Em cartaz com “Meu nome é Ernesto!”, Jéssika Menkel diz: “Sonho que as pessoas passem a encarar a arte como profissão, e não hobby”


A atriz, natural de Votorantim, conta como foi sair da casa dos pais para estudar no Rio e revela o processo de preparação para interpretar uma idosa no teatro

Book-03-2Jéssika Menkel tem só 23 anos, mas vem sendo apontada como uma promessa do teatro carioca: ganhou quatro prêmios de melhor atriz pela peça “Meu nome é Ernesto!”, em cartaz durante este mês no Teatro Ipanema. Na comédia dirigida por Felipe Fagundes, a jovem interpreta Marta, uma senhora de 80 anos que, junto com seu marido, Ernesto, personagem de Arthur Ienzura, vive das lembranças do passado.

A atriz gasta, em média, 3 horas para se transformar na idosa, com uma preparação que envolve maquiagem, enchimento, peruca e figurino. “Passamos três camadas de látex em torno dos olhos, para expressar um olhar cansado de quem tem 80 anos, olhar de quem já viu e viveu muitas coisas nessa vida”, conta Jéssika. Haja paciência, né?

Mas a maior mudança não tem sido física: com Marta, a jovem está aprendendo a valorizar mais a vida e os próximos. “Hoje tenho mais consciência de que vou envelhecer um dia, coisa que a maioria dos jovens não para pra pensar”, diz. E ela acredita que o público também sai diferente da peça. “‘Meu nome é Ernesto!’ mostra as dificuldades de uma forma divertida, faz sorrir, chorar e refletir sobre o valor que damos às pessoas que temos ao nosso lado.”

Em conversa com o site, Jéssika, que já atuou em peças como “O Clube dos Cinco” e “Sonho de Uma Noite de Verão”, fala sobre a experiência de sair do interior de São Paulo para estudar teatro no Rio, a preparação para representar uma idosa nos palcos e os desafios de ser atriz.

HT: Como surgiu a vontade de atuar? Por que escolheu seguir pelo teatro?

JM: Eu tinha 6 anos quando falei pela primeira vez que queria ser atriz, inspirada pela novela “Chiquititas”. Acredito que nasci com essa vontade, com esse amor pelo teatro, pela arte de interpretar. Sempre fui a mais “palhaça” da minha família. Sou de Votorantim, interior de São Paulo, e a primeira vez que fui ao teatro, com uma excursão, foi mágica, me encantou. Com 16 anos, fiz um curso de teatro em Sorocaba e vi que era isso mesmo que queria para minha vida. Dois anos depois, vim para o Rio de Janeiro estudar na CAL- Casa das Artes de Laranjeiras.

HT: Muitos pais ficam receosos com a decisão dos filhos de seguir a carreira de ator. Sua família te apoiou?

JM: Todo rompimento é doloroso, mas faz crescer. Meus pais se assustaram quando a única filha, que tinha acabado de completar 18 anos, saiu do interior de São Paulo e veio estudar teatro no Rio de Janeiro. Essa preocupação é natural, mas, graças a Deus, eles me apoiaram para que eu pudesse fazer o que queria e quero. E hoje eu vejo o quanto esse rompimento me fez crescer, tanto como atriz quanto pessoa.

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HT: Como foi a preparação corporal para “Meu nome é Ernesto!”?

JM: Eu já tinha feito outros personagens antes, mas nenhum deles me exigiu tanto corporalmente como a Marta. Quando um jovem interpreta um personagem idoso, sempre existe um risco muito grande de cair no caricato, o que era o nosso maior medo. Mas mergulhamos de cabeça nesse universo da terceira idade, observamos idosos nos ônibus, nos metrôs, nas ruas, frequentamos tardes de bingo da terceira idade, assistimos a filmes, enfim, foi um trabalho bem minucioso. A minha maior inspiração foi minha avó Nerci. Depois que comecei a estudar a Marta, passei a ficar muito mais tempo com ela, reparar em cada detalhe.

 

HT: Como você vê a situação atual do teatro no Brasil? Acha que é possível viver de teatro?

JM: Infelizmente, a situação nunca foi das melhores, e, com essa crise que estamos vivendo, o primeiro lugar onde há cortes de verba é na cultura. Temos pouco investimento nessa área, pouco incentivo à arte. Eu sonho com o dia em que as pessoas passem a encarar o trabalho dos artistas como uma profissão, e não como um hobby. É uma profissão instável se você só trabalhar como atriz, porque em alguns meses você está em cartaz e ganha dinheiro, em outros não. Como também trabalho como professora de teatro, tenho uma estabilidade maior. Acredito que essa instabilidade também seja o motivo que faz muitos atores (onde eu me incluo) quererem trabalhar em uma emissora de televisão.

HT: Você sonha em interpretar alguma personagem ou peça específicas?

JM: Eu gosto muito de interpretar personagens que sejam bem diferentes de mim, que exijam a minha desconstrução. No momento, comecei a pesquisar sobre esquizofrenia, porque vou interpretar uma esquizofrênica na esquete “A Pastora do Lixão” que vou apresentar no Festu Rio, em agosto. Tenho vontade de interpretar a Suzane von Richthofen em alguma peça de teatro ou filme, seria um grande desafio.

HT: Qual foi seu maior desafio como atriz até hoje?

JM: Todo personagem é um desafio. Todo início de processo de criação é uma exposição, dá insegurança, me sinto nua, mas com o tempo aquilo vai tomando consistência, criando base. É difícil, mas prazeroso.