SENAI CETIQT: Com ‘Euforia’ como conceito central, Inova Moda Digital lança luz sobre a Macrotendência Verão 23/24


Integrantes do Núcleo de Moda & Design do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção (IST), do SENAI CETIQT, fizeram uma imersão nos cenários que vêm sendo desenhados nos âmbitos sociais, econômicos e relacionados ao meio ambiente, decodificando realidades e alinhavando futuros no que diz respeito à moda e consumo. O resultado da pesquisa é sinônimo de uma série de referências e inspirações para empresários do setor têxtil e de confecção lançarem mão da criatividade e inovação em produtos e análises mais assertivas. Em síntese, “Euforia” lança luz sobre o híbrido, engajamento, percepções, propósitos e valores com um zoom para a geração Z e como ela está influenciando uma grande mudança de paradigmas

A palavra-chave “Euforia” permeia o Relatório de Macrotendência Primavera-Verão 23/24, que você pode conferir a um toque do seu mouse na plataforma Inova Moda Digital. Durante meses, sob coordenação de Christina Rangel, head de Pesquisa do Inova Moda Digital, os integrantes do Núcleo de Moda & Design do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção (IST), do SENAI CETIQT, fizeram uma imersão nos cenários que vêm sendo desenhados nos âmbitos sociais, econômicos e relacionados ao meio ambiente, decodificando realidades e alinhavando futuros no que diz respeito à moda e consumo. O resultado da pesquisa é sinônimo de uma série de referências e inspirações para empresários do setor têxtil e de confecção lançarem mão da criatividade e inovação em produtos e análises mais assertivas. Em síntese, “Euforia” lança luz sobre o híbrido, engajamento, percepções, propósitos e valores com um zoom para a geração Z e como ela está influenciando uma grande mudança de paradigmas. “Momentos de arrebatamento, que podem ser poderosas forças disruptivas, boas oportunidades para criar mudanças positivas e encontrar novas possibilidades. É um grande fervo e intenso. É uma nova forma de trabalhar. É sobre vibração e euforia”, frisou Chris Rangel.

O projeto Inova Moda Digital é fruto de uma parceria entre o SENAI CETIQT e o Sebrae Nacional para democratizar o acesso a conteúdo e informações de qualidade para micro e pequenas empresas de moda e confecção brasileiras. A plataforma é um canal a serviço da indústria da moda e apresenta insights e tendências globais, comportamento e consumo para impactar a transformação dos profissionais e negócios de todo o setor moda, confecção e têxtil a partir da sinergia entre insiders e players.

Consultor técnico do SENAI CETIQT e gestor de Processos Inova Moda Digital, Bernardo Barbosa deu as boas-vindas aos convidados das palestras presenciais e online e a coordenadora Nacional da Cadeia de Valor da Moda Sebrae Nacional, Anny Tonet, ressaltou a importância do projeto, que segue apoiando e informando o empreendedor para aprimorar e construir negócios com criatividade e propósitos “dentro daquilo que a gente quer viver e ser enquanto mundo”. O resultado da pesquisa foi apresentado por Christina Rangel, que contextualizou a macrotendência sob o ponto de vista analítico de mercado; Cléber Lima, do SENAI Pernambuco, responsável pela Inteligência de Produtos do IMD e que decodificou as tendências em produtos, e pela consultora do Instituto SENAI de Tecnologia Têxtil e de Confecção e head Moda Circular IMD, Angélica Coelho, abordando a sinergia entre a macrotendência “Euforia” com jornadas de consumo. Antes, porém, contamos com uma palestra introdutória sobre a geração Z e a estética Y2K (Anos 2000) realizada pelo jornalista multimídia Caio Braz, produtor de conteúdo que usa suas plataformas para falar de temas como moda, regionalismos, música e viagens.

GERAÇÃO Z – SOCIEDADE EUFÓRICA

Caio Braz fez uma análise sociológica enfatizando que a geração Z tem o domínio completo das redes sociais e, muitas vezes, substitui o tempo real da conversa pelo digital. São pessoas que nasceram entre 1995 e 2010. “Todas as relações são permeadas pelos aplicativos de redes sociais. Muitas vezes, a galera da geração Z está se afirmando pela imagem que imprime nas redes sociais. É um marcador importante para entendermos como se comunicar com essa geração e como ela acaba revolucionando a moda no mundo inteiro”, pontuou.

