Rosilane Jardim, o nome por trás da Karamello, bate um papo com HT e fala sobre o momento da moda, sonhos de consumo e inspiração. Vem!


A marca, que já tem cerca de 13 lojas no Estado do Rio de Janeiro e um e-commerce bombado, está se preparando para chegar com tudo ao mercado paulistano

Impossível passar em frente a uma das 13 lojas da Karamello, no Rio, e não se apaixonar de cara por dois detalhes: as roupas irresistíveis, claro, e a parede cheia de charme feita de cobogó – uma espécie de tijolo vazado decorativo típico do Nordeste brasileiro – no tom amarelo. Tudo fruto da cabeça pensante e inquieta de Rosilane Jardim, o nome por trás da marca, e que teve a ideia de criar a Karamello há 10 anos, depois de uma longa história no mundo da moda.

Rosilane Jardim em uma das 13 lojas da Karamello: luxo é ser simples!

Rosilane Jardim em uma das 13 lojas da Karamello: luxo é ser simples!

“Cresci entre tecidos e agulhas, já que minha mãe foi costureira durante toda a vida e criou sete filhos sobre uma máquina de costura. Por isso, eu seguir por esse caminho foi muito natural. Mas, antes do lançamento da Karamello, fui durante 11 anos fornecedora de diversas marcas no eixo Rio-São Paulo e me formei em designer de moda pela Cândido Mendes”, nos contou Rosilane, que topou conversar com a gente sobre sua história, o momento da indústria fashion no Brasil, sonhos e outros tantos assuntos que couberam entre um compromisso profissional e outro da empresária. Quer ler? Então vem:

HT: Como foi o processo de se transformar em uma empresária de sucesso com sua própria marca, a Karamello?

RJ: Durante meu processo como fornecedora, percebi que as marcas que eu atendia não queriam se vincular com a Baixada Fluminense ou determinadas zonas da cidade do Rio de Janeiro. Preferiam, sempre, focar apenas no perfil da cliente da Zona Sul. Nosso olhar foi perceber (por experiência própria) que existia um público enorme, sedento e “quase” renegado pela moda carioca. Começamos, portanto, abrindo nossos primeiros pontos na Baixada Fluminense, mas sempre oferecendo moda, carinho e sofisticacão, já que o nosso público alvo plural. O crescimento foi rápido e hoje completamos 10 anos de marca com 13 pontos fisicos + 1 loja virtual (que você pode conhecer clicando aqui!) e ampliamos nosso raio de ação para todo o Rio de Janeiro e região. Mais recentemente, há um ano, implementamos o novo layout de loja que já está em quatro pontos: Ipanema , Shopping RioSul, Centro e Icaraí. A ideia é que, até o final de 2016, todas as lojas estejam com a mesma cara.

HT: Quem é a mulher Karamello?

RJ: Ela é moderna, dinâmica, colorida e muito bem resolvida com si mesma. Além disso, valoriza os detalhes, quer um produto bem acabado, mas não é careta, ela se influencia pelo universo folk e por isso ama estampas e misturas. Resumindo? A mulher Karamello é feliz.

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HT: Quem você gostaria de vestir? Qual a celebridade dos seus sonhos?

RJ: Nunca quis associar a marca com celebridades, mas hoje revejo meus conceitos. As estrelas do mundo pop têm força de imagem. Para mim, o que importa sempre é vender a verdade da marca. Personalidade é o que mais valorizo. Mas se é pra citar alguém, eu gostaria de ver a Karamello sendo usada pela Giovanna Antonelli ou Ivete Sangalo. E se é para sonhar mais alto, queria ver a Anna Dello Russo usando uma criação nossa. Ela tem personalidade, sofisticação, colorido e vive feliz – pelo menos aparenta! Mas meu sonho de consumo pessoal, mesmo, é ver meus filhos e meu neto felizes.

HT: Fale um pouco da coleção “Somos todos do bem”. Qual o conceito?

RJ: Ser simples é o luxo que eu busco. Nessa coleção, quis abordar mais a história da marca e nossas raízes. Procuro simplificar a moda e, mergulhando no tema, propomos abraços e afagos, olhando mais para o nosso redor e para o próximo. Viajei para Índia e pude ver e sentir de perto carências humanas que, na verdade, também estão bem perto de mim. Daí me mexi. Proporcionamos aulas de costura no Morro do Borel, coleta de roupas para bazares, ajuda em ações para depedentes químicos etc. Sempre de forma discreta, mas de forma verdadeira e sincera.

