“Com mais de 50 anos de carreira ter esse aplauso em forma de homenagem é uma delícia”, enfatiza Marieta Severo


O recém-inaugurado Teatro Prudential, no Edifício Manchete, prédio tombado pelo patrimônio histórico, projetado por Oscar Niemeyer e com paisagismo assinado por Burle Marx foi palco da edição de 2019 do Prêmio APTR um momento de muitas emoções e que teve como homenageada a ‘Dona da História’

Marieta Severo foi homenageada pela APTR por sua grande contribuição as artes (Foto: Wallace Barbosa/AgNews)

Marieta Severo foi homenageada pela APTR por sua grande contribuição às artes (Foto: Wallace Barbosa/AgNews)

*Por Rafael Moura

Marieta Severo recebeu justíssima homenagem na edição de 2019 do Prêmio APTR de Teatro (Associação dos Produtores de Teatro do Rio), cuja décima terceira edição foi realizada na noite desta terça-feira (28). Atores, diretores e profissionais do ramo lotaram o Teatro Prudential (inaugurado recentemente no antigo Edifício Manchete, prédio tombado pelo patrimônio histórico, projetado por Oscar Niemeyer e com paisagismo assinado por Burle Marx, na Glória, Zona Sul), no Rio de Janeiro, para acompanhar a premiação. “É uma das maiores emoções da minha vida. É muito bom a essa altura da vida, com tantos trabalhos, com 50 e tanto anos de carreira ter esse reconhecimento, ter esse aplauso concreto em forma de homenagem. Eu estou muito emocionada. Tem um valor muito grande para mim”, contou emocionada Marieta Severo, logo na chegada. Andréa Beltrão rendeu muitas homenagens à Marieta “É uma delícia ela poder receber essa homenagem em vida. Fora a imensa contribuição dela para às artes e nossa garra de manter dois teatros em pé (Poeira e o Poeirinha), além de ser minha comadre duas vezes”. A noite teve como mestres-de-cerimônias os atores Drica Moraes e Marco Nanini que foi ‘marido’ de Marieta, por 14 anos em A grande família.

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O primogênito de Andréa, Francisco, de 23 anos, não poderia ter outra madrinha senão, é claro, Marieta. “Não tinha possibilidade de ser outra pessoa”, disse a atriz. Rosa, a filha do meio, de 22 anos, foi batizada por outra grande amiga, a cantora Marisa Monte. Mas, como passava muito tempo com Marieta, exigiu ser afilhada dela também. “Ela passou a ter duas madrinhas”, divertiu-se Andréa.

Pedimos para a grande dama da interpretação destacar pontos marcantes de sua carreira. “No teatro? Na televisão? No cinema? São tantos… Mas ressalto os encontros que tive com Naum Alves de Souza (1942- 2016), que foi diretor, cenógrafo, figurinista, artista plástico, dramaturgo e professor brasileiro, e tocar o Teatro Poeria junto com a minha comadre Andréa Beltrão. Isso eu acho que transcende, é maior do que qualquer papel eu possa ter feito no palco, nas telas é maior do que tudo”, enfatizou.

A atriz falou sobre a atual situação da falta de investimento nas artes no Brasil e sobre a falta de apoio para o teatro. “A gente vai seguir, mas nós sempre perdemos dinheiro com o Poeira. Ele nunca foi lucrativo. As pessoas falam: ‘Ah, vocês compraram com o dinheiro da Petrobras?’ Não! Nós compramos com o nosso dinheiro. Meu e de Andréa. A Petrobras era muito bem-vinda e nos ajudava muito nos trabalhos de formação profissional, que era passado de graça para o público”, comentou Marieta.

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Ao som de Riscado, do Duo GisBranco, interpretado pela pianista Cláudia Castelo Branco e pelo grupo Cais (Karin Verthein e Renata Neves, no violino, Tina Werneck, viola e Maria Clara Valle, violoncelo), a plateia acompanhou um vídeo emocionante com momentos da carreira da grande homenageada. O diretor Aderbal Freire-Filho, atual companheiro de Marieta, e Andréa Beltrão, amiga, comadre e grande parceira profissional da atriz, subiram ao palco para homenageá-la. Para deixar o momento ainda mais especial, Elba Ramalho entrou em cena cantando “O meu amor”, de Chico Buarque, com quem Marieta foi casada por mais de três décadas. “Quando as pessoas morrem e dizem coisas lindas a respeito delas, eu sempre fico pensando: ‘Ai, que pena que elas não estão aqui para ouvir’. Eu nem precisei morrer…”, brincou Marieta. “Tudo que aprendi foi através e por causa dos personagens que fiz e das histórias que contei”, frisou.

