Com trabalhos no teatro, Lu Grimaldi comenta o atual cenário político brasileiro depois das transformações que marcaram 2016: “O Temer dá temor”


A atriz, que foi nomeada madrinha da ONG Turma do Bem de Fábio Bibancos, contou como seu engajamento social enriquece as experiências. Segundo ela, já houve tempo em que o trabalho voluntário era mais prazeroso que a própria carreira artística. “Eu já tive momentos na minha vida em que eu não estava muito bem e questionava o sistema do trabalho dos atores. E, em alguns instantes, a minha satisfação era maior quando eu trabalhava para a ONG do que na atuação mesmo”

Atriz, generosa e figura pública. A união desses três fatores, principalmente quando o assunto é a generosidade, deram o título de madrinha da Turma do Bem à Lu Grimaldi. Amiga há mais de 20 anos de Fábio Bibancos, presidente da ONG que acredita que cuidar dos dentes é muito mais que tirar uma cárie, por exemplo, a atriz contou que o título lhe foi dado de forma não proposital. “Como eu sempre ia às cerimônias e festas com os voluntários da Turma do Bem, os próprios dentistas passaram a me chamar de madrinha como uma brincadeira. Não houve qualquer tipo de votação. Por isso, eu me sinto ainda mais honrada, por ter sido escolhida dessa maneira”, explicou.

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Lu Grimaldi, madrinha da Turma do Bem - Fotos: Poços de Caldas (MG); Henrique Fonseca

Lu Grimaldi, madrinha da Turma do Bem, no palco da festa de premiação do Sorriso do Bem – Fotos: Poços de Caldas (MG); Henrique Fonseca

Desde antes de ser nomeada madrinha do projeto, Lu Grimaldi já mantinha uma relação bem próxima com o trabalho da ONG. Na verdade, o engajamento da atriz é anterior à criação da organização. Como nos contou em entrevista exclusiva durante o Sorriso do Bem, evento promovido em Poços de Caldas por Fábio Bibancos que premiou os dentistas mais engajados do último ano, Lu disse que acompanha o trabalho do cirurgião-dentista desde o projeto “Adote um Sorriso”. E, para ela, todo esse engajamento é muito mais que uma simples preocupação social. “Eu já tive momentos na minha vida em que eu não estava muito bem e questionava o sistema do trabalho dos atores. E, em alguns instantes, a minha satisfação era maior quando eu trabalhava para a ONG do que na atuação mesmo. Essa emoção que a gente sente com as histórias me deixa em um lugar especial”, contou a atriz que destacou a importância e a realização pessoal de um trabalho voluntário. “Nesse momento, eu vi a importância desta entrega em prol do próximo. E foi aí que eu entendi que o mundo só vai melhorar se cada um de nós fizer algo voluntário ou participar de alguma causa que acredite”, completou.

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As atrizes Nathália Timberg e Lu Grimaldi (Foto: Poços de Caldas (MG) - Henrique Fonseca)

As atrizes Nathália Timberg e Lu Grimaldi na festa Anos 70 (Foto: Poços de Caldas (MG) – Henrique Fonseca)

E a relação entre Lu Grimaldi e a Turma do Bem não se restringe só aos projetos e iniciativas da organização. Como nos disse, a ONG é responsável pela produção de sua peça “Palavra de Rainha”, que, para a atriz, é considerado o espetáculo de sua vida. “A peça é um monólogo, o primeiro da minha carreira, e é baseado na história de Dona Maria I. A atuação da Turma do Bem aparece na fase de produção do espetáculo. E, nas sessões, parte do dinheiro arrecadado na bilheteria é doado ao projeto do Bibancos”, explicou Lu Grimaldi sobre o monólogo que já esteve em cartaz em Poços de Caldas e Portugal e, em breve, tem planos para estrear no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Por falar nessa apresentação da peça “Palavra de Rainha” em Portugal, Lu Grimaldi contou que foi a convite do próprio Palácio Real de Queluz. E, segundo ela, este foi um dos fatores que a fez ficar afastada das telinhas em 2016. “No começo desse ano, eu decidi que não era o momento para eu fazer televisão. Em 2016, marca os 200 anos de morte de Dona Maria I. E, como eu tinha recebido o convite para me apresentar lá em Portugal, no Palácio Real de Queluz, achei que não daria conta de abraçar tantos trabalhos”, argumentou. Mas, mesmo assim, Lu Grimaldi atuou no primeiro episódio da minissérie “Liberdade, Liberdade”. Na trama, a atriz teve a honra de interpretar sua personagem do teatro na televisão. “Eu fiquei muito feliz pelo convite e pelo reconhecimento da emissora. Afinal, a Globo me chamou para esse papel por causa do meu trabalho no teatro”, comemorou.

Lu Grimaldi em "Palavra de Rainha" (Foto: Reprodução)

Lu Grimaldi em “Palavra de Rainha” (Foto: Reprodução)

Outro trabalho deste momento da carreira de Lu Grimaldi é o espetáculo “33 Variações”. Ao lado de Nathália Timberg, que também marcou presença na 11ª edição do Sorriso do Bem, em Poços de Caldas, a atriz apresenta um trabalho baseado na rica trajetória de Beethoven. “Nós fizemos uma temporada de cinco meses no Rio para podermos inaugurar o teatro Nathalia Timberg. O espetáculo, que tem Wolf Maia no papel principal, foi uma escolha da minha própria companheira que traduziu e produziu tudo”, contou sobre a peça que está em cartaz em São Paulo.

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Nathália Timberg e Lu Grimaldi em "33 Variações" (Foto: Reprodução)

Nathália Timberg e Lu Grimaldi em “33 Variações” (Foto: Reprodução)

No entanto, apesar da generosidade e carreira de Lu Grimaldi estarem repletas de energia, a atriz fez uma análise do atual momento político do país. Resgatando a polêmica sobre o Ministério da Cultura após Michel Temer assumir a presidência durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, Lu Grimaldi revelou que se sentia uma “criminosa” por ser uma artista em tempos de cólera. “Quando começou toda a confusão de quererem acabar com o Ministério para voltar depois, eu me sentia culpada por algo que eu nunca fiz. As pessoas me olhavam como se eu vivesse da Lei Rouanet, mas eu nunca recebi esse incentivo. Foi um momento muito louco em que eu sentia que os atores poderiam ser apedrejados se continuassem com suas profissões”, declarou Lu que definiu o momento de medo e insegurança no cenário político brasileiro: “O Temer dá temor”.

Em relação ao futuro, Lu Grimaldi disse que precisa acompanhar de perto que está sendo feito para que possa traçar uma perspectiva. “Eu preciso ver o que será feito para conseguir crer em alguma verdade. Só que eu perdi a confiança e a credibilidade no Brasil. Mas eu ainda não desisti do nosso país, porque eu sempre acreditei que somos uma nação do futuro. No entanto, às vezes, essa projeção vai ser só para daqui a 500 anos quando o Brasil tiver saúde, educação e saneamento básico”, analisou a atriz que concluiu destacando a dificuldade para viver de arte no Brasil. “Hoje, eu tenho 62 anos e ainda estou na batalha. Eu tenho que matar um leão por dia, porque é difícil o reconhecimento. No passado, eu já tive a experiência de sentir a dificuldade. Hoje em dia, esse panorama mudou, mas sei que não posso parar de trabalhar”, contou a atriz Lu Grimaldi.