Caio Braz fala sobre a Geração Z: perfil, moda e consumo

O faturamento no e-commerce cresceu 785%. É um número astronômico. Isso foi muito movido pela Geração Z , também, que começou a comprar muita roupa e usar em casa para mostrar nas redes sociais como local de expressão de moda – Caio Braz

Ele abordou aspectos extremamente importantes, tais como rede social extensão do “eu”; a maneira mais fluida que a geração Z trata a questão de gênero; o protagonismo da diversidade, a pressão social que gera ansiedade em alta potência, o crescimento em mais de  140% de jovens que fazem procedimentos estéticos. Citou ainda a conexão com a série “Euphoria“, que conta a história de um grupo de adolescentes com seus traumas e seus desejos. “É uma série icônica para uma juventude que está numa espécie de panela de pressão e que quer se libertar. A moda, torna-se a ferramenta para atingir essa liberdade”, ressalta, lembrando que a grande referência da geração Z tem sido a estética Y2K voltada para os anos 2000. Ele acredita que existe uma nostalgia de um tempo não vivenciado, um inconsciente coletivo de olhar para trás e achar que tudo era melhor do que aquilo que vivem hoje. “Dessa forma, quem tem 20, 22 anos, atualmente, sente um certo saudosismo de quando a tecnologia ainda não dominava o homem, estava chegando. O celular de flip, cuja interação com as pessoas acabava assim que era fechado, representa bem esse tempo menos tecnológico”.

A ressignificação total do papel da mulher também é parte integrante das ações da geração Z. “Os anos 2000 tinham uma estética que era Barbie, né? Hoje existe até o movimento Barbie Core, de usar bastante rosa. As mulheres que estavam à frente dos holofotes naquela época, eram vítimas de misoginia o tempo todo, extremamente objetificadas, como se fossem louras burras. Hoje, quem usa um look completamente rosa quer passar uma mensagem de que optar por peças nesta cor também é uma ferramenta de poder, de transformação e que não vai aceitar ser chamada de fútil por que está usando rosa”, observou Caio, acrescentando: “Acho que é olhar para o passado com as referência que são coloridas, que são eufóricas, de fato, que são divertidas e pegar aquele sentido que talvez, um dia, fosse opressor e transformar o discurso”.

Outra imensa influência da estética dos anos 2000 está na cultura clubber, um movimento de liberação total através da música eletrônica, do aproveitamento da vida ao máximo, do uso de muitas cores, da subversão de tudo que fosse uma ordem padrão de se vestir, trabalhar e agir.

Essa nostalgia do que não foi vivenciado se transforma em shape, produto, imagem. E Caio Braz apresentou exemplos do resgate dos conjuntos de moletom monocromáticos e das peças com tela (mesh) também estão em alta: “Se você for a uma festa em que todos tenham em torno de 20 anos de idade, 20% da galera vai estar usando peças em tela com todo tipo de modelagem. Muitas vezes, bastante sensual, porque já existe uma transparência. Experimente colocar a hashtag #mesh no TikTok para ver quantas trends de pessoas indo nas lojas garimpar, mostrar para as amigas. Esse material é extremamente popular”, sinalizou Caio Braz, lembrando ainda que, quando falamos de geração Z é muito importante não esquecer de que todos os corpos dessa turma usam todas as tendência. “Nada é proibido, pelo contrário, é preciso haver todos os tamanhos nas grades: GG, 2GG, 3GG. Esse público é carente de disponibilidade na loja, de encontrar algo que é tendência e que, muitas vezes, aquela pessoa, por ser de um tamanho maior, não consegue usar”.

Já que estamos falando de estética Y2K, não há como deixar a nail art de lado. “Essa estética vem desde as cantoras negras do R&B americano do final dos anos 90 e do começo dos anos 2000. Se você quiser pesquisar Y2K, veja clipes das artistas negras daquele tempo”. Assim como a volta do corset, que deixou de ser símbolo de opressão e ganhou conforto por conta das tecnologias usadas na produção; as polêmicas calças cintura baixa; as calças paraquedas (parachute pants), com cintura baixa e mil bolsos (wide leg); nos calçados, as plataformas, os tratorados. No mercado de beleza, a profusão das aplicações de cristais, o uso do néon nas maquiagens. “Essa estética comporta faixas de cabelo e todo tipo de acessório com leveza e ludicidade com borboletas, florezinhas, colares de miçanguinhas com estrela. É algo muito leve, embora venha com brilho. Não tem uma natureza gótica ou qualquer coisa do tipo, pelo contrário. É colorido, alegre e solar”.

