SENAI CETIQT: webinar do Portal de Bioeconomia debate novas rotas de geração de ingredientes cosméticos sustentáveis


“O setor está na vanguarda no quesito recursos renováveis. Existe um potencial imenso de expansão. A União Europeia estimava, em 2019, que 44% das matérias-primas que a área de personal care usava eram renováveis. Isso significa que 55% ainda eram de origem fóssil’, observa o pesquisador da Coordenação de Inteligência Competitiva da instituição, Leonardo Teixeira. A proposta do webinar foi conversar sobre as tecnologias que estão sendo habilitadas para mais ingredientes naturais para a indústria de cosméticos, com ênfase na biotecnologia, nanotecnologia, novos processos de extração… A biotecnologia, por exemplo, faz parte das grandes ondas de inovação da História

O setor de cosméticos é um dos que mais cresce no mundo. E quais são as fronteiras tecnológicas para habilitar essa expansão de forma sustentável com a geração de novos ingredientes? Para analisar o cenário inovador que vem sendo implementado, o SENAI CETIQT apresentou o webinar “Fronteiras Tecnológicas: Novas Rotas para Geração de Ingredientes Cosméticos Sustentáveis”, segundo evento do Portal de Bioeconomia. O encontro virtual, que você pode conferir no canal do Youtube, contou com a expertise dos pesquisadores Alessandra Pereira, da startup paraense BioActive, voltada à pesquisa e tecnologia e que busca ativos da biodiversidade que beneficiam o ecossistema e as comunidades locais, incluindo o desenvolvimento de pesquisas sobre as propriedades de extratos naturais para uso na indústria cosmética; Antônio Carlos Machado, especialista da Natura atuando no desenvolvimento de ingredientes cosméticos a partir de processos biotecnológicos; e Camila Adão, gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Assessa, empresa com mais de 45 anos no mercado e especializada na produção de ingredientes bioativos de alta eficácia para as indústrias de cuidados pessoais em todo o mundo.

O webinar foi conduzido por Victoria Santos, coordenadora da área de Inteligência Competitiva e propriedade Intelectual do Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras; Liliane Andrade, integrante do time responsável pela governança e pela gestão do Portal de Bioeconomia, e com mediação de Leonardo Teixeira, pesquisador da Coordenação de Inteligência Competitiva do SENAI CETIQT.

Um dos maiores centros latino-americanos de produção de conhecimento aplicado à cadeia produtiva das indústrias Química e Têxtil, o SENAI CETIQT oferece à sociedade um leque de serviços nas áreas de Educação Profissional, Tecnologia e Inovação. E para fomentar a Tecnologia e a Bioinovação no Brasil, o SENAI CETIQT, por meio de seu Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras, tem lançado uma série de iniciativas, dentre elas o Portal de Bioeconomia. A plataforma, digital e de abrangência nacional, foi desenvolvida com o intuito de dar visibilidade e conectar os diferentes atores na área da bioeconomia e de ser reconhecida como o maior ponto de encontro sobre o tema no Brasil.

Sabemos que o Brasil concentra cerca de 20% da biodiversidade do planeta. E, segundo Liliane Andrade, integrante do time responsável pela governança e gestão do Porta de Bioeconomia, nós já temos cadeias agroindustriais e florestais muito bem estabelecidas. Mas, existe o potencial para aproveitarmos outras fontes vegetais que podem ser exploradas de maneiras sustentáveis e contribuir para a geração de riqueza no país. “Há um estudo feito pela Associação Brasileira de Bioinovação em conjunto com SENAI CETIQT, Cenergia/UFRJ (Centro de Economia Energética e Ambiental), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e o CNPEM (Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais) que mostra que as inovações podem gerar até 392 bilhões de dólares de receita até 2050 com um cenário de emissões bem abaixo dos dois graus Celsius em 2100. Esse estudo ainda será divulgado com todos os detalhes”, revela.

O fato é que a geração de ingredientes cosméticos sustentáveis está em alta potência. “O setor de cosméticos está na vanguarda no quesito recursos renováveis. E também vemos um potencial muito grande de expansão de seu uso para diversas formulações”, observa Leonardo Teixeira, pesquisador da Coordenação de Inteligência Competitiva do SENAI CETIQT e mediador da conversa, acrescentando: “A União Europeia estimava, em 2019, que 44% das matérias que o setor de personal care usava eram renováveis. Isso significa que 55% ainda eram de origem fóssil”.

