Dalton Vigh fala sobre “Caros Ouvintes”, que aborda o fim da radionovela: “Essa peça tem o resgate de memória afetiva”


A peça, em cartaz no Renaissance, em São Paulo, é ambientada em 1968 e mostra a atuação de uma equipe da última emissora a produzir uma radionovela em tempos da consolidação da televisão, que aliou imagem ao som

*Por Karina Kuperman

Com uma trajetória de 25 anos nos palcos, Dalton Vigh retorna ao teatro como um dos protagonistas do sucesso “Caros Ouvintes”, uma comédia sob o ponto de vista do produtor e dos atores que faziam radionovelas. A peça, em cartaz no Renaissance, em São Paulo, é ambientada em 1968 e mostra a atuação de uma equipe da última emissora a produzir uma radionovela em tempos da consolidação da televisão, que aliou imagem ao som. As radionovelas não resistiram à concorrência das tramas na forma como conhecemos hoje e a equipe da tal rádio precisa se despedir do público.

Dalton Vigh vive Vicente na peça “Caros Ouvintes” (Foto: Heloisa Bortz)

A trama traça, ainda, um paralelo histórico com a realidade social, retratando o cenário artístico, comportamental e político da época. “É o resgate de um gênero, de uma Era de Ouro nas rádios. Quando eu era muito criança, lembro de estar perto de pessoas que não perdiam uma transmissão de radionovelas. É importante as pessoas saberem, lembrarem que tal fenômeno cultural existiu no Brasil, que deu origem ao que conhecemos como novela hoje. A minha avó era ouvinte de radionovelas, lembro dela sempre em casa… Lavava, passava, cozinhava, arrumava a casa ouvindo rádio. Essa peça tem o resgate de memória afetiva mesmo”, comenta Dalton.

Elenco de “Caros Ouvintes” (Foto: Heloisa Bortz)

“Mas também tem um outro lado que é contar um pouco do que acontecia no Brasil nessa época, na questão política, movimentos, manifestações… mostrar aquele turbilhão político e social”, define o ator, que vive Vicente, produtor da radionovela em questão e que tem um caso com uma das principais atrizes da época, interpretada por Natália Rodrigues. Se já trabalhasse no final dos anos 60, Dalton garante: viveria de sua arte. “Eu faria de tudo: radionovela, fotonovela, dublagem de desenho animado. Seguiria o mesmo percusso que Lima Duarte e Laura Cardoso“.

Dalton Vigh (Foto: Heloisa Bortz)

O espetáculo, de Otávio Martins, em duas montagens foi o mais bem avaliado em São Paulo pela revista “Veja“. Será que isso confere uma pressão extra ao elenco? “Claro que sim. Não só por manter o nível lá em cima, mas também por ter tido pouquíssimo tempo de ensaio. Era para eu ter atuado na primeira montagem em 2014. Não pude por questões pessoais e o Petrônio Gontijo viveu o personagem. Agora aconteceu o oposto: ele faria e não pôde. Como eu já conhecia o texto, gostava muito, surgiu a oportunidade de poder contar essa história. A reação do público é muito positiva, não só pela radionovela, mas pela peça como um todo. As pessoas se emocionam. E fico muito orgulhoso com o feedback“, comemora.