Resumindo em algumas tags, falamos da estética Y2K em produtos, modelagens, telinha, minissaia, conjuntos atléticos, corset, nail art, acessórios cintilantes, cintura baixa, maquiagem dramática e néon. É quase uma obsessão dessa geração aprender sobre os anos 2000 e curtir essa nostalgia do que não vivenciou. Às vezes, é muito gostoso, quando o mundo está um caos, se jogar para uma época quando tudo parecia um pouco melhor – Caio Braz

CONTEXTUALIZAÇÃO ANALÍTICA DE MERCADO – FOCO NA GERAÇÃO Z

Christina Rangel, head de pesquisa do Inova Moda Digital, abre sua contextualização falando sobre a aceleração verificada nesses dois últimos anos – a industrial, a tecnológica e social  – e sobre a quebra das barreiras de identidade e gênero até então norteadoras de trabalhos de desenvolvimento de produto. Ela mostra uma pela publicitária da Lacoste, na qual uma mulher com seus 60 e tantos anos e um rapaz da geração Z estão usando a mesma camisa polo cor de rosa da marca. “É o retrato de mais uma barreira, a intergeracional, que foi quebrada durante esse período”, observou, aproveitando para lembrar que estamos saindo de um período de muita instabilidade: “Há uma policrise instalada. Primeiro, foi a crise da ansiedade por não podermos nos relacionar; paralelamente a isso, veio a intensificação das discussões sobre a crise climática e ambiental; a política foi polarizada no mundo inteiro; enfim, em função da guerra da Ucrânia com a Rússia, que não podemos deixar de mencionar, existe uma incerteza e uma inflação correndo no mundo. E aí surgem as emoções que estão prevalecendo nesse contexto. Quais são as necessidades, quais são as demandas das pessoas?”

Algumas expectativas mais intensas nesse momento são o Propósito (“o que as pessoas estão buscando?”), a Consistência (“não dá mais para ter discurso inconsistente entre as nossas relações nem nas relações com as marcas”) e o Cuidado (“é o cuidado com o outro, com a cidade, com o seu local, com a natureza. É cuidar daquilo que faz parte da sua vida). A importância de estar em Comunidades, de buscar propósito, sentido e consistência (“em grupos que podem fazer acontecer ao invés de tentar fazer sozinho”). E o quanto a gente se encanta e a necessidade de se ter momentos virais como observados com a geração Z.

Segundo Chris Rangel é premente para quem está fazendo produto, quem tem uma marca, mandar uma mensagem para o mercado. “Esses jovens têm uma representatividade global, estão começando a entrar em um mercado de trabalho, que é completamente diferente do que a gente imagina. A lógica de capital deles é outra. É preciso dar um zoom nessa geração e entender como influencia os nossos negócios. A forma acelerada e não-linear como estes jovens pensam quebra a lógica de consumo. Não tem mais como fazer uma análise de consumo usando ferramentas e parâmetros antigos. Por ‘antigos’ estou falando de 2020 para trás, porque tudo mudou nos últimos dois anos”, avaliou.

Se não prestarmos atenção, se não entendermos o que estes jovens modificam, onde interferem e quais são os impactos das ações, das atitudes e da forma como pensam sobre a indústria da moda, fica muito difícil ter uma conexão da marca com uma comunidade – Chris Rangel

IMPACTOS DA GERAÇÃO Z NA INDÚSTRIA DA MODA

Não existem mais barreiras à informação e produtos. Chris Rangel ressaltou que as minas de ouro são as plataformas de mídia social, o TikTok e o Instagram. “A todo instante, principalmente no TikTok, surge uma microtendência. De onde vem isso? Parece que vem do nada, mas não é assim, vem de um contexto. As séries da Netflix e da HBO também. Tudo isso influencia na pesquisa de tendências. Como correr atrás dessa velocidade e intensidade de informações? É um ponto urgente que tem que ser muito pensado. O tempo todo temos esse entretenimento que é, ao mesmo tempo, informação em tempo real, segundo a segundo. Você olha o TikTok agora e, daqui a pouco, já está acontecendo outra coisa”.

