“A paixão segundo Nelson – uma farsa musical brasileira” estreia no Rio. “É o nosso Shakespeare que, em vez de nobres e reis, retratou o homem comum’, diz Zeca Baleiro


Zeca é o responsável por compilar as crônicas da obra do autor em uma peça de teatro e foi quem assinou as músicas e jingles cantados ao vivo no palco

Um musical para chamar de nosso com orgulho estreou nessa sexta-feira, 26, no Teatro Bradesco, no Shopping Village Mall. Trata-se de “A paixão segundo Nelson – uma farsa musical brasileira”. Como não poderia deixar de ser, a obra reúne textos de Nelson Rodrigues, o “Shakespeare brasileiro que, em vez de nobres e reis, retratou o homem comum, suburbano”, de acordo com Zeca Baleiro, o responsável por compilar as crônicas do autor em uma peça de teatro. Zeca, que já assinou colagens de diversos textos de Nelson Rodrigues como “Myrna – Não Se Pode Amar e Ser Feliz ao Mesmo Tempo”, “A Vida Como Ela É”, “A Cabra Vadia”, e “À Sombra das Chuteiras Imortais”, gosta desse formato, porque adora o jornalismo do autor. “Apesar de considerar suas peças brilhantes, acho que a melhor literatura do Nelson está nos textos jornalísticos”, disse ele, criador das músicas e jingles cantados ao vivo no espetáculo. As histórias e dramas suburbanos se passam nos anos 50 e são contadas durante o programa de rádio “A Voz do Rio”, entre conselhos sentimentais, esportivos, musicais e rádio novela.

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Cenas de “A paixão segundo Nelson Rodrigues” (Foto: Marcello Sá Barreto/AgNews)

No elenco, nomes de peso como Vanessa Gerbelli, Helena Ranaldi, Jarbas Homem de Mello, Rui Rezende, Roberto Cordovani, Marcos Lanza, Giselle Lima e Lula Lira se dividem entre diversos personagens nas crônicas. O espetáculo é dirigido por Debora Dubois e tem, no palco, os músicos Adriano Magoo e Billy Magno. Jarbas Homem de Mello ressaltou que levar Nelson Rodrigues ao teatro é um privilégio. “É um prazer enorme falar as palavras de um gênio da literatura, grande cronista, grande contador de histórias. Tomamos muito cuidado pra não errar nenhum maneirismo da época, porque é tudo tão precioso. É um prazer enorme trazer Nelson em um musical, com músicas de Zeca Baleiro. E não é uma obra teatral, são os contos. É mais do jornalista Nelson Rodrigues do que do dramaturgo”, disse ele, que já viveu tantos personagens marcantes nos palcos e considera “teatro o meu negócio”. “Tem que estudar muito, observar o tempo inteiro, não existe um método de criação específico. É tentar entrar na cabeça do autor, estudar a obra dele como um todo, imaginar como ele pensava aquilo. Parto sempre do texto, do estudo. Um espetáculo se explica no outro, eles vão se completando e é sempre biográfico do autor. Cada processo é único”, afirmou.

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Myrna, conselheira sentimental do programa “A voz do Rio” no rádio (Foto: Marcello Sá Barreto/AgNews)

Ator, cantor e bailarino, Jarbas não se restringe a personagens em que possa mostrar as três facetas. “Não precisa ser tudo de uma vez em um personagem. Nesse não danço, mas canto e atuo. Gosto de contar boas histórias. Esse desafio novo é muito legal. Estou completo com esse espetáculo”, garantiu, após a estreia carioca. “A gente já está na estrada há quatro semanas, fizemos primeiro Nordeste, então o espetáculo já está com uma pegada”, analisou, endossado pelo colega de elenco Rui Rezende. “Foi uma recepção muito agradável, boa demais. Houve uma coisa muito quente em termos de público no Nordeste. Foi interessante. Nelson Rodrigues é sempre muito perigoso se não faz de acordo com o que é. Se não vai na essência, fica só na periferia, é fácil tropeçar. Para fazer um musical veio o carimbo do Zeca como autor, compositor, intérprete que deu um ponto de equilíbrio interessante. Tomara que seja mais sucesso do que já está”, desejou.

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O carinho de Jarbas Homem de Mello e Claudia Raia após o espetáculo (Foto: Marcello Sá Barreto/AgNews)

Vanessa Gerbelli, que vem se dividindo entre os palcos e a TV – ela está no ar como Ana em “Malhação – seu lugar no mundo”, comparou os trabalhos: “O teatro musical é um gênero bem legal porque é totalmente diferente da TV. Tem um rigor muito necessário”, analisou. Para a atriz, atuar em um musical cem por cento brasileiro é ainda mais especial. “É um barato. Sem critica nenhuma ate porque gosto muito do gênero, mas em um momento que tem uma profusão de musicais americanos vindo para o Brasil, é o que a gente tem. E termos um dos maiores dramaturgos do mundo, em uma peça musicada, é um enorme prazer. O texto do Nelson é sensacional mesmo quando ele se propõe a fazer algo divertido e para entreter. O pensamento dele é muito profundo, particular. Cada vez encontro algo mais especial nessa peça”, disse.

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Vanessa Gerbelli e Gabriel Falcão (Foto: Marcello Sá Barreto/AgNews)

Debora Dubois, que assina a direção do espetáculo, contou que o desejo de trabalhar na obra de Nelson já era antigo. “Eu e Zeca já havíamos trabalhado juntos em dois espetáculos e tínhamos o desejo de fazer alguma encenação baseada na obra do Nelson. E então, já não lembro como, veio o insight: vamos colar os textos do Rodrigues – conselhos sentimentais, memórias, confissões e os contos suburbanos e vamos fazer um musical”, contou, endossada por Zeca: “A proposta era fazer um espetáculo original, compilando varias facetas das obras de Nelson Rodrigues”. Pois conseguiram. Aplaudidos de pé.

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