SPFW Inverno 16 #Day 5: da ode ao Olimpo contemporâneo da Osklen ao “Game of Thrones” de Gloria Coelho


O penúltimo dia da maratona fashion contou ainda com os 80′ de Juliana Jabour, o artesanato de luxo de Fernanda Yamamoto inspirado nas rendeiras do Cariri, as mulheres guerreiras como Joana D’Arc by Lolitta e o mestre das passarelas Lino Villaventura

O quinto dia de São Paulo Fashion Week Inverno 2016, no prédio da Bienal, no Parque do Ibirapuera, começou com Gloria Coelho e sua aventura no universo dos povos nórdicos que nos transportou ao mundo da série “Game of Thrones”. Quem bem conhece a estilista sabe que ela é mestre absoluta em um estilo minimalista que pode flertar com passado e futuro com elegância. Fernanda Yamamoto fez sete viagens à região do Cariri, no Sul do estado da Paraíba, para uma imersão na vida das mulheres rendeiras, que, naquela realidade da caatinga semi-árida, possuem o talento e a força de um trabalho passado de geração a geração: elaborar as mais lindas criações com a renda renascença. A estilista fez uma releitura pós-moderna do artesanato de luxo com uma pegada autoral das mais impressionantes. Juliana Jabour, por sua vez, fez uma releitura dos 80’s com todo o glam que ela sabe imprimir de uma época de excessos. A grife Lolitta vestiu-se de armadura e desfilou uma mulher guerreira e independente à la Joana D’Arc. Lino Villaventura, que este ano enveredou para o teatro assinando o figurino do musical Nine, lançou mão do que mais sabe fazer na vida: criar os mais lindos looks com maestria e um mélange de materiais. Por fim, a Osklen antecipou as Olimpíadas com seu Golden Spirit e apresentou uma das melhores coleções da temporada.

Gloria Coelho

O ano de 2015 tem sido de conquistas e viagens em diversas áreas para Gloria Coelho. Ela inspirou todo o conceito de design de um novo hotel da rede Best Western, que será inaugurado no Arpoador, no Rio, com o nome Best Western Premier Arpoador Fashion Hotel, mergulhou no mundo teatral e ganhou o Prêmio Shell de ‘Melhor Figurino’ por “Trágica.3”, a peça de Heine Muller, Carlos de Andrade e Francisco Carlos, dirigida por Guilherme Leme, que relê os personagens das tragédias Medeia, Electra e Antígona e ainda tem um mega projeto pela frente no mundo do design e arquitetura. Palmas para Gloria. No início da tarde de ontem, na SPFW, só faltou nevar na passarela de Gloria Coelho. Aliás, na ausência do gelo, nossa mente viajou para os Sete Reinos de Westeros, da série “Game of Thrones”, para ficar bem próximo, mesmo que na imaginação, do frio gostoso e da inspiração nórdica que a estilista quis nos revelar. Feita as devidas mudanças de plano, acompanhar o passo das modelos de Gloria foi prazeroso. Com ar minimalista e como se estivessem passando por um inverno que começou lá atrás, as mulheres usam e abusam de mantôs, sobretudo, repletos de assimetria, e trabalhados em crepes acetatos, cetins de ceda pura, lã, couro e pelo de carneiro e coelho. Os ombros ora ficam de foram, enquanto as mãos são devidamente cobertas justificando os baixos termômetros da Escandinávia de Gloria. Aliás, por lá, off white, o cinza, o gelo e o bege conversam muito bem. No alerta tendência, os mantôs, as fendas e as tiras de couro chamaram atenção e são boas pedidas.

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Fernanda Yamamoto

A região do Cariri, no Sul do estado da Paraíba, foi cenário escolhido pela estilista Fernanda Yamamoto para uma série de sete viagens. Ela percorreu mais de 20 municípios para conhecer a fundo o trabalho e a força da mulher nordestina que, de geração a geração, produz as mais lindas peças com a renda renascença. “Estritamente manual, a renda vai sendo desenhada aos poucos, num exercício que demanda tempo, precisão e carinho. Não à toa é uma tradição, reproduzida há décadas por famílias inteiras, que se especializaram na arte de criar floreios e outros padrões com as linhas”, conta a estilista. A partir desta imersão, Fernanda idealizou uma coleção valorizando totalmente o feito à mão e fazendo uma releitura pós-moderna desta tradição. Desenvolveu em parceria com 77 artesãs organizadas pelo coletivo Cunhã uma renda com padronagens geométricas, com muita leveza e fluidez. Lindos demais os vestidos cuja renda renascença de algodão ganhou ainda couro, feltro, jacquards tingidos em tons em total consonância, como rosa clarinho, azul e verde. Outro ponto alto emocionante do desfile foi a entrada na passarela de Alice Michiko, 83 anos, avó de Fernanda de braços dados com a designer Agustina Comas e mais nove mulheres que colaboraram em todo o processo de criação desta coleção.

