SPFW #Verão 16: cool! Com ritual indígena, Gianecchini e Deborah Secco, Cavalera prova que o universo dos índios se integra à moda!


Em dia que também trouxe Paulo Zulu e Mariana Weickert, Animale, UMA, TNG e Pat Bo mostram verão diversificado no primeiro dia do evento

A rodada de desfiles da edição Verão 2016 da São Paulo Fashion Week começou no Parque Villa-Lobos, em São Paulo nesta segunda-feira (13/4),  com a Animale revisitando o Café Society de décadas passadas em tempero minimalista (como pode ser visto aqui).

Logo em seguida, a UMA olha para o seu próprio umbigo brincando com a dupla androgenia & minimalismo, referências fortes nos anos 1990 e eternamente preciosas para a diretora criativa Raquel Davidowicz, que se esbalda no preto, branco e cinza, assim como no contraste entre a alfaiataria e transparências fluidas, trazendo à passarela códigos de masculino/feminino em looks nos quais apêndices como aventais e dobraduras se destacam nas montagens, além de pontas soltas que são prolongamentos de cintos que definem os shapes. 

Entre as peças desfiladas, ótimos macacões (frente única ou tomara-que-caia) chamam atenção, assim como os belos paletós em tecido amassado e os tubos longos – uma constante na marca. Risca de giz e pincelados no estilo Jackson Pollock são destaques.  Pontuando tudo, maxicoletes se encarregam de imprimir o devido ar descolado a essa marca que atinge a mulher de personalidade já definida, que sabe o que quer, assim como o homem, que volta a fazer parte do seu target. Boa notícia, já que a UMA sabe vestir de maneira tão singular este público.

No casting, além da boa presença de Barbara Berger, é um alento rever Sheila Baum, uma modelo de andar firme que sabe mostrar sua graça, assim como Natália Moreira e Renata Scheffer. Na plateia, Vanessa, filha de Raquel e Roberto Davidowicz, observa tudo, pronta para voltar definitivamente ao Brasil após três anos estudando fashion business no Istituto Marangoni, em Milão. Next generation?

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Com Paulo Zulu emoldurado pelo trio parada dura de louras Mariana Weickert, Gianne Albertoni e Shirley Mallmann, a TNG embala o público ao som de Fine Young Cannibals para apresentar seu desfile com inspiração 60’s em Elvis Presley, tudo perfeito como Tito Bessa – uma brasa, mora! –, o homem por trás do sucesso comercial da marca, sabe fazer. Essa fórmula, que acabou levando para a front row os globetes que costumavam ser a atração principal na passarela, parece funcionar bem e a moda descomplicada criada Enrico Pascoal é assim mesmo: praiana como convém a um verão brazuca, com ótima alfaiataria funcionando como pièce de resistence, dando dignidade ao conjunto da obra.

O tema da vez, o lifestyle dos anos 1960 com “Blue Hawaii, sucesso do Rei do Rock, é adequado para a proposta da brand e deve render ótimo material para o merchandising visual das inúmeras lojas da TNG, um império do varejo. No seu resort, se destaca a dupla azul com areia ou off white, com boa lavanderia seguindo a cartilha de lavagens dos anos 1990, a bola da vez na moda.

E, claro, em se tratando dessa década, comparecem também aqueles típicos desfiados destroy, além de respingos alvejados no jeans, tudo coisa dos early nineties, agora batizados como “aspectos de sujeira de areia na praia”. Sim, sempre vale reinventar, nem que seja no nome. Mas, no âmbito geral, são os prints de hibiscos – usados ad eternum pela moda – e a releitura das pólos (mais toques de cores fortes como rosa, amarelo, menta e azul) que se encarregam de dar novo tempero à grife na próxima estação mais quente do ano.

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E, já que a pegada é sessenta, a PatBo vai fundo nesse caminho, mas com uma levada Swinging London, com looks curtinhos em linha A, cheios de aplicações florais dignas de agradar Mary Quant, Pierre Cardin e aquela moçada que é referência quando algum figurinista quer recriar a modernidade futurista da época em algum filme ou peça de teatro. Bem verdade que Patricia Bonaldi, estilista da marca, faz tudo soar original com sua graciosidade na hora de acrescentar flores multicoloridas em acetato e acrílico bordadas sobre os vestidos brancos, trazendo a proposta para os dias atuais, adicionando couro para manter a estrutura rígida, mas sin perder la ternura jamás. As peças confeccionadas nesse material, aliás, ganham destaque ao lado de zibelinas, tafetá e organza

Se, na temporada passada, ela soube ser feminina voltando sua cápsula do tempo para a Idade Média e caindo direto em Game of Thrones, agora ela parece se contagiar com esse clima shaggadelic das mocinhas que fazem parte da turma de Austin Powers, mas que irá agradar em cheio as meninas-moças do novo milênio.

Nesse espírito, vale mencionar a contribuição de Claudia Arbex – com flores em resina usadas como brincos ou na decoração das bolsas box em acrílico –, das Óticas Ventura nos óculos e na boa linha de sapatos criada por Luiza Barcelos. Com ajuda dessa trinca da pesada nos complementos, mais a inteligente renovação da década pesquisada, não há como não dar certo.

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No fim da noite, a Cavalera prova que fechar maratona de desfiles é mergulhar no universo indígena. Literalmente, com a marca exibindo seu verão com fashion show que conta com a presença marcante de 21 integrantes da tribo Mutum, dos Yawanawás, do Acre, em cima da qual a coleção foi concebida. Os indígenas fizeram pintura corporal, as mulheres estavam com peitos nus e os homens com cocares – todo mundo perfumado com um delicioso aroma que lembrava orégano. Eles abriram o desfile dançando em volta de uma fogueira e evocando cantos típicos na Ilha Musical, espaço gramado do parque a céu aberto, enquanto os modelos desfilavam em sua volta.

E, como nada para a grife é simples, além de Reynaldo Gianecchini encabeçando o casting, havia Yasmin Brunet, assim como Deborah SeccoRodrigo Lombardi e Marieta Severo. Como assim? A Globo baixou na SPFW? Bom, quase. Em um exercício de metalinguagem, os cinco estavam interpretando seus personagens na próxima novela das 23h da TV Globo, “Verdades secretas”, de Walcyr Carrasco, cujo enredo inclui o mundo fashion. Motivo óbvio para a presença avassaladora dos paparazzi, que também se deliciaram com Ronaldo Nazário, ali para ver a namorada Celina Locks desfilar.

Bom, e a moda? O trabalho de pesquisa da marca é valioso e, além das ótimas estampas criadas a partir de grafismos usados pela etnia, peças em alfaiataria mescladas com itens esportivos, dentro do DNA da marca. Como a ideia é fazer moda usável repleta de sacações conceituais, surgem bordados baseados no artesanato de miçangas, uma onça estilizada e até referências ao kene – desenhos de significado espiritual –, tudo dando a tônica e valorizando o power jeanswear  e peças como parkas.

No fim, vale dizer que o streetwear caprichado da grife ganha o reforço dos calçados, um segmento no qual a Cavalera anda investindo pesado nos últimos tempos. Para os rapazes, sapatos fechados com várias fivelas, bem moderninhos, em cores fortes, em preto ou branco. Para elas, incríveis open boots, sejam ankle ou 7/8. Cool.

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