Diante dessa percentagem tão alta, a pesquisadora Alessandra Pereira, da BioActive, startup que abriu as portas em 2017 no Pará, sinaliza: “Quando observamos a Amazônia, vemos sua exuberância em fauna e flora, a riqueza de uma das maiores florestas tropicais do mundo. E não conhecemos um terço das variedades de espécies e micro-organismos. Pouco é descoberto. O mercado de extratos naturais é gigantesco. A OMS estima que mais de 500 bilhões de dólares são investidos anualmente nas áreas farmacêutica, alimentícia e de perfumaria”, conta. “A BioActive tem como objetivo, entre outros, descobrir ativos, matrizes regionais e novas aplicações, criando soluções inovadoras que atendam demandas mercadológicas”.

Um dos projetos da BioActive voltado para a área de cosméticos é o do extrato de jambu, idealizado ainda em 2017. Para levar o projeto adiante, a startup decidiu envolver as comunidades agrícolas da região: “Temos contato com a agricultura familiar, o tipo de cultivo, o parâmetro, o processamento. Fechamos parcerias de projetos com o SENAI CETIQT e Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), o que nos ajudou a avançar com a produção de extratos naturais. Conseguimos desenvolver um controle de qualidade”, revela a pesquisadora. “Temos um clareador de pele que é a nossa menina dos olhos. Usamos apenas matéria-prima especificamente amazônica. Fizemos uma fermentação utilizando nossos conhecimentos biotecnológicos e conseguimos obter o ativo, que também possui propriedade antioxidante. E melhoramos o produto para conseguir maior estabilidade”.

Ainda este ano começa a ser desenvolvido o projeto de produção de betacaroteno por microalga. Trata-se de uma alternativa natural aos pigmentos sintéticos usados pela indústria. Serão usadas estirpes de microalgas já conhecidas da costa brasileira cultivadas em meio salino. “E vamos produzir esses carotenóides que são pigmentos que podem ser voltados para a indústria cosmética, farmacêutica ou até mesmo alimentícia”, anuncia Alessandra Pereira.

 

A gigante Natura está no ranking das empresas mais sustentáveis do planeta. Hoje, o grupo Natura & Co, composto por Aesop, The Body Shop e Avon, é o quarto maior do mundo no setor de beleza. “Sempre tivemos essa pegada de sustentabilidade, de uso dos recursos da Amazônia no portfólio. A linha Ekos usa os ativos da biodiversidade amazônica e é só um exemplo. A pegada da sustentabilidade vem do nascimento da empresa, é de raiz”, ressalta o especialista Antônio Carlos Machado. “A Natura vem apostando nos últimos anos nos desenvolvimentos biotecnológicos. A linha para cabelos Lumina tem uma proteína similar à teia de aranha em sua composição produzida através de um processo biotecnológico. Esse é nosso primeiro grande lançamento com utilização dessa tecnologia e abre portas para vários outros desenvolvimentos”. Segundo o site da Natura, foram dois anos de estudos sobre a estrutura das teias de aranha para entender como ela pode ser cinco vezes mais forte que o aço e mais maleável que o náilon. “Nesse processo, descobrimos que tanto a proteína da teia como a do cabelo possuem o mesmo design, revelando uma afinidade única entre eles. O próximo passo foi reproduzir essa tecnologia em laboratório, dando origem à Biotecnologia Pró-teia, e desenvolver um sistema de ação inteligente. Isso significa que a nossa proteína vegana tem a habilidade de se acomodar apenas nas regiões do fio onde é preciso repor massa capilar”.

Pioneira no desenvolvimento e na produção de ingredientes derivados da biodiversidade brasileira e de outras fontes botânicas sustentáveis, mantendo elevados padrões matérias-primas qualificadas, a Assessa exporta bioativos para mais de 26 países nos cinco continentes. “Dentro do conceito de sustentabilidade de ingredientes de cosméticos, nós temos diversos parâmetros que são levados em consideração nos quais cuidamos de nossos oceanos, com a blue beauty; a green beauty, em que avaliamos todos os processos da cadeia de produção das matérias-primas; o conceito de waterless, com o uso responsável da água; o conceito de upcycling, que é transformar subproduto em produto com ação criativa; o ESG, que traz avaliação ambiental, social e de governança; a rastreabilidade, em que avaliamos desde a matéria-prima até o produto final; e a parte social, na qual estamos estabelecendo a conscientização dos nossos colaboradores internos e externos”, comenta Camila Adão.

