Na New York Fashion Week, a parceria entre moda e música estreita ainda mais seus laços. Vem saber!


Rihanna é presença cativa nas primeiras filas, Britney e Gwen lançam suas respectivas coleções, Nicki Minaj ensina modelos a dançarem “Anaconda” e Miley Cyrus arma exposição de artes visuais, além de colaborar com Jeremy Scott

*Por João Ker

Ao contrário do que acontece pelo Brasil, as semanas de moda do Hemisfério Norte costumam mobilizar grande parte do showbizz que, assim como os designers, vêem nos desfiles uma grande oportunidade de autopromoção fácil e prazerosa. E, entre atores, socialites, reality stars e modelos, quem está levando a melhor nesta edição da New York Fashion Week são as mulheres da música, com Rihanna, Nicki Minaj, Miley Cyrus, Gwen Stefani e Britney Spears, cada uma à sua maneira, ganhando as  manchetes tanto quanto Donatella Versace ou Dianne Von Furstenberg.

A ideia já foi apresentada aqui várias vezes, mas é sempre bom repetir para reforçar: no século 21, moda e música vêm se fundindo em uma osmose codependente onde uma está indispensavelmente atrelada à outra. A sociedade do espetáculo, munida de smartphones superpotentes e auxiliada pela velocidade da informação que tablóides e paparazzi oferecem, não dá descanso e, uma vez que encasqueta com um assunto, devora qualquer notícia relacionada a ele. No caso da interseção entre nomes da música e da moda, esse interesse é uma faca de dois gumes onde um se mostra igualmente importante ao outro: as trilhas para os desfiles e campanhas passaram a ser tão interessantes quanto as peças escolhidas pelas cantoras para suas aparições e videoclipes.

Atualmente, a maior personificação desse intercâmbio publicultural é Rihanna que, além de ser uma grande consumidora de moda, é também um de seus maiores exponentes influenciadores. Basta ler o editorial escrito por Anna Wintour na última edição da Vogue em que a cantora apareceu. A própria jornalista, munida com seus tantos anos de experiência na cobertura de moda, se viu obrigada a concordar: o estilo tomboy, urbano, sexy e casual de Riri deixou sua impressão pela grande maioria das passarelas. Nas palavras da editora: “Por onde nós olhávamos durante as coleções de primavera 2014, nós víamos Rihanna”. Nada mais natural então que, um ano após o nascimento dessa “tsunami”, a artista volte a ser o centro das atenções em Nova York.

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Rihanna recebe cerca de U$100.000 para sentar na primeira fila de um desfile. Isso mesmo, enquanto uns pagariam pela oportunidade, a cantora ganha uma fortuna para exibir seu rostinho nas primeiras filas, lado a lado com nomes como Naomi Campbell, Ellen von Unwerth e Bono Vox. Mas engana-se quem acha que Riri é do tipo que faz qualquer coisa por dinheiro. Suas aparições são estrategicamente calculadas e normalmente estão associadas à alguma marca que influencie ou dialogue com seu estilo pessoal. Nessa temporada, por exemplo, o primeiro fashion show do qual ela participou foi o de Adam Selman, um de seus designers preferidos e o responsável por looks icônicos de sua carreira, como o robe que a morena vestiu durante a performance no desfile da Victoria’s Secret, o polêmico vestido nude com aplicações de cristais Swarovsky usado para receber o prêmio CFDA Fashion Icon Award e por aí vai. Versus Versace, Edun, Altuzarra e Alexander Wang também passaram por suas escolhas, fora as festas badaladíssimas às quais compareceu. Wang, por sinal, usou o corpaço da cantora como plataforma para anunciar sua parceria com a H&M. E como foi que Rihanna atraiu atenção para a linha? Simplesmente usando exclusivamente e em primeira mão um look completo da coleção, enquanto dava umas voltinhas pela Big Apple. Menos de uma hora depois, manchetes de vários e vários sites já estampavam: “Rihanna estreia parceria de Alexander Wang com a H&M”. Sim, senhoras e senhores, é esse o poder e a velocidade da informação no mundo globalizado e fissurado no star system.

