Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro, dois dos principais fotógrafos da nova cena nacional, conversam com o site HT sobre parceria, arte e os desafios da profissão


Ele e a esposa, Aninha Monteiro, trabalham juntos e dividem a vida: “Nos entendemos muito bem tanto trabalhando como no pessoal e não misturamos as coisas. Somos melhores amigos, nos incentivamos”, disse ela

Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro formam um casal cheio de sintonia. Juntos há sete anos e pais da pequena Nina, de 3, os dois têm uma parceria além do casamento: a profissão. Fotógrafos apaixonados pelo ofício, trabalham juntos e complementam ideias um do outro. Yuri, que começou a clicar ainda muito novo, conta que ter a esposa ao lado é essencial. “Estamos sempre juntos em todos os trabalhos, o terceiro e quarto olho pertencem a ela e vivemos trocando. Nós procuramos dar a mais do que é necessário em relação a tudo. Sabemos que podemos entregar um resultado que deixe os outros satisfeitos, mas a gente também quer se satisfazer e sempre pensamos que, por mais maravilhoso que esteja, o trabalho pode sempre melhorar. Quando vamos fotografar, já visualizamos lá na frente, pensamos o que vamos achar do que fizemos, lá no final do dia”, contou ele. Não à toa, se tornaram alguns dos principais nomes do meio.

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A parceria na vida pessoal e profissional de Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro (Foto: Reprodução/Instagram)

Aos 29 anos, Yuri coleciona uma série de trabalhos importantes. Além de ter no portfólio grandes marcas e editoriais de moda, ele já dirigiu filmes e assinou a direção de fotografia de alguns clipes, como “Axé Acapella”, de Maria Gadú. Ele, que começou clicando esportes aquáticos há 12 anos, é hoje um dos mais respeitados nomes na moda. “Comecei na moda quando fui morar na Itália. Estudei história da arte e cultura em Florença, trabalhei de assistente em um estúdio em Milão e, quando voltei para o Brasil, fiquei nessa área. O segredo foi sempre, desde o começo, mesmo tendo pouquíssima coisa no portfólio, não sair fazendo tudo. E é o que eu faço até hoje, seleciono meus trabalhos e estou sempre preocupado, porque o resultado final não depende só de luz e fotógrafo, mas de um conjunto de coisas que tem que estar bem encaixadas para funcionar. Não é só fotografar e está pronto, tem a pré-seleção, o tratamento. Eu seleciono bem para dar atenção a cada etapa”, contou Yuri, que, não por acaso foi o nosso escolhido – e nos deu a honra de aceitar o convite – para fotografar o incrível editorial exclusivo do site HT com Dani Suzuki.

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Os dois estão sempre juntos e se definem como melhores amigos (Foto: Reprodução/Instagram)

Consagrado na moda e no mercado publicitário, ele sonha em viajar o mundo com a câmera na mão. “Tenho vontade de fazer algo mais artístico, tipo ir para a África ou Ásia e fazer um livro retratando o continente. Geralmente, essas minhas viagens artisticamente falando não estão presas à moda. Lógico que tem, também, porque são pessoas. Se eu pudesse tirar um tempo para me dedicar a outra coisa, com certeza seria uma fotografia mais livre, documental”, disse. Não que ele nunca tenha feito. Yuri e Aninha são os nomes por trás da famosa campanha “Dói em todos nós”, em que artistas e formadores de opinião posaram com um olho roxo em protesto contra o uso de balas de borracha para reprimir as manifestações de 2013. “Nós queríamos fazer algo na época, mas temos uma filha pequena e não achávamos certo ir para a rua, então pensamos em algo que tivesse a ver com a nossa arte e começamos o movimento. Convidamos pessoas bacanas, amigos da mídia e eles convidaram outras. Quando vimos, fotografamos cem pessoas em um dia no Rio. No dia seguinte, tinha jornal na Colômbia ligando para a gente, revistas. Atingiu o objetivo, que era o de chamar atenção para isso mesmo”, analisou Aninha.

A opinião dos dois é a mesma: a arte tem, sim, obrigação de conscientizar a população. “Nosso objetivo não era virar estrela. Não queríamos que fosse a Aninha e o Yuri. Era um movimento do Brasil, não era profissional, era protesto. Nós tivemos estratégia para movimentar as redes sociais. As 100 pessoas postaram aquelas fotos ao mesmo tempo, na mesma hora”, contou Aninha, endossada por Yuri: “Todo artista tem a possibilidade de usar sua arte como forma de criar um rebuliço não só cultural, mas de consciência. Não importa como seja executado ou divulgado, é uma ferramenta de instrução para passar conhecimento. Todos deveriam fazer isso”, opinou.

