Coluna da Véia: DJ Zé Pedro fala de Fernanda Abreu, os melhores clipes da semana, Nina Simone, Cauby Peixoto e a reinvenção do rádio. Vem!


Na sua coluna semanal aqui no Site HT, o agitador cultural e dono do faro mais apurado do oeste lista o que fez sua cabeça nos últimos dias

*Por Zé Pedro

Sexta-feira, chegamos! E na montanha-russa da vida, mais uma vez o carrinho balançou, derrapou e não caiu. Ufa! Chegamos ilesos até mais um final de semana que em termos de artes visuais, cinema, circo, teatro e dança, aqui em São Paulo, estará cheio de opções. É que acontecerá a 12ª segunda edição da Virada Cultural, esse sonho de levar vida inteligente onde o povo está. Durante 24 horas, verdadeiras turbas sedentas irão colar na frente dos diversos palcos espalhados na cidade. Eu, por exemplo, vim para confundir e verei de Ney Matogrosso a Clarice Falcão passando por Wanderléa e Amelinha!

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Mas calma, Brasil! Tem para todos. Chega hoje às plataformas digitais, “Amor Geral”, o álbum que marca o retorno de Fernanda Abreu após dez anos (!) longe dos estúdios. Fui um dos primeiros a ter acesso ao disco e não parei de avisar aos navegantes: vem aí o melhor disco da Garota Sangue Bom, reciclando seu discurso com novos parceiros e mirando o futuro com novos produtores, dispensando o saudosismo e olhando para frente. Atenção para a capa maravilha criada por Giovanni Bianco, o cara responsável pela transformação – e a manutenção – do visual de Anitta.

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No quesito música para ver, três deliciosos videoclipes fizeram a minha cabeça essa semana. Vamos a eles.
O forte candidato a melhor do ano fica com “Ai, Ai, Como Eu Me Iludo” do grupo o Terno (aquele que tem o gênio Tim Bernardes como um dos integrantes). Misturando vibes loucas de Michel Gondry e Spike Jonze, você vai rir, chorar, pirar, se comover e querer rever. Produzido pela ALASKA Filmes e dirigido por Marco Lafer e Gustavo Moraes, levou dois anos para ser finalizado. Valeu esperar.

Você conhece Leticia Novaes? Essa mistura de cantora carismática com atriz dramática desaguando em poeta urgente é uma grande artista. Com vários discos lançados, um livro espetacular (“Zaralha”) e desabafos geniais no Facebook, Letícia é aquela maluca beleza que nos ajuda a sobreviver nesses tempos de cólera em que vivemos. Só para você entender melhor, ela é mulher para combinar pela rede social um pic-nic ecológico para comemorar um mês de moradia em uma nova cidade. Portanto, não se assuste e sim deleite-se com seu novo vídeo “Todos Querem Amar” de sua banda Letuce que contou com a colaboração de fãs que também mandaram imagens.

Bárbara Eugênia é aquela musa cool do pop indie que causa estremecimentos de desejo por sua beleza estonteante e sua música totalmente pessoal e intransferível. Misture Isabella Rossellini e Jane Birkin que você chega nela. “Doppelganger Love” tem clima noir e animações sensacionais.

Que papo é esse de que rádio é coisa do passado? Patricia Palumbo, que pilotou durante muitos anos as melhores entrevistas e seleções musicais pelas estações do Brasil, teve a luminosa ideia de criar um aplicativo chamado “Radio Vozes”, onde além de suas escolhas maravilhosas ainda acontecerão programas assinados por gente fina e elegante como Paulo Miklos, Constanza Pascolato e…sim, eu! (mais um cara de pau nesse país do jabá kkkkkkk). A “Discoteca do Zé Pedro” acontecerá todas as sextas (hoje!) às 21hs.

E o filme “Nina”, hein? Depois ter sido demolido pela crítica e massacrado pela filha de Nina Simone, tomei coragem, respirei fundo e apertei o play. Realmente para pesquisadores e admiradores mais profundos, a trama é duvidosa e a maquiagem para escurecer a pele da atriz Zoe Saldana é assunto bizarro. Em contrapartida, penso que a trajetória dessa grande artista e ativista política ainda é desconhecida pela maioria da população mundial, que, com certeza, desavisada e leiga desses graves defeitos, poderá se interessar e procurar, por exemplo, pelo extraordinário documentário “What Happened, Miss Simone?”. Confesso, não sofri.

O troféu “Palmas Pra Você” dessa semana vai para Sônia Braga. Está em dúvida? Com a palavra Milton Nascimento: “Eu estava em um barco e sabia que a Sônia Braga estava em um outro bem próximo. Pulei no mar e fui nadando até onde ela se encontrava. Quando cheguei lá, lembrei de um pequeno detalhe: eu não sabia nadar! Só conto isso, porque tenho testemunhas”. Ovacionada em Cannes por 11 minutos, ela arrebata novamente a todos com sua interpretação no filme “Aquarius” de Kleber Mendonça Filho, diretor que se tornou consagrado em 2012 pelo forte e inesquecível “O Som Ao Redor”. Precisamos saber a quem chamamos de rainha. Sônia Braga é.

Não posso encerrar sem lembrar de Cauby Peixoto, a grande voz que nos deixou na madrugada de domingo para segunda aos 85 anos de glória e com uma vitalidade de dar inveja a muito boy de vinte. Cantor versátil que atravessou gerações, foi um mito que gerou polêmicas e arrastou multidões com sua garganta privilegiada e sua indumentária exuberante. Num comparativo esquizofrênico que só eu ouso fazer, Cauby foi o nosso Elvis Presley.

E quanto ao MinC…
“A cultura, a civilização. Elas que se danem. Ou não”. (Gilberto Gil, 1969)

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Zé Pedro é um artista dedicado à Música Popular Brasileira. Apesar de ser conhecido com um DJ que toca vários estilos musicais, é considerado uma enciclopédia da MPB. Nessa área, ele atua em qualquer esfera de produção de remixes, a publicação de um livro e a inauguração do selo Jóia Moderna, em 2011, que já conta com mais de 20 discos lançados até agora, resgatando o trabalho de cantoras de outras gerações, criando tributos a grandes compositores e lançando novos talentos do pop brasileiro. Mais recentemente criou o Canal da Véia (como ele se refere a todo mundo e a si mesmo) no YouTube, que já é um sucesso.