Os ciclos de lucratividade são questões importantes também e geradores de impacto forte na indústria da moda. Ainda tem empresa que pensa na lógica de lançar quatro coleções por ano (primavera/verão, outono/inverno, alto verão etc) e de trabalhar com esses ciclos hoje considerados imensos. Como trabalhar com ciclos muito curtos e sobrepostos? Porque a renovação é constante e não espera passar uma estação?.

“É aí que precisamos aprofundar a análise de dados. Não dá mais para trabalhar sem informação, sem dados, não só sobre as comunidades que estão ao redor da sua marca (quem são essas comunidades, como se comportam) como também dentro da sua empresa (quais são os meus produtos-heróis, por que eles são heróis, o que eu posso aproveitar dessa influência). É preciso fazer coleção toda hora? Essa é uma premissa do lean design (design para manufatura enxuta) aplicada no Inova Moda Digital”, comentou Chris.

Quando começamos a analisar a passarela do Verão 23 e colocamos uma lente de aumento nos produtos, percebemos que o resultado de hoje é um boom, uma explosão de tudo isso que vem sendo observado e trabalhado desde o Verão passado. Na verdade, a inovação está na forma como conjugar os elementos de uma maneira inusitada, divertida, vibrante, eufórica” – Chris Rangel

E aí vem o resultado que foi visto nas passarelas. Chris Rangel ressaltou que, apesar de todas as cores e da efusão de materiais, a indústria está com o pé muito no chão. “Porque é sabido, desde que começou-se a entender o período pandêmico, que ele não iria embora tão cedo. Tanto que está acontecendo de novo. Hoje, lançar uma coleção sem intensificar a curadoria está fadado ao fracasso. Não dá mais para fazer como antes. Entender que, hoje, produzir menos não significa perda. Abandonamos a lógica do ‘vamos produzir, produzir, produzir e colocar no estoque’, porque a perda está no estoque parado, seja no tecido, seja no produto acabado. Produzir menos é uma forma mais inteligente de trabalhar. Esse momento pós-caos é conflitante, porque vemos o colorido, a efusão de produtos, as jornadas de consumo encantadoras super envolventes. Mas também vemos essa necessidade de segurança para poder caminhar bem”.

INTELIGÊNCIA DE PRODUTOS

O Verão 23/24 é pura potência. De acordo com o responsável pela Inteligência de Produtos do Inova Moda Digital, Cléber Lima, do SENAI Pernambuco, cabe a cada empresa, designer, identificar quais são as forças do seu portfólio de produtos e, através disso, captar sinais de como pode ser atualizado independentemente da temporada, do consumidor ou da região em que a empresa se encontra.

A macrotendência Euforia pode ser dividida em três conceitos: Terra dos Sonhos, Festival e Playlab que, por sua vez, contam com subtemas. Em Terra dos Sonhos, o romance minimalista, as múltiplas texturas com apelo sutil, as infusões do universo da lingerie no guarda-roupa casual e construções de camadas delicadas e sensualidade. Festival vai da alegria à catarse, tem excesso decorativo, mood de férias e diversão vinda das alturas. Last, but not least, Playlab vai da expectativa à efervescência e conta com efeito dopamina, ácido, Y2K (Ano 2000), proporções estendidas, provocação e elementos psicodélicos. São tipos de felicidades, euforias. Em níveis e ritmos diferentes.

TERRA DOS SONHOS

Fala sobre um desejo refrescante de sonhar e de como o sonho, conectado às necessidades da vida real, traz uma renovação estética para o guarda-roupa minimalista contemporâneo. “O lance desse tema é uma perspectiva muito mais romântica para produtos que são clássicos do guarda-roupa. Nós podemos definir essa abordagem como encanto e acolhimento através da fusão de práticas artesanais com tecnologia aplicada”, explicou Cléber Lima. “Estudamos produtos com o viés de quais informações ele carrega no sentido de quantos elementos estáticos são possíveis de extrair dessa tendência e como podem ser aplicados, independentemente do nicho de produtos da minha empresa”.