E o trabalho dos dois se completa de todas as formas. Yuri, que chegou a entrar em cinco cursos diferentes durante o período da faculdade, nunca conseguiu fugir da fotografia. “Eu já poderia ter me formado em duas faculdades se juntasse o tempo que me dediquei às cinco que comecei. Mas a fotografia, que eu achava que me atrapalhava, tomava a minha atenção. Eu não tinha percebido que era aquilo. Cursei ciências da computação e isso me ajuda até hoje na vida. O computador é ferramenta essencial no processo da fotografia. Quanto mais dominamos, mais fácil fica”, disse. Já Anninha é apaixonada por moda e chegou a fazer três cursos de design. “Me interessei pela fotografia fazendo design gráfico. Foi o meu primeiro contato profissional. Aprendi analógico, laboratório, revelava fotos. Eu, hoje, opino na maquiagem, nos looks, vejo referências porque a faculdade me deu essa base, também. Eu amo moda, entendo e tenho o olhar apurado. Acho maravilhoso expressar a personalidade no jeito de se vestir”, contou.

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A cumplicidade dos dois em um set de fotos(Foto: Reprodução/Instagram)

Os dois acreditam que a fotografia é um aprendizado diário e gostam de treinar o olhar mesmo nos momentos de folga. “Não tem curso que seja melhor do que o dia a dia, a câmera na mão, experimentar coisas novas. Luz é muito sutil, qualquer mudança faz muita diferença. Fora da profissão também estamos sempre observando. Às vezes não fotografamos, mas direto acontece de estarmos andando de carro, olhar uma paisagem, uma luz e pensar ‘olha, imagina uma pessoa tal e tal nesse lugar’. Temos uma visão bem parecida, até por isso conseguimos trabalhar tão bem, pois gostamos das mesmas coisas”, entregou Aninha.

Amantes da arte, eles não consideram todo trabalho uma obra. “Tem alguns que são encomendas atendidas e entregues. É claro que sempre damos nosso olhar, mas não é um trabalho artístico. Viver de arte no Brasil é complicado. Fora a gente encontra muito mais gente ganhando dinheiro e se sustentando só disso”, analisou Yuri. Aninha concorda. “Vira comercial, porque a gente também precisa ganhar dinheiro, pagar escola da filha”, disse. Ainda assim, eles garantem viver de sonhos. “Tem gente que trabalha infeliz, isso acontece muito em todas as profissões. Eu faço o que amo, o tempo passa e continuo com a mesma vontade de criar que eu tinha no começo. Não tenho essa coisa de ter o sonho de fotografar alguém em especial, até porque tem vezes que a gente acha que vai ser ótimo e se decepciona, ou porque a energia não bateu, ou as ideias eram diferente”, disse Yuri.

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Yuri Sardenberg e Aninha Monteiro fotografam juntos (Foto: Reprodução/Instagram)

O lado ruim? Existe, mas eles garantem lidar numa boa. “O fotógrafo tem que ter muita paciência. Às vezes tem 25 pessoas no set, que estão ali, mas tem a cabeça em outro lugar. E são 25 expectativas que precisamos lidar. Sem paciência ficamos irritados e perdemos a capacidade de criar. Já aconteceu de eu, testando a luz, ter dado um clique, a modelo nem estava olhando para a câmera e alguém passa e diz ‘não gostei’, mas era só teste”, contou Yuri, logo emendado pela parceira: “Nós sempre brincamos que um fotógrafo tem que ser bom psicólogo, entender todo mundo ali, porque são milhões de expectativas de muita gente envolvida”, disse.

Para eles, o aumento do uso de fotografia impulsionado pelas redes sociais tem pontos positivos e negativos. “As pessoas confundem um pouco. Hoje temos mais acesso à imagem e isso é bom, porque apurou o olhar de muita gente. O equipamento fotográfico é mais barato e até com um telefone maneiro dá para tirar boas fotos, é legal porque as pessoas valorizam e entendem mais os elementos fotográficos. Mas, por outro lado, sempre tem os sem noção e o mercado fica saturado. Tem gente que compra uma câmera, se diz fotógrafos e acaba prostituindo o mercado, porque um trabalho que nós cobramos ‘x’, eles cobram 20 vezes menos e, muitas vezes, o barato sai caro”, analisou Aninha.

Ainda que com alguns desafios diários, o lado bom supera o ruim sempre. Além dos muitos amigos que fazem pelo mundo, o casal destaca a falta de rotina como ponto preferido da profissão: “Amamos estar com pessoas em situações diferentes. Já tivemos trabalhos de ficar três meses fazendo a mesma coisa e acaba que, quando vira o feijão com arroz, perde a graça. A gente precisa do novo, do tesão naquilo”, disse Aninha. E trabalhando com o marido, dá para separar o pessoal? “Com certeza. Às vezes fazemos trabalhos de publicidade de três dias e a equipe só vai saber que somos casados lá no final. Nos entendemos muito bem, tanto trabalhando como no pessoal e não misturamos as coisas. Somos melhores amigos, nos incentivamos, é uma parceria de vida”, garantiu. A gente, que conferiu de perto a sintonia e o resultado do trabalho em conjunto, assina embaixo e chancela o talento e dedicação dos dois.