Amor no Espelho: uma viagem à ilha mágica dos nossos corações nesses tempos difíceis


Nessa crônica, o jornalista Alexei Waichenberg pontua: “Nada de narcisos, egóicos, suficientes, bastantes, selfies. Falo do amor quando ele fala com você. Ele tem o que dizer”

Ilustração (feita exclusivamente para essa crônica), assinada pelo artista plástico Leandro Figueiredo, atualmente morando no Porto, em Portugal

*Por Alexei Waichenberg

Resolvi essa semana dar um descanso nas reflexões sobre o amor, antes, durante, depois da pandemia. Decidi olhar para dentro, perceber os contornos, viajar pelo vapor que nos conduz à ilha mágica dos nossos corações apaixonados. Conclui que podia fazer isso, nesses dias de reclusão, apenas ao olhar para o espelho.

Nada de narcisos, egóicos, suficientes, bastantes, selfies. Falo do amor quando ele fala com você. Ele tem o que dizer.

“Decidi olhar para dentro, perceber os contornos, viajar pelo vapor que nos conduz à ilha mágica dos nossos corações apaixonados”

Quando o vapor assume a sala de banho, o calor resume estranho a troca

É como sair da toca, sair de touca

São corações cafonas, iniciais sem pena

Flor sem cartão – Verbena

Cartão sem visita. O amor não marca visita

Assim, você se apresenta no olho, na alma, no espelho

Gosto da hemorragia, da fumaça, do ópio

Aprecio o amor que jorra, sai pelo ladrão, o amor que rouba sem tempo para comunhão, amor de invasão

Boto preço, faço caro

De embaçado, torno claro

E a rima que persegue, mais parece defeito, mas se explica no efeito

A brisa se espalha, camufla a mensagem

O calor combustível traduz, apressado, a passagem

A troca é justa e o dia de folga

O tempo é frio, o álcool esquenta para brindar felicidade

Já não perco os dias olhando as rugas pelo espelho

O amor impede em conselho.