Objetivo é identificar em todos esses canais de informação o que pode ser trazido para o mercado nacional como uma potência de criação. O nosso objetivo não é trazer uma fórmula pronta ou uma lista de informações que você vai simplesmente copiar e colar no seu produto. A ideia aqui é energizar a sua equipe de criação encontre novos caminhos para levar seus produtos para novos lugares ou para surpreender o seu cliente – Cléber Lima

Nesse caso, os novos códigos dialogam sobre a necessidade de um romance minimalista, o uso de múltiplas texturas com aspecto bastante sutil, do uso de infusões do universo da lingerie no guarda-roupa casual e de construção de camadas delicadas e, ao mesmo tempo, importantes. E, por fim, uma sensualidade suave que dialoga muito com essa história de um verão eufórico.

Num grande resumo visual dos direcionamentos dessa primeira linha estética, falaríamos, principalmente, sobre uma cartela de tons pastéis, “empoeirados” e ensombreados onde a cor é uma base muito clara para a exploração de diferentes texturas e beneficiamentos. “Observem que temos três níveis de aplicações dessas informações. Do lado direito de quem está na foto, produtos que propõem evolução, ou seja, como introduzir essa tendência no meu portfólio sem assustar o meu cliente. Então eu tenho modelagens clássicas atualizadas com tecidos quase impalpáveis, com cores ‘empoeiradas’ e ‘sujas’, porém românticas”, diz Cléber Lima.

As imagens do meio são sobre como evoluir no guarda-roupa do cliente de forma assimilável, sem causar susto nem ficar naquela linha estável. “Aqui a gente fala sobre assimetria trazida para o universo romântico. Modelagens delicadas são subvertidas, porém continuam fáceis, são peças que você veste e funcionam sem muita complexidade. Já na experimentação, eu tenho uma mistura caoticamente bela de superfícies, onde tudo visto de perto é muito importante mas, visto de longe, parece muito simples”.

Por último, nesse conceito, estão as camadas do boudoir (ou as camadas que lembram lingerie). “Só que eu não tenho modelagens de baby doll, eu tenho regatas, tenho T-shirts. A transparência substitui a casualidade do algodão e da malharia, trazendo esse contraponto entre o que é muito raro, delicado, muito trabalhado em termos de textura fundido com modelagens muito triviais. É uma riqueza possível, é uma roupa que você veste e acontece, é uma pitada de sonho no meio do caos da vida real”, reflete o responsável pela Inteligência de Produtos. Cléber Lima faz questão de afirmar que Terra dos Sonhos não é sobre ilusão, é sobre conexão. É um pouco de tudo que a gente vive na vida real e um pouco dos nossos desejos fundidos num universo que tenta conciliar os dois mundos e migra para uma ideia onde não existem limites. “O lance aqui é extravasar”, observa.

FESTIVAL

Há um desejo por produtos que transmitam alegria, que sejam táteis e que exalem pluralidade. Quando tratamos dos códigos, que são justamente as bases de estilo que podem ser aplicadas nos produtos, identificamos uma beleza inacabada. “É muito mais sobre soltar-se e exercer a sua própria individualidade, e isso respinga nos produtos; uma sensualidade cada vez mais despojada, em que entendo que, quando me aceito e visto uma roupa em que acredito, independentemente do meu tipo físico ou da situação, eu me sinto vivo”, analisou Cléber.

Entre os três níveis, a evolução é a exploração da textura sobre materiais. “Eu não me contento só em tingir, eu tinjo com a cor exótica para o padrão do meu cliente, eu busco a diferenciação e ainda submeto o produto a uma série de desgastes para que ele fique forte. Aqui, a ideia é excessivamente feliz. E nessa proposta de camisaria, a presença da junção de materiais que não se sabe se são novos ou antigos, mas juntos formam uma festa visual”, disse Cléber.

No centro em movimentação, o cruzamento de diferentes materiais para construir uma expressão forte. “O importante é causar prazer aos olhos de quem vê e ao corpo de quem veste, experimentar essa celebração de o produto aparentemente ter sido tocado pela mão humana”. Nesse segundo aspecto, a ideia não é somente mostrar o corpo, mas trazer fusões de materiais e cores de Verão para uma proposta em que coexistem produtos muito limpos. Destaque para a evolução e a manutenção do tricô. Hoje não existe mais a restrição do tricô como material de frio. Destaque importantíssimo para o crochê, as tramas, só que não como as conhecemos: “Elas recebem intervenções de cor, gradientes para que eu transmita para o produto aquele desejo do pôr do sol, da festa no pôr do sol, não com o objetivo de contemplá-lo, mas de celebrar e colocar para fora uma energia há muito guardada”.