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Os grandes indicados da noite foram o musical Elza, com direção de Duda Maia (sete categorias) e o espetáculo Grande sertão: veredas (oito categorias) que foi o grande o recordista de troféus do Prêmio APTR. A diretora Bia Lessa subiu ao palco quatro vezes para receber os prêmios de melhor direção (Bia Lessa), melhor ator (Caio Blat, que fez os agradecimentos em áudio pelo whatsapp), melhor espetáculo e melhor cenografia (Camila Toledo e Paulo Mendes da Rocha). “É uma emoção imensa, muitos desses jurados me conhecem desde o meu primeiro espetáculo. Fazer o Grande sertão: veredas foi como se estivesse ao lado de  Guimarães Rosa. Queria agradecer a equipe, porque teatro é equipe do início ao fim. É um trabalho coletivo sempre, mesmo quando é um monólogo. Em nome dessa utopia que é o teatro, eu dedico esse prêmio para todos nós”, pontuou Bia Lessa.

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A cerimônia também homenageou Nicette Bruno, na categoria especial, por sua trajetória, e lembrou profissionais da arte que nos deixaram recentemente, como os diretores Antunes Filho e Domingos Oliveira, os atores Lúcio Mauro, Lady Francisco e Beatriz Segall, o cenógrafo Hélio Eichbauer, entre outros nomes.

A protagonista do Elza, Larissa Luz, falou ao site HT sobre as sete indicações do musical. “A nomeação do prêmio é uma grande celebração ao nosso trabalho, mais do que tudo é um ponto de encontro, um local para falarmos sobre cultura, nossos pensamentos, ainda mais num momento em que a cultura está passando por vários percalços”. Quando Larissa subiu ao palco com o elenco e a equipe da Sarau Agência para receber o prêmio na categoria melhor produção deu um grande alerta para a platéia. A gente quando sobe num palco como esse temos sempre o desejo só de agradecer e falar coisas boas, mas infelizmente, precisamos falar de diversidade. Queria alertar para a quantidade de negros nessa plateia e quantos subiram neste palco, nós podemos contar nos dedos. Quando a ausência de negros nos restaurantes, nas plateias dos teatros e cinemas não forem incômodas, perceptíveis e constrangedoras precisaremos falar de diversidade, representatividade e inclusão”, encerra.

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Confira a lista completa dos premiados da noite:

  • Música: Pedro Luis, Larissa Luz e Antônia Adnet por “Elza”
  • Iluminação: Felicio Mafra por “Memórias do esquecimento”
  • Figurino: João Pimenta por “Dogville” e “Romeu e Julieta”
  • Cenografia: Daniela Thomas por “Romeu e Julieta” / Camila Toledo e Paulo Mendes da Rocha por “Grande sertão: veredas”
  • Atriz coadjuvante: Stella Maria Rodrigues por “Romeu e Julieta” / Stella Miranda por “O frenético Dancin Days”
  • Ator coadjuvante: Mateus Cardoso e Robson Medeiros por “A invenção do Nordeste”
  • Direção: Bia Lessa por “Grande sertão: veredas”
  • Autor: Pablo Capistrano e Henrique Fontes por “A invenção do Nordeste”
  • Atriz protagonista: Amanda Acosta por “Bibi, uma vida em musical”
  • Ator protagonista: Bruce Gomlevsky por “Memórias do esquecimento” e Caio Blat por “Grande sertão: veredas”
  • Categoria especial: Nicette Bruno por sua participação em “Pippim” e trajetória artística no teatro
  • Espetáculo: “Grande Sertão: veredas”
  • Produção: Sarau Agência de Cultura Brasileira por “Elza”
  • Direção de Movimento e Coreografia: Angel Vianna
  • Parceiro do Teatro: Globo