SPFW Inverno 16 #Day 6: enquanto a Ratier estreia em clima incensado, a Amapô arma baladinha gótica com os amigos da night


O último dia da maior semana de moda da América Latina contou ainda com as mulheres modernas de Giuliana Romanno e Patricia Viera, o glam rock à la David Bowie de Wagner Kallieno e o jeanswear supremo da Colcci pós-La Bündchen

A labuta fashion começou cedo no último dia de São Paulo Fashion Week. E necessitou de boa mente para os editores de moda. O motivo? Logo de cara, na cauda do dragão de Astrid, guerreira da animação “Como Treinar Seu Dragão”, Giuliana Romanno nos apresentou uma pirata urbana, daquelas que carregam o espírito dos antigos corsários. Menos lúdica, horas depois, a rainha do couro Patricia Viera preferiu lembrar sua ida ao Deserto do Atacama, no Chile, de onde trouxe inspiração para estampas em camurças. Tudo muito clean até que Wagner Kallieno interrompeu um até então sutil Inverno 2016 com um glam rock e imerso em couro, vinil, lã, camurça, e animal print. Só faltou chamar David Bowie para cantar. Na ausência do astro, Renato Ratier debutou na catwalk dando sobrenome ao mundo da moda com um belíssimo desfile sombrio inspirado em guerreiros e guerreiras. Campo de batalha aberto para a Colcci mostrar musculatura sem Gisele Bündchen e provar que pode fazer o frio que for, mas seus jeanswear estará lá, firme e forte. E, para encerrar a temporada, muita festa, já que é dura a vida de fashionista. A Amapô, debochada que só, armou uma baladinha lado B com morcegos, caveiras e teias de aranha. Medo? Ai, ai, drinque na mão, cara alegre e vem que a gente tem muita ironia para gastar até o Inverno chegar.

Giuliana Romanno

Em clima petit comitê, na manhã desta sexta-feira, divido em blocos, para apenas 50 convidados, e com 17 looks apresentados na galeria Rabeh, nos Jardins. Foi assim que Giuliana Romanno mostrou uma alfaiataria glamourosa e confortável, não necessariamente apenas usável no Inverno 2016. Com o desejo de vestir uma mulher livre, daquelas que transita em vários mundos, cosmopolita total, a estilista se inspirou em uma pirata urbana, com o espírito dos antigos corsários – à la Astrid, guerreira da animação “Como Treinar Seu Dragão”. Na passarela, um compilado de ofertas clássicas: camisaria leve e fresca, fendas, recortes estratégicos e um terno transformado em capa. No alerta tendência, as mangas alongadas, assim como os comprimentos das saias e vestidos, corroborando com a mulher que veste Giuliana Romanno: longilínea. Por ser atemporal, a cartela de cores não precisou tingir mais que listras em preto e branco, preto reinando solo e azul-marinho. Ah, e para conferir aquele ar da mulher glamourosa que acima citamos, nada como bordados de paetês. A continuidade de um belo trabalho em seu segundo ano de São Paulo Fashion Week.

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Patricia Viera

Da galeria Rabeh para o Centro Universitário Belas Artes. Foi lá que, assim como na última edição, Patricia Viera carimbou nosso passaporte – quase lotado nessa semana de moda paulistana – para o Deserto do Atacama, no Chile. Expert quando o assunto é couro, a estilista continuou entregando-o elaborado na forma em mix de materiais e cores. No próximo Inverno, o couro chega leve, já que foi cortado a laser e aplicado sobre uma tela. Detalhe: ele surge com tiras tramadas. Das areias do deserto, Patricia trouxe inspiração para estampas em camurças, e, pelo céu característico do local, recorreu aos signos dos zodíacos, pintados e bordados. A alfaiataria se fez presente em calças flare, as jaquetas deram as caras e o couro (novamente ele!) ajudou a trazer uma tendência forte para a estação quando foi aplicado em tecidos transparentes. Em tempo: a reunião da imprensa e convidados para conferir o lançamento da coleção também serviu para a estilista carioca receber o título de Professora Honoris Causa do Centro Universitário Belas Artes. Responsável por repassar seus ensinamentos na área da moda, ela contou com o prestígio da apresentadora Marília Gabriela e de Paulo Borges, idealizador e maestro da São Paulo Fashion Week.