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Juliana Jabour

Se na edição da São Paulo Fashion Week Verão 2016, Juliana Jabour usou da pegada anos 70 para apresentar suas criações para a temporada quente, ela, agora, recorre a década seguinte para entregar as tendências do Inverno 2016. O diferencial, no entanto, é claro: na última estação, o passado era apenas um perfume. Agora, ele é o fio condutor. A pegada 80’s surgiu em forma minimalista, com looks fluidos, e, sobretudo, sofisticados, à la Juliana Jabour. Os ombros largos, as franjas e maxi bolas, junto das listras e dos xadrezes corroboravam com a viagem à época em que Os Paralamas do Sucesso e os Titãs estavam conhecendo a fama. O destaque ficou para a estampa de raios e para a silhueta que, de forma lúdica, faz o corpo desfilar como um triângulo invertido. Ah, e para não esquecer de falar em DNA, o cunho esportivo de Juliana continuou dando as caras, agora em jaquetas oversize, macacões e capas. Tudo banhado em uma cartela de cores fortes: azul royal, vermelho cereja, curry, beterraba e uva, por exemplo. Seguindo a proposta de anos trás, o inverno será da cintura alta, das canelas de fora e de muito volume na parte superior do look. Perfeito para um fim de noite ao som de “Thriller”, o grande sucesso da década de 80. Na passarela, a presença linda da apresentadora Fernanda Lima que desfilou com exclusividade para a estilista. Em tempo: imediatamente após o desfile, as bolsas e sapatos que ela desenhou em parceria com a Lez a Lez já estavam à venda no site da marca.

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Lolitta

Atenção para o percurso. O inverno de Lolitta Zurita Hannud começa em Praga, capital da República Checa, onde ela se encantou por armaduras medievais que pulsam as veias histórias da cidade. O motivo? O trabalho aplicado nos metais das peças foi artesanal. Dali, o ideal de força das armaduras usadas em combates, levou sua mente para a França, onde nasceu e morreu a heroína Joana d’Arc (1412-1431), personificação do empoderamento da figura da mulher por ter perdido a família de forma violenta ainda criança e pelos insides que a faziam orientar o exército francês em duelo contra a Inglaterra. Dessa forma, o que começou lá nos idos do século XV findou em um discurso mais contemporâneo possível: o do feminismo. Logo, com a vontade de vestir uma mulher forte e independente, a grife Lolitta usou couro para inserir perfume rock e ousado na coleção de Inverno, recorreu aos recortes e comprimento mídi de forma a conferir sensualidade, e usou e abusou do seu tradicional tricô, que foi apresentado com um plus: texturas especiais com tecnologia japonesa e italiana. Mix que, bom citar, não prejudicou a unidade do desfile e que ainda ajudou a valorizar as nuances das texturas utilizadas. O alerta tendência da coleção? Tramas nos colos e nas barras e peles com brilho, muito brilho. Afinal, mulher poderosa, digna de reverenciar Joana d’Arc, é destaque por onde passa. Até mesmo na frente de um exército medieval envolto a trincheiras.

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Lino Villaventura

Estas análises, pós-maratona fashion, dia-a-dia na SPFW, tem um objetivo: apresentar, discorrer e imprimir uma opinião sobre as coleções apresentadas e facilitar o seu entendimento, leitor, do que se passa na mente criativa dos estilistas e que deve virar febre no Inverno 2016. No caso de Lino Villaventura… a viagem é pura tradução de um saber fazer sempre! “Não sei dizer o que pensei! Falar da inspiração. Não sei qual foi esse momento onde se inicia uma imagem reveladora. Só sei que fiz e criei imagens fortes que permeiam meus pensamentos. Esta é a armadilha que eu armo para mim e me preparo para me surpreender… e sempre me surpreendo. E assim, à minha maneira, concluo mais uma coleção”, disse o estilista. Com tapa-olhos, as modelos, que faziam poses robóticas em frente ao pit dos fotógrafos, desfilaram looks mezzo psicodélicos, bordados e tramados com fios de ouro, prata, cristais e até vidrilhos. A coleção, que também teve espaço para transparências, manteve uma unidade ímpar, sugerindo um Inverno tomado pela seda, seja ela em tafetá, pura, trabalhada em tear ou em gaze. Lino ainda chamou atenção para os calçados (parceria sua com Okoko&Abel), onde sneakers e boots arremataram as peças com volume na parte superior e corte sinuoso. Um espetáculo bem diferente do que vimos, há cerca de duas semanas, no Minas Trend, quando o estilista estreou com uma coleção comercial, totalmente adequada aos tempos de consumo imediato. Lino, que também assina o figurino do espetáculo musical “Nine”, corroborou com o que há muito tempo ouvimos: nem tudo nessa vida precisa de explicação.

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Osklen

Osklen, com a mente criativa de Oskar Metsavaht, já pensa à frente, em meados de agosto de 2016, quando o Rio de Janeiro será o cenário da Olimpíadas e da Paraolimpíadas. Urbe do esporte por cerca de duas semanas, a cidade ganhará uma aura de Olimpo contemporâneo em um paralelo à Grécia Antiga. E é exatamente esse momento, em que os atletas se encontram em plenitude, que a Osklen quer trazer para seu Inverno. “Golden Spirit. Aquele instante em que o atleta recebe a sua medalha, e relembra todos os anos de pura dedicação e foco. Naquele momento seu espírito brilha e é consagrado pelos deuses do Olimpo. Foi através desse simbolismo que criei uma coleção que homenageia esse espírito que irradiará no ano que vem”, explicou Oskar. A partir daí, a passarela da SPFW foi invadida por peças inspiradas no universo esportivo, com vestidos, saias, bodys, e alfaitaria. Com o off white, o preto, o mostarda, o vinho, e o verde e dourado, of course, chamando atenção, a grife apostou em moletons, tricôs, veludos de seda, e sarjas de algodão. Destaque para os louros que ornamentavam as coroas na Grécia Antiga, na estamparia. Uma coleção digna de pódio, com o moletom falando mais alto.

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