Conexão Inspiramais Inverno 2018: Fórum de Inspirações revela palavra-chave para as criações da estação. Saiba qual é!


Ao analisar o atual panorama da moda no Brasil e no mundo, o pesquisador e designer Marnei Carminatti apontou para a inconstância do cenário fashion. Para ele, a moda está cada vez mais volátil. “Não dá mais para guardar referências e vontades em caixinhas. Seriam inúmeros espaços necessários e para consumo imediato”

“É um trabalho de profetizar a ideia de criação”. Há duas décadas, o Conexão Inspiramais viaja o Brasil adiantando aos empresários, estilistas, designers e estudantes as promessas e expectativas para a próxima estação. No último dia de Minas Trend, como já virou tradição, Marnei Carminatti lotou a sala de palestra do Expominas para apresentar as referências do Inverno 2018. Por lá, para um público atento e curioso, o designer, consultor e integrante do Núcleo de Design da Assintecal (Associação Brasileira de Componentes de Couro, Calçados e Artefatos), comandado por Walter Rodrigues, revelou a palavra-chave do próximo inverno: leveza.

Marnei Carminatti apresentou as referências do Inverno 2018 no último dia de Minas Trend (Foto: Henrique Fonseca)

Para os 10% que compõem o topo da pirâmide criativa e organizacional do Fórum, Marnei Carminatti acredita em uma ideia mais simplista. Segundo o designer e pesquisador, cada vez mais as pessoas estão querendo incorporar a ideia de compartilhar experiências, muito presente no universo digital, ao guarda-roupa. Prova disso, como destacou Marnei, são os armários coletivos que permitem a troca entre diversas usuárias. Então, para o Inverno 2018, a proposta é que a ideia de apropriação, que ditou o Verão 2018, seja rebaixada aos 30% da pirâmide, e o topo seja dominado pelo conceito de leveza. “A apropriação desce um pouco nesse caminho e leveza entra com muita força, até por uma questão comportamental. Cada vez mais nós queremos carregar menos objetos. No entanto, isso não significa que queremos consumir menos. Eu sinto que queremos levar menos e ter só o importante e essencial na bolsa e junto de nós”, explicou Marnei Carminatti sobre o conceito do Inverno 2018 que ainda traz as palavras tênue, ar e inflável como inspirações.

Palestra do Fórum de Inspirações no Minas Trend (Foto: Henrique Fonseca)

Para a moda, essa ideia de desapego do desnecessário também é incorporada à tecnologia. Assim como a ideia do compartilhar digital, o mundo virtual também marca presença na tradução de toda essa ideia. “Esse contexto do Inverno 2018 sugere que as pessoas também querem entrar em um universo de leveza nas matérias-primas. Então, unindo a ideia de tecnologia e fluidez, teremos tecidos ligados ao universo esportivo muito fortes, como o náilon. Fora isso, uma série de transparências que podemos criar em cima do voil, por exemplo, também funcionam como um respiro entre aplicações de bordado. De uma maneira geral, eu acredito em menos massa e exageros”, justificou.

Para um público de designer e estudantes revelou a palavra-chave do Inverno 2018 (Foto: Henrique Fonseca)

No entanto, engana-se quem pensa que, em relação à cartela de cores, essa ideia de leveza seja traduzida em tons mais claros e frios. De acordo com Marnei Carminatti, as pesquisam apontam para uma aposta justamente inversa a essa ideia. “Nas cores, essa leveza não gera uma cartela com tons mais claros, necessariamente. Pelo contrário. Eu percebo até uma certa empolgação com tons mais pulsantes ou, em contraponto, cores mais apasteladas. Acima disso, o mais importante é o conceito de leveza e como podemos adaptar da tecnologia para os materiais e produtos”, destacou.

