Depois do retorno aos palcos, Jandir Ferrari assume: “manter-se no ar, é manter-se vivo”


Com uma consolidada carreira, Jandir Ferrari queria ser atleta, mas acabou se encantando pela atuação: “Sou muito apaixonado pela minha profissão, então também não consigo preferir um personagem. Ao falar de um, o outro já fica enciumado”.

O espetáculo “Leréias- Histórias contadas por eles mesmos” voltou à cena com temporada que durou até o início de dezembro, no Rio de Janeiro. Interpretando quatro personagens diferentes, o ator Jandir Ferrari apresentou, por meio deles, um pouco da vida do homem do campo e sobre como essa realidade conversa também com a população da cidade. Em entrevista ao site HT, o ator falou sobre o nervosismo pela volta aos palcos, o amor pela profissão, incentivo à cultura e seus trabalhos mais marcantes.

Com 35 anos de profissão, o ator retornou aos palcos com “Leréias”

Aqueles que consomem televisão, teatro e cinema já estão acostumados a encontrar o artista Jandir Ferrari interpretando um personagem. Porém, o que muitos não sabem é que o ator, na verdade, tinha o sonho de se manter no mundo do esporte. Campeão paulista de natação, ele chegou a iniciar o curso de Educação Física e tinha o objetivo de ser treinador, quando aos 17 anos, teve o seu primeiro contato com a atuação. Realizando uma espécie de figuração, Jandir conheceu atores, preparadores de elenco, diretores e se apaixonou. “Fui me encantando, não consegui nunca mais parar de fazer isso. Cada dia é uma nova descoberta, me apaixonei pela profissão!”, admitiu. Desde então, ele nunca mais parou e nós, do lado de cá, agradecemos.

Até o início de dezembro, envolvido com a nova temporada da peça “Leréias”, o ator deu vida a quatro personagens do escritor Valdomiro Silveira. Um dos primeiros regionalistas, Valdomiro foi um dos fundadores da Academia Paulista de Letras e iniciou a escrita sobre o homem do campo. Em “Leréias”, editado em 1945, ele traz a realidade dessa população contada em primeira pessoa e se aproxima indiretamente da rotina urbana. “A gente pensa que essas histórias só acontecem no campo, mas elas têm muita relação com o homem da cidade. Aquele que sofre suas depressões, angústias, perdas, medos. É tudo referente ao ser humano.”, contou Jandir, que interpretou quatro personagens diferentes, utilizando o mesmo figurino.

Dentre as histórias, o ator teve o grande desafio de interpretar uma mulher e um assassino, mas afirmou que aprende muito com todos os personagens. “O texto é tão bem escrito, que cada vez que eu faço, descubro coisas novas, tempos novos. Cada dia eu me apaixono por um, mas com certeza, a menina me coloca em um lugar que eu gosto muito”, confessou sem esconder o favoritismo. Por outro lado, quando questionado sobre preferir atuar no teatro, na televisão ou no cinema, Jandir não conseguiu escolher apenas um: “É difícil decidir assim! São ritmos diferentes, na televisão é tudo muito rápido, no teatro as respirações e o tempo devem ser esmiuçados e no cinema, você grava uma cena e ela fica ali para sempre. Eu me apaixono é pelos textos e pelos personagens”. Relembrando importantes trabalhos como em “Mandacaru”, interpretando o Dr. Edgar e em “O Profeta”, como o Delegado Moreira, o ator brincou: “Sou muito apaixonado pela minha profissão, então também não consigo preferir um personagem. Ao falar de um, o outro já fica enciumado”.

“Sou muito apaixonado pela minha profissão”, admitiu o ator

Ainda que transbordando simpatia, Jandir confessou preocupação com a atual situação da cultura no Brasil. Resgatando conceitos como o de cidadania, o ator afirmou que a população precisa se informar melhor sobre o que é a arte, ao invés de comumente criminaliza-la. “Levar cultura e facilitar o acesso é importante e necessário. Para isso, precisamos incentivar os artistas, que na grande maioria não tem dinheiro. Essa criminalização vem do pensamento de que artista não trabalha, mas é uma luta enorme. As pessoas precisam entender que é muito maior.  A arte mexe com a população, mexe com a alegria. É um mecanismo de luta contra a violência, a favor da cidadania. Cultura é cidadania e isto custa dinheiro”, explicou. Ele falou ainda que a realidade dos artistas pode não ser como parece: “Às vezes, a gente faz teatro e não ganha absolutamente nada, fazemos pelo prazer de descobrir e passar aquele personagem”.

A 35 anos nessa luta, o ator, que é fã dos grandes clássicos do cinema, admitiu que a melhor característica de um artista deve ser a capacidade de se adaptar aos novos contextos e desafios. Para ele, manter-se ativo com tanto tempo de trabalho é questão de dedicação e resiliência. “O importante é estar sempre pronto. Não podemos ficar esperando, temos que estar sempre pesquisando, apoiando os nossos colegas em seus trabalhos. E assim, vamos descobrindo coisas que vão nos renovando. Para mim, a questão não é manter minha imagem no ar, mas manter ela viva. Na nossa descoberta, na nossa busca pela perfeição, no nosso jeito de passar as coisas, nas nossas escolhas para cada personagem.”, afirmou Jandir.  Em gravações com a segunda temporada da série “A verdade secreta dos casais”, escrita por Bruna Lombardi, o artista assumiu ser um grande admirador dos seus colegas de trabalho. “Temos que estar atentos a quem está perto, a quem pode nos ensinar alguma coisa.”, contou ele, relembrando parcerias com grandes profissionais, como Irene Ravache e Aracy Balabanian.

De toda a conversa com o site HT, o que prevaleceu foi o grande e explicito amor de Jandir por sua profissão. Em diversos momentos, ele repetiu ser apaixonado pelo que faz, seja como for. “O que nos mantem no ar, também nos mantem vivo, que é a descoberta da nossa profissão, que explora tantos lados da vida, tantos modos de pensar sobre ela. Cada personagem pensa de um jeito e você precisa entender isso. Manter-se no ar, é manter-se vivo, em processo de descoberta”, finalizou.

Em “Leréias”, Jandir interpretou 4 personagens diferentes