Prestes a desfilar no Rio Moda Rio, Ivan Aguilar diz: “Apesar de a moda parecer ser algo democrático, ela não é. Enquanto conceito… é para poucos”


Antes de desfilar, dia 17 de junho, no Palácio Tiradentes, o estilista adiantou detalhes de sua coleção: “Vem muito madura, apesar da força das cores usadas. Todas as vezes que eu crio uma coleção, parte dela, ou vem da arquitetura, ou de uma obra de um artista que eu gosto. Desta vez, eu sonhei com o trabalho da Beatriz Milhazes”

Ivan Aguilar ou “o alfaiate dos presidentes”, como preferir, está de volta. Depois de representar o Brasil na Semana de Moda de Nova York, desfilando uma coleção feminina e austera pra o Inverno 2015 – e apresentar as mesmas peças na semana de moda de Vitória (ES), onde tem residência – o homem que já vestiu os ex-chefes do executivo Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva ressurge, desta vez no line up do Rio Moda Rio, mais nova fashion week carioca – depois de dois anos sofrendo com o hiato do Fashion Rio -, que será realizado na próxima semana, com Ivan desfilando no dia 17.

IVAN AGUILAR 2

“Estou super tranqüilo. A coleção já está pronta, vem muito madura, apesar da força das cores usadas. Todas as vezes que eu crio uma coleção, parte dela, ou vem da arquitetura, ou de uma obra de um artista que eu gosto. Desta vez, eu sonhei com o trabalho da Beatriz Milhazes (que teve uma tela vendida por R$ 16 milhões na abertura da SP-Arte). Tanto que batizei a coleção de ‘Milhazes de Cores’. Ficou bem multicolorida”, adiantou ele ao HT, em entrevista exclusiva, contando que continuará batendo na tecla da alta alfaiataria.

“E também optei por fazer o desfile externo, no Palácio Tiradentes, porque amo aquela arquitetura, que tem uma pegada muito interessante, que combina com as cores da coleção. Vai fazer uma espécie de moldura impactante. Além de ser um ambiente austero, a casa das leis, onde os homens usam ternos e as mulheres se vestem de forma clássica. Vou transformar aquele local em um oásis de cores, quebrar aquela seriedade. Essa é minha coleção: pensada com bastante alegria, que será transmitida na roupa”, explicou.

Optando por uma apresentação mista, Ivan acredita que “não vale a pena um desfile só com roupas femininas ou só masculinas”. E, por isso, os estilistas devem prezar por apresentações mais compactas, unindo ambos guarda-roupas. “No mundo inteiro, salvo algumas exceções, se desfilam as coleções juntas. Acho, aliás, que é uma forma de fazer combinação entre os dois gêneros”, disse. Pensamento que ele garante refletir em uma maturidade alcançada: “Além de ser madura, a coleção, bem como o Rio Moda Rio, é um retorno à juventude dos anos 80. Portanto, terá um ar nostálgico, com aquela alfaiataria linda, o colorido”.

A seguir, mais Ivan Aguilar, de peito aberto:

“A moda de São Paulo vende para meio porcento da população. Os outros 99.5% da população consomem a moda carioca”

“Concentrar a moda brasileira em uma só grande semana de moda é prejudicial, porque o nosso país é continental. Em São Paulo existe uma moda cool, relevante, mas o Rio de Janeiro precisa lançar e mostrar moda. E a explicação é simples: por causa do lifestyle da carioca, que é uma mulher ultralinda, ultrabonita. A mulher paulista existe bem é no imaginário dos estilistas. Mas a mulher carioca existe de ponta a ponta, porque o Brasil é só litoral – e é ele quem manda. Não podemos negar que o Rio de Janeiro é o portão de entrada da América Latina. E por isso a cidade precisa ser lançadora de tendências, que são tendências verdadeiras – não que as outras não sejam. Mas a moda carioca é usada. O que se vê na passarela carioca é comprado imediatamente. A moda de São Paulo vende para meio porcento da população. Os outros 99.5% da população consomem a moda carioca”.

Ivan aguilar

“Você assiste um desfile da Dior hoje de manhã e, à tarde, já tem gente fazendo igual”

“Existe um fenômeno mundial chamado Zara e outro chamado internet. Com esse segundo, você assiste de manhã um desfile e, à tarde, já tem quem copie, quem venda o que foi mostrado. Por que não podemos fazer o mesmo com nosso produto? Não seria mais inteligente fazer a nossa coleção, apresentar e vender imediatamente? O glamour não interessa mais. O glamour acabou. O que existe é a realidade: você assiste um desfile da Dior hoje de manhã e, à tarde, já tem gente fazendo igual. Então, por que você vai deixar que outros tirem proveito da sua criatividade, se você já pode usar a sua própria e vender uma moda verdadeira, sem que o consumidor precise de comprar uma cópia? Aliás, não é nem a questão da cópia que é tão importante. São os outros se apropriarem da sua ideia. Até por que criatividade não tem como patentear. Realizei meu desfile em Nova York e, na outra semana, vários amigos me mandaram sites chineses vendendo peças que copiaram o meu shape, a criação que eu fiz, a identidade que eu criei. Tempos depois, já vi em vitrines brasileiras. Todas as modinhas já estavam se apropriando, as lojas de fast fashion já haviam copiado shapes e vendendo as saias evasês. Então, por que nós não temos direto de sermos donos da nossa autoria? O Tufvesson (Carlos, curador do Rio Moda Rio), acertou em cheio ao se apegar a ideia do see now, buy now. E isso se tornará mais forte ainda, no próximo evento. Teremos lucro imediato”.

“Apesar de a moda parecer, nos tempos atuais, ser algo democrático, ela não é. A moda, enquanto conceito, é para poucos”

“O lado bom da moda é que não tem nada mais prazeroso do que você usar um produto que enche seu coração, que o completa de alegria. Usar aquela roupa nova, que você tira a etiqueta e fica feliz dá beleza. Você olha e se sente bem. A moda não é isso, mas esse é um dos reflexos da moda mais bacanas na minha opinião. Tem coisa mais deliciosa que aquela bermuda floral da Richards, com cheiro de lavanderia, aquela qualidade e aquele algodão? Estou falando do prazer em usar. Por outro lado, o ruim é quando você quer muito um produto e não pode tê-lo. Apesar de a moda parecer, nos tempos atuais, ser algo democrático, ela não é. A moda, enquanto conceito, é para poucos. Se bem que uma pessoa rica está hoje entrando na C&A e achando o máximo. Não estou nem querendo fazer referência à coleção do Karl Lagerfeld, por exemplo, para a Riachuelo. É mais na questão de não ter acesso ao que quer, do que chegar o mais perto possível de um produto Dior. E essa situação não tem culpados. Um dia o desejo vai ser realizado. Nem tudo a gente pode ter na hora que a gente quer. Faz parte da vida, dos tempos modernos. O contemporâneo hoje é isso”.

Bate-bola, jogo rápido:

Peça para se ter no verão: Gravata borboleta para os homens e vestidos esvoaçantes para as mulheres.

Peça para jogar fora na próxima estação: Roupas pretas.

O melhor desfile: Karl Laferfeld para a Chanel em 2014.

Um estilista: Gloria Coelho.

A locação do desfile perfeito: Bossa Nova Mall, no Rio.

Um desfile para se repassar o convite: Dos japoneses.

Moda é: ser feliz.