A gente quer mais que moda: Marcia Disitzer vai atrás de marcas engajadas em causas sociais para ajudar na reinvenção da sociedade


Marcas de moda e de beleza, como Mercatto, Reserva, Cantão e Yenzah, fazem de seus respectivos negócios instrumentos de transformação social

* Por Marcia Disitzer

Há cerca de dois anos, a Mercatto vem apostando em uma tendência atemporal: fazer o bem. O engajamento social da marca carioca, fundada em 1994, determina a campanha de lançamento de coleção, interfere na escolha da celebridade da temporada e dá mais cores e sentido às estampas. E a Mercatto não está sozinha nesta militância. Outras marcas de moda e de beleza, como Reserva, Cantão e Yenzah, fazem de seus respectivos negócios instrumentos de transformação social. “Decidi que este seria o nosso papel”, explica o diretor da Mercatto, Renato Cohen.

Sabrina Sato veste a camisa da campanha Mulheres do Bem, da Mercado

Sabrina Sato veste a camisa da campanha Mulheres do Bem, da Mercado

“Quero transformar o mundo em um lugar melhor. Já conseguimos atingir o mercado de maneira democrática; agora, quero alcançá-lo através de campanhas com causas”, emenda Cohen. A empresa já colocou todo mundo para bailar com o projeto ‘Dança Comigo’, em parceria com o Rio Hip Hop Kemp (Rio H2k) e o Centro de Movimento Deborah Colker, distribuiu filtros de água potáveis em comunidades carentes do Rio ao lado da ONG Waves for Water e participou do reflorestamento da Mata Atlântica, ao apoiar o projeto ‘Dá Pé’, do cineasta Estevão Ciavatta. Agora, a Mercatto resolveu incentivar as mulheres empreendedoras do Brasil na coleção de verão 2017, batizada de Mistura Boa, que chega às lojas repleta de hits, como vestidos de estampa floral, uma linha jeans completa e muito decote ombro a ombro.

Sabrina Sato na campanha da Mercatto

Sabrina Sato na campanha da Mercatto

“Escolhemos a Sabrina Sato por ela representar esta mistura boa e despertar um sentimento aspiracional. E para falar sobre o empoderamento feminino desenvolvemos a campanha Mulheres do Bem. Estamos apoiando a instituição Asplande, através do projeto Atados, que visa capacitar mulheres empreendedoras. Com o dinheiro arrecadado na campanha, elas poderão dar o pontapé em suas próprias empresas. A mulher brasileira que compra na Mercatto é batalhadora, quis trazer essa identificação”, explica Renato. O empresário ressalta também que desta vez existem duas maneiras para participar da iniciativa: comprando a camiseta especial, que será lançada em setembro, com 100% do lucro revertido para o projeto, e através de um crowdfunding que estará disponível na plataforma Banque, dentro do site da marca (a partir de setembro). “Não é só o Estado que tem o papel de contribuir, depende também de cada um de nós. Queremos vender roupas e impactar as pessoas. Há dois anos, éramos tímidos, agora, estamos sensibilizando a sociedade. É um processo de compartilhamento e doação”, comemora Renato.

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Quem também está à frente deste movimento é Rony Meisler, sócio e fundador da Reserva. Em maio, ele resolveu radicalizar a sua atuação e ir direto ao ponto. No caso, a fome. Lançou o projeto 1P = 5P, no qual, a cada peça de roupa vendida pela Reserva e pela Reserva Mini, são doadas cinco refeições para quem tem fome no Brasil. “A projeção é que sejam entregues 7 milhões de refeições por ano”, disse o empresário ao apresentar o projeto. O sonho realizado de Rony começou durante uma viagem ao sertão do Brasil. Em uma conversa com um menino chamado Neto, a quem deu carona, Rony percebeu o tamanho da fome no país. “Óbvio que a educação é um enorme problema, mas você pode montar a melhor escola do mundo… se o moleque estiver com fome, ele não vai prestar nem um minuto de atenção na aula”, disparou Neto, fazendo com que Meisler partisse para a ação. E foi pesquisando o tema que ele se deu conta de que o problema não é a falta de comida, mas sim o acesso a ela. Estudando ainda mais, chegou à ONG paulista Banco de Alimentos, que coleta alimentos que sobram ou que serão descartados. Foi assim que a Reserva – que completa dez anos em setembro e que tem a sua trajetória misturada ao engajamento em causas sociais diversas – uniu-se à ONG e, como o próprio Rony faz questão de frisar, “mudou para sempre”.

Rodrigo Goecks, diretor da empresa brasileira de beleza Yenzah, também acredita neste caminho. Por conta disso, idealizou e coordena o projeto Pense Alto, incubado na ONG Instituto da Criança. O projeto profissionaliza jovens de 16 a 23 anos, através de cursos gratuitos, que focam no empreendedorismo, levantam a autoestima e preparam para o mercado de trabalho. “Antes de sermos uma empresa, somos pessoas. O exemplo positivo é muito importante. Claro que quero ganhar dinheiro, mas, além disso, quero contribuir para algo maior”, diz Rodrigo, que também escreveu o livro infantil ‘Cabelo Bom é o Quê?’, combatendo a ideia de que existe “cabelo ruim”. “Quis ajudar a romper este preconceito”, explica Goecks, animado com os novos produtos da Yenzah, que serão lançados na Beauty Fair, em São Paulo. “Vamos apresentar o Bomb Cream, um mix de vitaminas para crescimento dos fios, e o Botox, que vem a ser uma escova progressiva, totalmente sem formol, que pode ser aplicado em casa ou no salão”.

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Marca veterana da moda carioca (completa 50 anos em 2017!), o Cantão também está cada vez mais atento às causas ambientais e sociais. “O projeto Reciclagem Cantão, por exemplo, está em vigor há quase dez anos. Muita matéria-prima já foi reaproveitada em projetos sustentáveis”, explica Monique Motta, do branding da grife. Para trazer a floresta para a cidade, no ano passado, a grife criou uma camiseta-manifesto com 100% da renda revertida para a ONG Instituto Canto Vivo, patrocinando o plantio de 200 árvores de espécies nativas da Mata Atlântica no Parque Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão. “Proporcionar o ‘viver bem’ reverbera na verdade e na leveza presentes na história do Cantão”, resume Monique.

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