriz de teatro e um ator de stand up. “Acho que as pessoas têm que ter conhecimento sobre tudo no palco. Ali em cima você naturalmente se transforma em um formador de opinião. Exponha a sua opinião sabendo que alguém pode estar discordando dela, com todo direito. Esse limite do engraçado e desrespeitoso é muito pessoal. Se te machuca, não é humor”, comenta Bia Guedes, pontuando ainda que em sua opinião o stand up não tem um prazo de validade, mas que sim, ele se renova, como todas as outras áreas

*Por Domênica Soares

O espetáculo “Era Pra Ser Um Stand Up” é uma daquelas comédias românticas que todos deveriam apreciar.  A trama se passa no contexto que aborda o embate entre o comediante de stand up, Lelê Sampaio (Aarhon Pinheiro), que atua em um show de humor ácido, com referências sexuais e obscenas, e Rossana (Bia Guedes), uma atriz de companhia de teatro, adoradora dos textos clássicos e ativista de várias causas sociais. A peça, que foi encenada pela primeira vez em janeiro de 2016, traz uma nova montagem sob o olhar de Pedro Henrique Vasconcellos e direção de Wendell Bendelack. O espetáculo está em cartaz no Teatro Vannuci, no Shopping da Gávea, no Rio de Janeiro e vai até o dia 19 de outubro. “São dois artistas de estilos diferentes que se conhecem e de uma forma divertida e bem humorada e um vai alfinetando o outro até se darem conta de que possuem mais coisas em comum do que podiam imaginar. Dirigir essa peça foi só diversão, Aahron e Bia são dois excelentes atores, então o clima era só amor”, frisa o diretor Wendell Bendelack. 

A trama conta a história desses dois personagens. Lelê que ao tentar entrar na companhia teatral de Rossana tem que levantar a provocação de que stand up também é uma forma de humor válida para ocupar as salas de teatro, enquanto Rossana terá que lidar pela primeira vez com alguém fora do seu “mundo ideal” do teatro, com uma formação diferente, ao ponto de possuir um emprego na área de investimentos com o objetivo de garantir mais dinheiro. Nessas idas e vindas, tudo é tratado de uma forma bem humorada, visando levantar questões comuns presentes na atualidade, sem julgamentos, nem bandeiras. O conflito entre a atriz e o ator de stand up são a deixa para o embate e a eterna rixa entre o drama e a comédia e dão o tom necessário para essa produção. Segundo o ator Aarhon, o tema é importante para levar ao públic,o porque é capaz de desmistificar e explicar essa essencial diferença entre teatro e stand up comedy, que também é uma forma de arte e, mesmo sem personagem ou o recurso teatral da quarta parede, ele não deixa de cumprir seu papel na formação cultural e pessoal de qualquer pessoa, trazendo a valorização de todo e qualquer personagem “O Lelê foi um desafio. Temos pensamentos, opiniões e forma totalmente opostas de show. Também sou comediante e humorista e o stand up me inseriu no mundo da arte, por isso, meu imenso respeito. Acho que o Lelê defende essa posição e valor enquanto artista e tira esse estereótipo e preconceito, muita das vezes da própria classe, de que o comediante não conhece da arte e seu valor”, pontua.

Bia Guedes, Wendell Bendelack e Aarhon Pinheiro (Foto: Renato Mangolin)

De acordo com Bia, esse é um momento em que a cultura está sofrendo muitas perdas e falar sobre todos os tipos de arte é sempre fundamental para alcançar novos apoiadores, ainda mais quando essas ações são feitas em forma de diversão. “A Rossana é totalmente do teatro clássico. Não dá crédito para textos novos e defende essa ideia. Mas com o Lelê, personagem do Aarhon, acho que ela vai conseguir entender e acreditar em todos as formas de se fazer teatro”.  Ela conta ainda que nessa peça tem a oportunidade de interpretar textos de Shakespeare e de stand up, e tudo isso contribui muito para a construção de sua carreira. “Acho que as pessoas têm que ter conhecimento sobre tudo no palco. Ali em cima você naturalmente se transforma em um formador de opinião. Exponha a sua opinião sabendo que alguém pode estar discordando dela, com todo direito. Esse limite do engraçado e desrespeitoso é muito pessoal. Se te machuca, não é humor”, comenta, pontuando que em sua opinião o stand up não tem um prazo de validade, mas que sim, ele se renova, como todas as outras áreas. 

Aarhon Pinheiro e Bia Guedes interpretam dilemas entre humor e drama (Foto: Renato Mangolin)

O ator Aarhon conta que, por também trabalhar com stand up, se preocupa muito ao elaborar seus textos com o limite da liberdade de expressão e o respeito ao ser humano. “Na minha opinião, a comédia tem que caminhar junto ao progresso social e hoje sobretudo quebrando a barreira dos estereótipos. Por isso, a peça me ensinou que para ter arte precisa ter um propósito”. Sobre a falta de incentivo em relação à atividade, ele diz que esse problema não gira somente em torno do stand up, mas sim para toda a arte. “Hoje, nós comediantes precisamos produzir para trabalhar, e não apenas estar no palco. Buscar parceiros, atrair público, movimentar rede social, enfim jogar em todas as posições. Pois o entretenimento é o alimento da alma! E sorrir é o melhor remédio para os problemas que enfrentamos em nosso dia a dia”. O diretor, Wendell complementa dizendo que fazer humor discutindo pontos de vista e mostrando que é possível viver em sociedade mesmo com pontos de vista opostos, e essa questão de unir a diversão com a informação é capaz de tornar todo o contexto essencial e ao mesmo tempo descontraído. 

 

Serviço:

 

“Era pra ser um stand up”

Texto: Pedro Henrique Vasconcellos

Elenco: Aarhon Pinheiro e Bia Guedes

Direção: Wendell Bendelack

Temporada: 23 de agosto a 19 de outubro de 2019

Sessões: Sexta a Domingo – às 20h (Em outubro não haverá sessão aos domingos)

Local: Teatro Vannucci

Endereço: Rua Marques São Vicente, 52 (Shopping da Gávea – 3º andar)

Telefone: (21) 2274-7246

Bilheteria: de terça-feira a domingo das 14h às 22h

Classificação: 14 anos

Gênero: Comédia

Preço: R$80, (inteira) e R$40, (meia)

Duração: 70 minutos

Capacidade: 425 lugares