Mas, como dito mais acima, esta é uma via de mão dupla e, como nem todo mortal tem a chance de ser Rihanna, é preciso trabalhar. Nicki Minaj, por exemplo, andou divulgando sua Anaconda para lá e para cá na New York Fashion Week. Antes de apresentar a música no palco do Fashion Rocks, Onika foi ao desfile da Versus Versace e de Alexander Wang, tirou foto com Naomi Campbell e, como cereja desse bolo midiático, aproveitou para entrar no backstage de Wang e ensinar sua nova coreografia para as modelos. O vídeo, claro, acabou se tornando uma ideia hilária, bem arquitetada e que chegou a ser divulgado pelo site da própria Vogue. Ou seja, win-win tanto para Nicki quanto para Alexander.

 

Nicki Minaj na primeira desfile da Versus Versace, ao lado de Naomi Campbell (Foto: Facebook Oficial Nicki Minaj)

Nicki Minaj na primeira desfile da Versus Versace, ao lado de Naomi Campbell (Foto: Facebook Oficial Nicki Minaj)

 

Há também as estrelas que trabalham MESMO nas semanas de moda. Claro, Rihanna já passou por isso quando lançou sua coleção com a River Island em Londres e até Lady Gaga já atravessou a passarela da Thierry Mugler – um caminho que, para quem não se lembra, foi previamente traçado por Madonna e seus seios novinhos no desfile de Jean Paul Gaultier, nos idos de 1992. Este ano, Gwen Stefani voltou à ativa com o lançamento da sua coleção de roupas L.A.M.B., a qual apresenta um estilo funky e elegante como o da própria. Até Britney Spears, vejam só, a popstar que menos se importa com moda em todo o universo e que não era vista por uma semana de moda desde 2002, quando foi a Milão apresentar a coleção de Donatella, deu as caras este ano. Brit, que não perde a chance de ganhar uma grana extra, resolveu lançar uma nova linha de lingerie nesta terça (09), batizada criativamente de “The Britney Spears Intimate Collection” e assim expandiu ainda mais a marca Neyde para além do campo musical.

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Talvez a maior surpresa em questões de “expansão criativa” tenha vindo da novata Miley Cyrus, a nova wrecking ball da mídia. Além de aparecer seminua na festa de Alexander Wang, Miley lançou uma linha de acessórios para a coleção de Jeremy Scott, com direito a subir na passarela ao final do desfile. Ela também teve uma exposição de artes visuais em parceria com o designer e a revista V, da qual foi capa de setembro, fotografada por ninguém menos que Karl Lagerfeld. Ame ou odeie Miley Cyrus – já que, tratando-se dela, as reações são geralmente extremas -, mas não é qualquer cantora pop de sucesso na rádio que teria o ânimo e a capacidade para tanto. E o melhor: as obras são totalmente condizentes com seu estilo e sua persona extravagante.

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Acontece que Miley é um fruto da nova geração de jovens e, por consequência, os entende. Ela sabe que hoje, a informação é devorada em minutos. Que nos dias atuais, a falta de tempo e interesse da juventude social media raramente dá espaço para uma imersão completa no universo de um artista, não importa o seu ramo. A atenção que antigamente era dada a álbuns hoje é direcionada a singles fugazes que raramente entram para a história da música; na moda, o fast fashion revolucionou tanto a efemeridade de uma tendência quanto o conceito de last season e exclusividade. Grandes produções cinematográficas precisam lidar tanto com a pirataria quanto com a divulgação, liberando pílulas do filme aos poucos, para que o maior número de pessoas possíveis fique sabendo da sua existência. No mata-mata cultural, vence o jogo quem dá as mãos e faz parcerias, ao contrário de quem tenta remar contra a maré. E a New York Fashion Week é apenas mais um campo de batalha.