HT: Já são mais de 13 lojas distribuídas pelo Rio de Janeiro. Em tempos que a economia, como jamais se viu, tem polido a moda, como vê o atual cenário? Quais as maiores dificuldades de se produzir moda neste momento?

RJ: A Karamello faz parte da indústria da moda, que sempre viveu crise. A atual é apenas mais uma ao longo dos nossos 24 anos de trabalho. Existem dois problemas que influenciam o desempenho de uma marca no Brasil: custos fixos e abastecimento de mercadoria. Custo fixo envolve shopping centers ou lojas de rua e, no nosso país, esses custos são gigantes e quase impraticáveis. Já no abastecimento, a falta da renovação da carreira de costureiras dificulta o processo e ele se torna mais lento. Nós, por exemplo, produzimos 50% internamente, temos hoje mais de 220 funcionários, mas procuro mão de obra e não consigo aumentar nosso quadro. Mas esse é um problema e mundial, a meu ver. Por isso busco produzir peças mais elaboradas, porém com apelo comercial, tentando me distanciar das marcas que apenas vendem mercadorias. Apostamos em parcerias bem feitas, coleções cápsulas bem amarradas – fiz uma com a atriz Thaissa Carvalho para a Copa – e já estamos há duas coleções vendendo produtos licenciados da Adidas Originals.

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HT: Como são as pesquisas para as coleções? Onde e como busca inspirações?

RJ: Meu processo criativo é muito peculiar. Busco nas minhas próprias experiências os temas das minhas histórias. Viajo bastante, mas, atualmente, meu olhar está no Brasil. Minha coleção de verão é sobre o Agreste e meu inverno é sobre nossas raízes. O DNA da Karamello já está definido e meus pilares são: conforto, qualidade e felicidade.

HT: Vocês tem um e-commerce forte. Qual a importância da internet para uma marca hoje em dia?

RJ: A venda online é nosso principal foco. O e-commerce no Brasil ainda engatinha e por isso apostamos nessa ferramenta como forte fonte de crescimento da marca. Nosso conceito é vender sofisticação de forma descomplicada. E tento impor isto por meio de nossas campanhas. Queremos estar presente na vida das nossas clientes virtuais ou físicas, fazendo parte dos melhores momentos: viagens, festas de aniversário dos filhos, casamentos, jantares, no trabalho ou até mesmo em casa relaxando. Adoramos, também, estar presente nas mídias sociais. Instagram (@karamello_rio), Facebook e Pinterest são nosso foco.

HT: Qual o diferencial que uma marca com DNA carioca pode apresentar ao mundo?

RJ: Uma marca tem de buscar seu espaço: seja ela de qualquer parte do mundo. O importante é encontrar o seu DNA. Uma marca carioca ganha no colorido, no lifestyle despojado e no perfil bem resolvido da própria mulher carioca. Isso facilita um pouco, mas é preciso bom senso. Identidade própria não se copia e não existe receita de bolo. O que deve existir é um universo bem definido do público alvo. Se um dia iniciar uma venda fora do país, focarei no meu DNA mas também irei me adaptar ao gosto da cliente local, estudando modelagem e tamanho das consumidoras, cartela de cores aceitas etc.

HT: Muito tem se discutido o formato das semanas de moda no Brasil. Você gostaria de participar de um grande evento como este, nos moldes tradicionais, ou prefere um outro caminho?

RJ: Acho que tem muito que se discutir sobre semana de moda no Brasil. Tenho gostado do que vejo no Minas Trend e acho que é preciso dar espaço para novas marcas e novos talentos. Eu faço parte dessa nova leva. Se eu for convidada, e puder, claro que quero mostrar nosso trabalho em um grande evento.

HT: Quais os próximos passos com a Karamello?

RJ: Comercialmente, nosso próximo passo é chegar ao estado de São Paulo com uma loja física linda e que possa mostrar nossa cara. Criativamente, tenho buscado um caminho cada dia mais autoral e quero me aprofundar nesse segmento. Não sigo tendências, mas, sim, comportamento de consumo. Busco mostrar o meu olhar sobre o mundo e não apenas sobre uma região.