PLAYLAB

Celebramos a diversão como uma ferramenta de evolução e de transformação social, pessoal, no sentido coletivo e no sentido individual. “Aqui é sobre um efeito dopamina que faz com que as coisas sejam tão efervescentes que a gente brinca com esse sentido do que é real, do que não é real, muito voltado para a provocação e para um forte senso de liberdade”.

“Playlab, tratando dos códigos, fala de um futurismo festivo, onde eu trago essa visão quase espacial para um produto dito de balada ou de celebração, no qual o conforto é tratado de maneira abstrata. Só que é uma subversão iluminada, muitas vezes, pelo efeito das telas, mas iluminada também em termos de superfície, onde eu agiganto ou encolho os elementos brincando com as proporções dos produtos.”

Nesse resumo de Playlab, falamos sobre essa colagem visual de diferentes possibilidades. Em evoluir, temos produtos que já estão dando certo no varejo hoje tratados de forma nova. “Eu trabalho a acidez na alfaiataria para promover uma fusão que foge das expectativas daquilo que é convencional. Eu tenho um relaxamento, mas um relaxamento perturbador das convenções do que é um produto correto. E um trabalho muito interessante de beneficiamento de produto”.

Cléber Lima nos contou que, em movimentar, são abordadas as possibilidades de colar e misturar modelagens que, muitas vezes, não dariam certo juntas. É como se houvesse um grande kit de partes e elas fossem misturadas em prol de permitir que o cliente experimente novas possibilidades.  E em experimentar tudo é possível.

JORNADA DE CONSUMO

Angélica Coelho começou sua palestra pontuando que, em Terra dos Sonhos, há um ritmo mais calmo, contemplativo, de admiração, no qual aquela experiência toca num lugar que é só seu e como a tecnologia potencializa momentos de construção e de serenidade dentro de pontos de venda ou canais de comunicação com o consumidor. “Aqui estamos falando de convergência e tempo. A gente está falando de não só otimização para acelerar e aproveitar melhor, mas de qualidade”.

O case da Zara em Madri é um exemplo de loja completamente conectada. Só que aqui é diferente do ‘vamos facilitar a sua vida, quase um delivery, um self service’, mas para que você aproveite o seu tempo de forma personalizada. A gente já falou algumas vezes em 4.0 em personalização de produtos e aqui estamos falando de individualização de experiências. “A proposta por trás dos canais, da interação com o consumidor faz com que você possa reservar, por exemplo, um provador no seu horário de almoço sem pegar uma fila para ter aquele espaço, aquele momento só seu, onde você pode interagir e entender não por impulso, não por velocidade e não por levar o produto sem reflexão, mas a tecnologia trazendo esses momentos em que você pode interagir entre o entendimento de por que você precisa daquele produto, entender como é que aquele produto vai se desdobrar”, revelou Angélica.

“E aí a gente começa a fazer links com o que foi falado antes, de interações sobre essas reflexões que são feitas pela geração Z de imediatismo e, ao mesmo tempo, de ativismo de reflexão sobre como eu posso salvar o planeta pagando mais barato”, frisou Angélica. Temos também os espelhos virtuais da Mysizeid. “Muito para além de ir para dentro do provador personalizado, reservado para você, mas como é que você acessa todo esse universo através de um espelho sem, necessariamente, se vestir com aquele produto”.

O interessante desse chão de loja é pensar um local de redescoberta. O que você já faz que pode ampliar os pontos de contato com esse consumidor e esse encantamento que ele tem junto à sua marca. Pontos que você jura que ele conhece, mas que ele pode descobrir com mais naturalidade junto ao seu negócio – Angélica Coelho

Um outro ponto abordado por Angélica é em apoio a mulheres empreendedoras, “e isso nos remete direto a pequenos produtores. Então, a gente está falando de diversificar o nosso portfólio com collabs de pequenos produtores. E isso nos traz experiências exclusivas. Não só experiência de uso, mas experiência de “onde eu acho isso?”. Estamos falando de mais conexões humanas. Quanto mais a gente conhece o que que está no nosso entorno, na nossa comunidade, como é que isso é construído, além de a gente se fortalecer e fortalecer o nosso local, o nosso território, a gente promove experiências complementares, a gente amplia o senso comum”.

