Com foco no teatro contemporâneo, Tempo_Festival entra em sua sétima edição destacando a cena artística polonesa e estreia da peça de Aderbal Freire-Filho


A homenagem à arte cênica produzida no país europeu está em sintonia com a proposta da curadora Bia Junqueira. “Um teatro denso, sem perder o humor, de qualidade com atores excelentes e espetáculos que representam diferentes vertentes da cena”

Dando destaque para o teatro contemporâneo internacional, o Tempo_Festival chega a sua 7ª edição ocupando espaços culturais importantes do Centro e da Zona Sul carioca. O evento, que acontece até o próximo domingo, tem curadoria de Bia Junqueira, Cesar Augusto e Márcia Dias e conta com 13 atrações estrangeiras e quatro nacionais, todas ainda inéditas no país. Além dos espetáculos, vídeos, oficinas e até debates sobre a relevância cultural do teatro polonês estão inseridos na programação. Para dar luz à pluralidade do festival, as noções de diversidade levaram o Tempo a eleger o termo “Somos” como o mote desta edição. A partir dele, são questionadas noções de identidade e de unidade, e aposta na multiplicidade de temas, na intervenção de linguagens artísticas, em representações trans, reflexões sobre raça, entre outros tópicos que estão em voa na nossa sociedade. Em entrevista exclusiva ao HT, Bia falou sobre o que o público pode esperar da programação deste ano.

Márcia Dias, Cesar Augusto e Bia Junqueira (Foto: Divulgação)

Márcia Dias, Cesar Augusto e Bia Junqueira (Foto: Divulgação)

A abertura aconteceu na noite da última segunda-feira, com as apresentações dos espetáculos “Invisível”, uma coprodução entre Brasil e Holanda, protagonizada pela atriz Mariana Nunes, tendo como pano de fundo a invisibilidade da mulher negra na sociedade brasileira, e de “Pequena Narrativa” (“Small Narration”), performance do conceituado artista visual e diretor polonês Wojtek Ziemilski, que mistura diversas expressões artísticas combinadas a fatos históricos. A homenagem à arte cênica produzida na Polônia está em sintonia com a proposta de Bia Junqueira para esta edição. “Um teatro denso, sem perder o humor, de qualidade com atores excelentes e espetáculos que representam diferentes vertentes da cena atual polonesa. Foram dois anos de pesquisa e descobertas, do que acreditamos ser o inicio de frutíferas parcerias”, destacou Bia.

As outras produções  importados da Polônia que integram a programação do festival são “Apocalipse”, do diretor Michal Borczuch, “Na Solidão dos Campos de Algodão”, de Radoslaw Rychcik, e “Ewelina Chora”, de Anna Karasiska. Também haverá três encontros para debater a cultura do país, um sobre a obra do diretor de teatro e artista visual Tadeusz Kantor e mais dois com o dramaturgo e crítico Piotr Gruszczyski. “O recorte da cena polonesa aponta para a vocação do teatro por excelência. Ou seja, teatro como lugar de expressão e maturação do ser social. Não é à toa que se apresenta como berço de grandes nomes e referências que influenciaram a produção da riqueza cultural contemporânea”, contatou.

“Na Solidão dos Campos de Algodão”, texto do francês Bernard-Marie Koltés é encenado pelo diretor polonês Radoslaw Rychcik (Foto: Divulgação)

“Na Solidão dos Campos de Algodão”, texto do francês Bernard-Marie Koltés é encenado pelo diretor polonês Radoslaw Rychcik (Foto: Divulgação)

Além da cena polonesa, outro grande destaque será a estreia nacional da montagem “A Paz Perpétua”, do diretor Aderbal Freire-Filho. A peça conta uma fábula teatral do dramaturgo espanhol Juan Mayorga protagonizada por três cachorros: Odin, Emanuel e John-John, interpretados, respectivamente, pelos atores João Velho, Cadu Garcia e José Loreto. A adaptação que estreia neste sábado, no Oi Futuro Flamengo, fica em cartaz até o dia 11 de dezembro na própria casa de espetáculos. “A ideia surgiu do desdobramento de um projeto que realizamos no Tempo_Festival no ano passado, a internacionalização da dramaturgia espanhola, que o Aderbal traduziu o texto do Juan Mayorga, a Coleção Espanhola editado pela Cobogó. O objetivo do projeto é a aproximação entre as dramaturgia espanhola e a cena brasileira”, explicou a curadora Bia.

Aderbal Freire-Filho, diretor de teatro (Foto: Reprodução)

Aderbal Freire-Filho, diretor de teatro (Foto: Reprodução)

Apesar do momento de crise que a cultura brasileira atravessa, assim como outros setores do país, Bia acredita que a principal manobra para não cair na cilada dos momentos inoportunos é continuar investindo naquilo que se acredita. “Fazendo Arte, fazendo teatro, dando acesso e referências ao público em geral. Se reinventar sempre é em si um dos motes da própria criação”, disse ela, que ainda explicou o porquê da escolha do termo “Somos” para a sétima edição do festival. “É uma reflexão sobre si, sobre o coletivo e sobre conjugar”, contou ao HT.

O Tempo_Festival está em cartaz nos teatros Carlos Gomes (Centro) e Gláucio Gill (Copacabana), e nos centros culturais Oi Futuro (Flamengo), Espaço Sérgio Porto (Humaitá), Sede das Cias (Lapa), Instituto CAL de Arte e Cultura (Glória), UniRio (Urca) e Galpão Gamboa (Gamboa). Todos os ingressos têm preços populares de até R$ 30 reais, a inteira, ou entrada franca. Da programação, Bia ainda ressaltou alguns destaques.

“Toda a programação é um destaque, pensada e com estreias a cada dia. Os espetáculos de fechamento ‘Apocalipse’ e ‘Vamos Fazer Nós Mesmos’, nos dias 22 e 23, falam sobre o coletivo, suas organizações e formas de relacionamentos e estruturas sociais. Num momento onde o mundo repensa, questiona e se depara com os parâmetros do passado, do presente e quais serão os do futuro, vale muito a pena assistir e trocar”, completou. Mais informações sobre horários dos espetáculos e endereços das salas estão disponíveis no site www.tempofestival.com.br