Com este trabalho, que é comandado pelo expert da moda nacional Walter Rodrigues, estilistas, designers e indústria de componentes conseguem idealizar e produzir suas coleções Inverno 2018 com um certo tempo de antecedência. Cientes das tendências e referências em duas estações anteriores, a aposta é que a originalidade e a criatividade se destaquem. Como explicou Marnei Carminatti, todo esse trabalho de pesquisa do Conexão Inspiramais visa estimular o design pessoal de cada um e, assim, diminuir o mais do mesmo. “É um trabalho de profetizar a ideia de criação. Normalmente, os núcleos de pesquisa apresentam uma vitrine e, de acordo, com ela, eles criam. A gente não. Nosso objetivo é conseguir encontrar fatores fundamentais no mercado de design, moda e arquitetura para que se possa incorporar ao mundo fashion. Por conta disso, o nosso trabalho acaba ficando mais difícil para quem quer copiar de imediato. Mas, quando percebemos que existe uma necessidade gigantesca de criação e originalidade no Brasil, as nossas pesquisas tornam-se incríveis. É possível atravessar janelas e ter um universo de descobertas”, analisou.

Palestra do Conexões Inspiramais no Minas Trend (Foto: Henrique Fonseca)

Para este propósito, 20 especialistas no assunto comandam o Núcleo de Design da Assintecal diariamente para buscar inspirações e referências no Brasil e no mundo. No entanto, Marnei reconhece que nem tudo o que é apresentado no Fórum é incorporado a todas as coleções. “Nós somos um grupo de 20 pessoas que organiza uma grande apresentação de referências. Enquanto algumas serão mais usadas no vestuário, por exemplo, outras serão apropriadas nos sapatos. O importante é que seja um conjunto de tendências mundiais”, disse.

Insider nas transformações e estações do universo fashion, Marnei Carminatti acredita que a moda nacional está caminhando para um cenário muito volúvel. Segundo ele, a inconstância acaba perturbando o conceito criativo que, a cada temporada, tem uma nuvem de dúvidas e incertezas instaurada em cima das apostas. “A moda está muito volátil. A cada semestre, a gente não tem segurança de quais propostas podem de fato ocorrer. Então, acreditamos que o que a gente imagina hoje, é o déjà-vu de amanhã. Algo que era incrível e considerado um super lançamento agora, acaba tendo que retomar na próxima coleção. Por tudo isso, eu acredito que não existam mais regras. E, sim, pessoas querendo consumir determinados produtos. Não dá mais para guardar referências e vontades em caixinhas. Seriam inúmeros espaços necessários e para consumo imediato”, argumentou.

A inconstância da moda brasileira é uma realidade que foi destacada pelo pesquisador do Núcleo de Design da Assintecal (Foto: Henrique Fonseca)

Em relação a esse retorno dos conceitos inspirativos, temos como exemplo as palavras-chaves dos demais grupos da pirâmide criativa. A cada temporada, somente o topo, que representa os 10% dos designers que querem ser originais, tem novas apostas. Para o Inverno 2018, por exemplo, os 30% são consequência e continuação da apropriação que ditou o Verão 2018 e os 60%, que é a massa, traz a ideia de três temporadas anteriores. Para essa maioria que é dominada pela única vontade de vender e não busca inovar, o Conexão Inspiramais acredita que o conceito ubuntu ainda seja o norte das coleções.

Marnei Carminatti é designer e pesquisador do Núcleo de Design da Assintecal (Foto: Henrique Fonseca)

Em comparação com o resto do mundo, Marnei Carminatti acredita que a moda brasileira está se reinventando. No entanto, o pesquisador alertou para as novas filosofias de mercado presentes no mundo fashion. Para ele, a proposta de imediatismo que cada vez mais domina os desfiles e as coleções ainda é algo longe da realidade. “O conceito do ‘see now buy now’ é quase uma utopia no Brasil. Algumas marcas e estilistas até conseguem desenroscar essa ideia, mas a grande maioria não acompanha. Por trás, existe uma enorme cadeia de produção que não dá conta. Isso tudo porque hoje, nós vivemos um momento de ansiedade na moda brasileira. Tudo precisa ser para hoje e para agora. E, a turma mais antiga que não consegue acompanhar, está desistindo. Já os novos designers, eu não tenho certeza se eles têm energia para enfrentar essa barra. Mas eu levo fé, nós não precisamos ser otimistas?”, questionou.