Cláudio Botelho versus plateia: sessão de “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos” termina em confusão em Belo Horizonte


O ator e diretor sugeriu a prisão do ex-presidente Lula e chamou Dilma Rousseff de “ladra” no palco, gerando muitas vaias e uma enorme debandada

Era para ser uma noite calma e divertida no teatro Sesc Palladium, no Centro de Belo Horizonte, durante a primeira sessão do espetáculo “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos”, mas um comentário do ator e diretor Cláudio Botelho, que interpreta o líder de uma companhia teatral em giro por pequenas cidades do interior, fez com que a apresentação terminasse em confusão. Aparentemente em um improviso, Botelho sugeriu a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e chamou a presidente Dilma Rousseff de “ladra” ao se referir à chegada dos atores em uma cidade pequena em um momento inoportuno para atrair a atenção do público, já que: “Era a noite do último capítulo da novela das oito. Era também a noite em que um ex-presidente ladrão foi preso”, de acordo com ele. Parte da plateia começou a vaiar e alguns aplaudiram, mas as vaias se intensificaram. Botelho, então, reagiu com surpresa: “Belo Horizonte? Minha cidade?”, chegou a dizer ele, que tentou retomar a cena afirmando que o público vaiava ficção.

Foto: Leo Aversa - Crédito obrigatório.

Cláudio Botelho e Soraya Ravenle no palco (Foto: Leo Aversa)

Enquanto alguns deixavam o teatro, outros se uniram na lateral da sala e gritaram: “Não vai ter golpe!” e “Chico! Chico!”. Bastante nervoso, o ator e diretor declarou que a sessão estava encerrada, mas Soraya Ravenle, protagonista, discordou e pediu todos a volta “à música de Chico Buarque de Hollanda”. “Chega de guerra!”, disse. Nem isso foi capaz de conter os ânimos. Ainda assim, Cláudio Botelho retornou ao palco para o dueto de “Biscate”, mas as vaias não cediam e ele declarou a sessão encerrada. “Vocês são como a ditadura! Vocês pararam o espetáculo! Vocês pararam Roda viva!”, disse o ator e diretor, enquanto um membro da equipe tentava contê-lo. Por meio de um aviso sonoro, a produção se desculpou e avisou que a bilheteria devolveria os valores pagos pelos ingressos. A Polícia Militar foi chamada pela produção para a portaria do Sesc Palladium, já que Cláudio Botelho se sentia “coagido em seu camarim” e temia ser “agredido fisicamente” caso tentasse sair.

Foto: Leo Aversa - Crédito obrigatório.

Cláudio Botelho é o dono de uma pequena companhia teatral na peça (Foto: Leo Aversa)

O protagonista da peça já havia deixado claro, por meio de suas redes sociais, o apoio ao juiz Sérgio Moro em um texto que dizia: “Há dois dias que o PT, o Governo e alguns juristas de renome só se debruçam sobre o ‘vazamento e os grampos’ do juiz Sérgio Moro. O que me causa pasmo é que parece que o problema é este. Esqueceram o que foi gravado? Esqueceram que essa gente grampeada são os caras que mandam no Brasil e que as gravações mostram que são mafiosos, comportam-se como membros de quadrilha, usam artifícios totalmente escabrosos para se manterem livres e não serem punidos, e em nenhum momento demonstram qualquer interesse no que é bom para o Brasil? Não tem uma conversa com eles falando algo do tipo ‘será que o momento não é de a gente repensar o nosso jeito de governar? Será que não vale a pena assumir que somos mesmo os donos do sítio e do triplex? Será que não tá na hora de a gente desistir de mentir pra Justiça, pro povo, pra imprensa? Não seria o momento de, querida Dilma, a gente fazer um ‘mea culpa’ e deixar o país em paz?’. Diante de tudo que está lá gravado, ainda tem gente falando que quem errou foi ojuiz que fez o… grampo.Em resumo: tomei um porre de whisky, cheguei em casa, matei minha mulher, meus filhos, botei fogo no apartamento, saí pelado estuprando as vizinhas, mas eu sou inocente. O culpado disso tudo isso é o fabricante de whisky! Prendam ele”, escreveu.

Foto: Leo Aversa - Crédito obrigatório.

Os atores de “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos” (Foto: Leo Aversa)

Vale lembrar que a peça “Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos” estreou em 2014 em uma longa temporada no Rio de Janeiro e passou por São Paulo e até Portugal. Agora, o espetáculo começa uma turnê pelo Brasil e faria duas apresentações em Belo Horizonte. Cláudio Botelho estava animado: “’Todos os musicais de Chico Buarque em 90 minutos’, musical que já está em cartaz há 2 anos entre Rio e São Paulo, terminou ontem sua temporada em Portugal, após apresentações emocionantes no Porto e em Lisboa. Eu garanto a vocês, amigos que trabalham na área ou que apreciam o assunto: há poucas emoções tão fortes no teatro quanto a gente conseguir empatia total com um público que não mora na nossa cidade, não é íntimo dos nossos costumes e que, o caso, partilha conosco basicamente a maior de todas as raízes: a língua. Ouvir a ‘Flor no Lácio’ cantada na voz dos nossos atores e entoada por uma multidão de portugueses que devotam a Chico um amor tão cheio de fidelidade quanto o nosso (somos Chico sempre, sempre, sempre) – ah, isto é o que desejo a todos os que fazem teatro para o público, para comover, entreter e divertir plateias. Esta é a quarta ou quinta experiência da Möeller & Botelho em Portugal, e todas as vezes estivemos lá graças ao empenho pessoal de Joao Nuno Martins, um brasilianista por certo, um amante da melhor música brasileira sempre. E desta vez em parteria com a UAU, impecável empresa da área de entretenimento, líder do mercado em Portugal, que atua em teatro, música, artes em geral. Foi bonita, ah como foi bonita a festa, pá! Belo Horizonte, ‘Todos Os Musicais de Chico Buarque em 90 Minutos’ chega aí neste fim de semana, no Sesc Palladium, e os ingressos, pelo que ouvi dizer, estão quase esgotados. Mas isso aqui não um anúncio pra vender tickets, é uma declaração pública de gratidão por esta semana portuguesa, com certeza. Grato aos meus colegas, atores, músicos, técnicos que estiveram na jornada, e aos produtores da terrinha, que arrasaram! BH – a festa há de ser também bonita, uai!”, chegou a declarar.