“2 Números”, da Cia Teatro Portátil, leva espetáculo lúdico aos palcos do Teatro Eva Herz em curta temporada


Através de “Cama de gato” e “De dentro”, o diretor Alexandre Boccanera transporta o público adulto ao universo alegre de animação, com coreografias delicadas que contam histórias em uma linguagem que não necessita de palavras

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Os atores durante o espetáculo. Em “De dentro”, os bonecos saem de caixas para conhecer o mundo ao redor (Foto: Rodrigo Castro)

“Cama de gato” e “De dentro” compõe o espetáculo “2 Números”, que estreou nesse sábado, 9, no Teatro Eva Herz na Livraria da Cultura. A curtíssima temporada – só até o dia 31 de outubro -, leva ao palco uma montagem que se constrói sem palavras, a partir da movimentação dos atores animando objetos, máscaras e bonecos articulados em delicadas coreografias a partir da música original de Felipe Trotta. “A trilha sonora é o roteiro do espetáculo. O Felipe é um músico erudito competente, que conhece muito. Ele mandava a trilha e criávamos em cima da própria música, foi uma parceria intensa. Ele estava com a gente durante o período de criação e, até hoje, dez anos depois, assiste o espetáculo e ama. No teatro de animação não só a música acompanha e comenta as ações, mas ela em si é muito bonita, toda instrumental”, explicou o diretor Alexandre Boccanera. A peça, criada a partir de uma pesquisa da Cia Teatro Portátil sobre linguagem de animação, estreou em 2005 e, desde então, já foi apresentado em diversos festivais e mostras nacionais e internacionais e já esteve em temporadas em teatros de todo o Brasil.

A montagem teve apoio do Programa de Bolsas Vitae de Artes e, nessa temporada, integra a programação  “Projeto Palco Portátil – 3ª edição”. “Esse espetáculo tem dez anos. Na época, ganhamos a bolsa de pesquisa e nos inscrevemos para teatro de animação. Começamos a explorar a possibilidade em máscaras e em bonecos e resolvemos fazer os dois. O teatro do animação trabalha com uma linguagem própria, não tem uma história ou roteiro, são números curtos. A ideia de fazer dois números tem a ver com isso, são tempos diferentes de duração, com um prólogo de um boneco que questiona o fato de serem duas apresentações”, explicou.

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Em “Cama de Gato” os atores brincam com fios de algodão e desenham formas geométricas pelo espaço cênico (Foto: Rodrigo Castro)

Enquanto em “Cama de gato”, como próprio nome adianta, os atores transformam-se em personagens de máscaras que manipulam fios de algodão em movimentos que desenham figuras e formas pelo espaço, “De dentro” apresenta um boneco que sai do interior de caixas de papelão para conhecer o espaço ao seu redor e quem lhe dá vida, em uma metáfora dos mistérios que envolvem a presença do ser humano no mundo. “A manipulação que usamos é manipulação direta, pegando diretamente no boneco. Enquanto alguns atores mexem na cabeça, outros ficam com a bacia e outros com as pernas. Para dirigir cada movimento, precisamos passar a informação para os três manipuladores. São três pessoas em uma ação, então precisa de muita sintonia”, disse o diretor, que acredita que mexer com os bonecos é muito importante para o estudo do ator. “É legal aprender a se comunicar através do objeto. O ator tem a vaidade de estar sempre à frente e estar por trás da figura demanda muita generosidade e traz um domínio grande do próprio corpo e do gestual. Um momento sem muita confiança pode reverberar forte. Isso traz pros atores, que não são só manipuladores, uma clareza grande da motivação e intenção do movimento. O ator que trabalha com bonecos e máscaras adquire recursos para o próprio corpo e voz. Os elementos ensinam muito. São princípios ligados à dança, com trabalho corporal forte”, explicou.

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Os bonecos fazem uma metáfora da existência do ser humano no mundo (Foto: Rodrigo Castro)

E disso ele entende. Formado em direção teatral pela Universidade do Rio de Janeiro e em dança contemporânea na Escola Angel Vianna e na London Contemporary Dance School, Alexandre é o fundador da Cia Teatro Portátil e, além de “2 Números”, já dirigiu “Valsa Nº 6”, “Bonitinha, mas ordinária” e outras. O diretor já trabalhou com nomes como Luis Antônio Martinez, Bia Lessa, Moacir Chaves e João Falcão e, em “2 Números”, tem como objetivo resgatar o lúdico para os adultos. “Através das máscaras, do fio e do boneco, objetos que ganham vida em cena, convidamos o público a resgatar o lugar da brincadeira. Não tem falas, é só música e movimento. Acho que estamos carentes desse tipo de comunicação, mais silenciosa e intimista. A recepção é ótima e as pessoas saem encantadas. É incrível ver como os adultos despertam a criança que guardam dentro de si. Tem sessões que a plateia reage mais, outras o clima é de suspensão. Adoramos fazer para o público adulto”, analisou ele, emendando que o maior desafio é a divulgação. “Não entra no lugar comum, é difícil levar o público ao teatro para assistir uma animação, mas, quando acontece, as pessoas saem mexidas”, contou.

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Os atores manipulam os bonecos em apresentação lúdica (Foto: Rodrigo Castro)

Em 40 minutos, a história costuma encantar plateias de todas as idades em diversas partes do mundo. “Já rodamos muito com esse espetáculo, então é um desafio em termos. Sempre é difícil, porque são reações diferentes, mas, pelo que já fizemos, isso de trabalhar sem um texto não é limitador. A animação funciona bem com a sonoridade rica e as palavras não fazem falta. O teatro já amadureceu essa linguagem, os adultos ficam encantados com os movimentos, a música e a força do boneco, que reproduz o movimento da figura humana e explora o espaço, o corpo do manipulador. São situações lindas que parecem com coreografia. Como na dança e na mímica, que não precisam de fala, nesse espetáculo estamos seguros de que a comunicação realmente acontece”, garantiu ele. O enorme público que a peça conquistou não deixa dúvidas.
SERVIÇO
Espetáculo: “2 Números”
Duração: 40 min
Classificação Indicativa: Livre
Local: Teatro Eva Herz – Livraria Cultura
Endereço: Rua Senador Dantas, 45 – Centro (Metrô: Estação Cinelândia)
Telefone: (21) 3916-2600
Temporada: 09 a 31 de outubro de 2015 (sextas e sábados)
Horário:19:30h
Ingressos: R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia).
Lotação: 178 lugares (4 para cadeirantes)
Bilheteria: de segunda a sábado, das 17h às 19:30h