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Wagner Kallieno

Ai de quem acha que o guarda-roupa do bom roqueiro só é recheado de couro, spikes e calças skinny. A turma da guitarrada também é glam e chegada em um cílio postiço, batom, purpurinas e muito salto 15, babies. O londrino David Bowie, grande expoente desse rock performático e fashion, que o diga. Aliás, foi esse movimento glam rock, em que Bowie, T-Rex e Siouxsie and the Banshees fizeram barulho (literalmente!), que inspirou Wagner Kallieno, estilista potiguar vencedor de um Rio Moda Hype, para apresentar seu Inverno 2016 na São Paulo Fashion Week. Com um ar também grunge, a coleção com perfume de festa sugere um Inverno com looks em couro, vinil (em abundância), lã (em xadrez também) e camurça, animal print, e, para mostrar que o glam é a tendência, muito brilho e detalhes metalizados (alô, David Bowie!). Tudo pode ser arrematado com uma pele. Atenção para uma alfaiataria desconstruída, bem moderna, e para os alertas preferidos de HT: vestido de vinil texturizado, minissaia acompanhada de manga comprida e a estética glam rock super bem acertada. Deu até vontade de largar tudo e dançar ao som de “Space Oddity”. Kallieno rocks!

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Ratier

A surpresa do último dia da edição de Inverno da São Paulo Fashion Week foi a estreia em grande estilo da label sob a direção de Renato Ratier. Múltiplo, o sul-mato-grossense é DJ, dono da casa noturna D-Edge e do Bossa, estúdio musical, bar, restaurante e hostel. A Ratier foi inaugurada no ano passado com uma pegada minimalista, descon
struída, com muitos tecidos orgânicos, apostando em algodões e couro, lãs e linho. Aos que perguntam ao empresário sobre o estilo, ele costuma comentar que é algo no estilo Rick Owens ou Boris Bidjan Saberi. O clima do desfile foi bem noturno e inspirado em guerreiros e guerreiras. Renato adora o preto e o cinza na cartela, mas arrasou quando entraram looks com o vermelho sangue. Tudo repleto de geometria. Sensacional. O couro é apresentado em forma de tricô e em diversas texturas e aplicações. O sportwear é ponto de destaque também, mas com um ar contemporâneo fascinante. O fashion show teve gelo seco para imprimir uma atmosfera sombria, um casting de modelos masculinos que deixou as mulheres em polvorosa e a entrada na passarela de um pastor belga. Urbanidade, vanguarda e inovação no cenário da SPFW.

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Colcci

Não teve Gisele Bündchen. Nem o tradicional frenesi à beira da catwalk. O desfile da Colcci foi bem diferente em relação ao da última temporada, sem aquele aparato todo, salvo uma fila A preenchida por Maria Gadu, Joaquim Lopes, Daniel Rocha e Giovanna Ewbank. Mas as tops Danni Witt, Angélica Erthal, Daiane Conterato e Aline Weber estavam lá para balançar o coreto por uma viagem rumo aos anos 70. Sim, para os bons de memória, a Colcci continua passeando pela década, mas, agora, com uma grande angular diferente na qual o sofisticado ganha vez. Se inspirando nos desertos de Gobi e Namíbia, a grife entregou a coleção “Nature Journey”, onde o jeanswear falou mais alto, logo de cara, em vestidos, casacos e jardineiras. Aqui, um detalhe: ele agora é sisudo e ao mesmo tempo soft. Destaque também para vestidos-casacos e pantacourts com meias, que a grife sugere como nova peça-desejo para os homens fashionistas no Inverno 2016.

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Amapô

A gente vem comentando aqui há um ano sobre o amadurecimento da Amapô. A dupla Carolina Gold Pitty Taliani têm mostrado um trabalho mais sólido e se consagrando de vez como a grife dos modernos com peças e montagens de primeira, tanto na modelagem quanto nos prints. E Amapô estava no lugar certo e na hora certa do line up da edição Inverno 2016 da SPFW: seu tradicional clima fun invadiu mais uma vez a catwalk naquela vibe de balada underground. E foram justamente os personagens dessa night, que estiveram representados. Como? Teias de aranha confeccionadas em um delicado trabalho artesanal fazem as vezes de camisa, enquanto isso, caveiras e morcegos, os highlights da noite, aferiram um lado gótico. “Tudo foi pensado em homenagem aos nossos amigos, que se vestem assim”, disse Carol Gold no backstage. E não podia ter sido melhor pensado. Pois, a turma amiga das estilistas também inclui muitos profissionais da moda. Portanto, em época de crise econômica, nada como incensar e dar as mãos aos amigos. Carregada de ironia, a coleção até tentou brincar com as trevas, mas, no final, como sempre, a Amapô do escuro ganhou luz. Com isso, a semana de moda paulistana foi encerrada da melhor forma possível. Foi festa total entre as curvas de Oscar Niemeyer.

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