Segundo a Gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação na Assessa, a empresa foi a primeira a utilizar algas tropicais em ingredientes cosméticos (são riquíssimas em bioativos); foi a primeira a adotar princípios de química verde na produção de seus ingredientes: em todo o portfólio de ingredientes ativos, a química verde vem sempre como um conceito primordial. Mas por que as algas? “Elas têm diversas características atrativas de sustentabilidade. Não há fertilizantes nessas matérias-primas, que não requerem pesticida, têm grande capacidade de produção de biomassa e são fontes de bioativos muito diferenciados. Em se falando sobre cosméticos, acabamos de lançar um novo produto, o Algavite, que foi todo desenhado e desenvolvido a partir de algas e com um projeto de sustentabilidade”, revela. Algavite é um bioativo com potente atividade imunomoduladora que estimula o equilíbrio estrutural do couro cabeludo e melhora suas funções vitais, com benefícios comprovados através de ensaios clínicos e in vitro. Algavite é rico em galactanas e poliuronatos bioativos extraídos de algas marinhas.

Os processos de desenvolvimento de ingredientes altamente sustentáveis criados pela Assessa representam uma busca por matérias-primas com alto índice de naturalidade; produtos com menos teor de água e baixo impacto ambiental. Um outro exemplo é o upcycling a partir de resíduos de biomassa. A Assessa desenvolveu processos verdes para extrair moléculas valiosas de resíduos industriais gerados no processamento de linhaça e chia. A estratégia de upcycling agregou valor aos resíduos agroindustriais e também contribuiu para a redução do descarte no meio ambiente.

Quais são as fronteiras tecnológicas? O que vai habilitar essa expansão no setor de cosméticos de forma sustentável com mais ingredientes naturais? Biotecnologia, nanotecnologia, novos processos de extração… o que veem como possibilidades?

O especialista da Natura é o primeiro a responder: “No report 2020/2030 da Mintel (empresa privada de pesquisa de mercado com sede em Londres), que fala de cosméticos e traz as inovações de ingredientes, já conseguimos perceber a tendência de lab grown ingredients, materiais desenvolvidos dentro de laboratórios. O consumidor também enxerga o vínculo entre ingredientes biotecnológicos e veganismo, que é a não-utilização de qualquer ingrediente de origem animal. Vejo a biotecnologia além do desenvolvimento de produtos. Ela já vem sendo usada dentro do segmento de cosméticos para personalizar esses produtos. Hoje, por exemplo, é possível comprar um creme baseado no seu DNA”.

Antônio Carlos Machado pontua que a nanotecnologia também está acoplada e pode ajudar muito. “É outra fronteira do conhecimento”. lembra. Acrescenta ainda a importância da Natura trabalhar junto às comunidades da Amazônia tentando impulsionar desenvolvimentos novos, gerando cadeias de valor dentro da Amazônia. “E a gente vê isso refletido, especialmente na linha Ekos”, afirma.

Para a gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação da Assessa, a biodegradabilidade é uma tecnologia fundamental. “O consumidor não avalia o que usa só como eficácia, ele também se importa com o impacto no meio ambiente. A green beauty está sempre em nossos estudos para desenvolver ingredientes ativos 100% biodegradáveis, veganos, com Certificado Cosmos (estabelece requisitos de certificação para produtos orgânicos e naturais com padrão reconhecido globalmente pela indústria de cosméticos) e segurança comprovada. Usamos as tecnologias para atender ao desenvolvimento de ingredientes”, conta Camila Malafaia.

A constatação de Antônio Carlos Machado, da Natura é que a biotecnologia veio para somar. Para cadeias sazonais, por exemplo, que têm dificuldade de fornecimento, pode ser uma alternativa bastante relevante. Por exemplo: para se conseguir o perfume das rosas é necessária uma tonelada de pétalas. Como a biotecnologia pode apoiar esse tipo de desenvolvimento de uma forma mais sustentável? Os processos de biotransformação de aromáticos para perfumaria são um bom exemplo. A biotech vem para apoiar essas rotas clássicas da indústria cosmética com desenvolvimentos disruptivos.

Segundo Antônio Carlos Machado, o melhor exemplo do saber inovar foi o desenvolvimento da vacina anti-Covid em tempo recorde: “Antigamente, levávamos 10 anos para produzir uma vacina. Em menos de um ano de uma pandemia que colocou o mundo em silêncio, porém, vimos uma empresa colocar no mercado uma vacina eficaz que usa a tecnologia do DNA recombinante com todos os testes de segurança desenvolvidos. O que era impensável tornou-se possível com o apoio da biotecnologia. O desenvolvimento da vacina anti-Covid é um marco que vai ficar gravado no século”.