Pensando num segundo momento, a gente já começa a acelerar um pouco. Entra no conceito Festival. “A gente fala em pulsação, que é aquele olhar mais frenético, aquele olhar que a gente está ansioso por um show ou por uma interação. Podemos exemplificar com pontos, comunicações, canais e jornadas energizantes e positivas. A gente está falando sobre como fazer melhor, como fazer diferente”.

Angélica falou sobre o crescimento da técnica de upcycling. “Pensamos no upcycling como mais um processo do dia a dia do negócio. Numa pesquisa muito rápida sobre #upcyclingfashion, descobrimos 731,9 milhões de menções a essa hashtag no final de outubro. Começamos a dar novas vidas ou prolongar o ciclo de produtos”, refletiu. Hoje, uma empresa tem um estoque de matéria-prima parado e, por vezes, um estoque de peças de coleções passadas. O upcycling pode ser tratada, por exemplo, com olhar de coleção-cápsula, com olhar de exclusividade. “Estamos fazendo com que aquele material, aquele recurso, tenha uma longevidade. Estamos pensando, por incrível que pareça, em adotar uma célula de moeda circular para o desenvolvimento e a longevidade do produto”.

Quando falamos de gerar novas receitas, de profissionalização e de adoção de uma técnica mais formal, como o upcycling, estamos falando de um design de baixo impacto de onde buscamos caminhos para trazer o melhor aproveitamento dos investimentos que estamos fazendo de forma criativa, inteligente, inovadora para que tenhamos resultados condizentes ao investimento e longevidade, posicionamento de mercado etc – Angélica Coelho

Ainda falando sobre essas rotas circulares que foram pontuadas anteriormente, eu busquei inspiração nos slides do meu colega Cléber para a gente pensar em possibilidades com o upcycling. Pensando nessa vertente sobre os anos 2000, a gente tem algumas linguagens e leituras sobre peças que já foram vistas pelos mais velhos. Mas como podemos aderir a esse olhar de upcycling sem pensar que ainda não temos a mão-de-obra específica ou um grupo de trabalho dedicado? Como a gente já pode entrar por essa jornada?

O que é bacana pensar quando estamos falando em adoção de upcycling? É sempre pensar por que valor o produto viria ou já foi para o mercado. Quando falamos em adotar técnica de upcycling, é para manter o mesmo preço ou para elevá-lo, nunca para jogá-lo para baixo. Eu nunca vou pensar em transforar uma calça jeans num paninho de chão. Ou um paninho de limpeza. Não, sempre vou pensar em como aquilo pode agregar – Angélica Coelho

Por fim a gente eleva essa euforia à última potência. Aqui é aquele momento do festival, do show que você estava aguardando com bilhetinho lá de 2020. Chegou a hora em que você está extasiado, arrebatado. É aquilo que te completa, transcende. Para falar o que arrebatou a gente, inclusive em termos da moda, alguém lembra de um tal de metaverso? Deu uma esfriada. E como é que esse arrebatamento veio para nós, como a gente traduziu essa história?

A gente veio com uma tecnologia que estrutura e potencializa essa história. A gente sempre falou que a provocação sensorial pode ser fomentada por essa tecnologia. Estamos falando de como a gente brinca. “É como se eu aprendesse com a minha avó o bordado ponto-de-cruz e decodificasse a partir de ferramentas. Aquele saber continua ali, só que potencializado para outras linguagens. Não quer dizer que seja melhor ou pior, mas que fica perene na linguagem de mais gerações”, ponderou Angélica Coelho.

“Estamos falando exatamente do chão de fábrica já mencionado durante a palestra. De como a logística do e-commerce chega na sua casa – e aqui é como se fosse o layout da página, só que isso transposto para dentro de uma loja física onde você tem pontos de interação completamente físicos, cabines para provadores, mas que tenham o plus, que se aumentem. É como se brincássemos de realidade aumentada com espaços que não necessariamente trabalhem ou utilizem somente essa tecnologia. É como se pudéssemos ampliar a experiência em qualquer passo dentro da jornada de consumo”.

“Já conhecemos a numeração dos nossos calçados. Mas, para escolher uma chuteira nessa loja da Nike, você sobe numa plataforma, o vendedor tem um aplicativo, ele escaneia o seu pé e ajusta fino para que você tenha a melhor aderência em corrida, em esporte, em futebol etc. Como a loja tem uma parte completamente gamificada, podem-se testar os produtos”, comentou Angélica Coelho.