Como um holofote para o mercado business e uma cartilha-fashion certeira, 22ª edição do Minas Trend é simbiose ideal do mercado da moda brasileira


Em sua 22ª edição, o evento com o tema “Nosso Lugar Somos Nós” abastece o mercado com tendências fashion e enfileira, em sua passarela, 12 grifes com moda autoral

Por Karina Kuperman

De 17 a 20 de abril, Belo Horizonte será palco, como há mais de duas décadas, da perfeita simbiose entre negócios e moda. Em sua 22ª edição, o Minas Trend, promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG), se posicionará novamente como um farol para o mercado business, que movimenta as engrenagens de vestuário, calçados e acessórios. Além disso, o evento cumprirá seu papel de abastecer o mercado com tendências fashion com a chancela mineira de se fazer moda mezzo urbana mezzo casual, e com os toques do tradicional filão da moda festa.

Explicamos: de um lado, o Minas Trend vai armar um enorme Salão de Negócios com mais de 200 marcas expositoras – sendo 36 inéditas – evidenciando que o caminho percorrido até aqui deu certo e segue atraindo novos empreendedores ávidos por fazer a roda da economia girar. Até porque, diga-se de passagem, a fórmula encontrada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) é certeira: empresários do vestuário, das bolsas, acessórios, bijuterias e calçados aproveitam o grande encontro de seus iguais e de consumidores para ampliar seus mercados, entregando em fronteiras antes não alcançadas e expondo numa vitrine de renome. E mais: todos os expositores se caracterizam por produtos que se diferenciam pelo design, conceito de moda e qualidade do acabamento e das matérias-primas utilizadas.

A referência estética da temporada é a relação afetiva dos mineiros com a natureza e sua importância na indústria de moda do estado. Por isso, riquezas históricas, culturais e geográficas de Minas Gerais são referência na concepção criativa dessa edição. O tema “Nosso Lugar Somos Nós” já adianta e traduz uma abordagem sobre a tradição, cultura e valores locais e suas influências na produção de moda mineira na busca por novos mercados por meio de processos mais elaborados e produtos mais genuínos.

A importância da sustentabilidade também é referência importante para a concepção criativa do evento. “Fugimos dos estereótipos instantâneos da cultura local, buscando elementos com valor e conteúdos a serem explorados”, destacou o arquiteto Pedro Lázaro, diretor criativo da semana de moda mineira. O sertão mineiro, localizado nas regiões Norte/Noroeste do estado, com sua paisagem “linda e áspera, mas com uma riqueza humana imensurável”, foi o ponto de partida para “a manifestação do presente como perspectiva para o futuro”, afirmou.

Segundo Pedro, a postura da sustentabilidade – em evidência nos dias de hoje – sempre foi aplicada no cotidiano dos habitantes dessa região que dependem dos recursos naturais para sua subsistência. “Essas pessoas desenvolveram uma relação afetiva com o meio ambiente, com o espaço onde vivem, e são capazes de entender que fazem parte, mas não dominam esse lugar. O tema ‘Nosso Lugar Somos Nós’ não é um alerta, mas sim uma abordagem poética sobre a necessidade do retorno dessa relação espontânea e interativa com a natureza”, disse.

Por isso, a principal referência estética da edição vem da obra de Liliane Dardot – uma das mais importantes artistas plásticas do país e reconhecida por suas instalações que utilizam areia do Rio das Velhas para evidenciar os nomes das plantas do cerrado mineiro, que remetem aos tradicionais tapetes que cobrem as ruas para a passagem das procissões de Corpus Christi. Essa intervenção, aliás, será o principal destaque no hall de entrada do evento, recepcionando e apresentando o tema de forma impactante aos visitantes. “Normalmente, damos apelidos a pessoas queridas e a instalação de Liliane simboliza a afetividade com a natureza e o local onde vivem. Nomes populares de plantas – como ‘carrancuda’, ‘triste flor’, ‘árvore de vaca’ ou ‘João Leite’-, entre outros, surgem para evidenciar essa relação afetiva e respeitosa com o meio ambiente”, disse Pedro Lázaro.

As cores Pantone da temporada são aplicadas através de analogias com músicas, poesias e expressões artísticas mineiras que abordam percepções da natureza, surgindo em elementos inusitados como árvores azuis ou em um pôr-do-sol que irradia tons de vermelho escuro.  De fato, um Minas Trend conectado com a natureza e sua relação com as pessoas que nela vivem.

A coletiva de imprensa, no dia 17, contará com o presidente da Fiemg, Olavo Machado, e o diretor-presidente da CODEMIG – Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais, Marco Antônio Castello Branco, que apresentam as perspectivas da edição e repercutem sobre o desempenho econômico e produtivo da cadeia da moda mineira.

 

O Minas Trend reúne importantes grifes da moda mineira e nacional no Salão de Negócios e na passarela do evento (Foto: Henrique Fonseca)

O Minas Trend reúne importantes grifes da moda mineira e nacional no Salão de Negócios e na passarela do evento (Foto: Henrique Fonseca)

De outro lado, o Minas Trend, ladrilhando a estrada das semanas de moda brasileira, enfileira 12 grifes que desfilarão tendências para a primavera-verão. E o time é um verdadeiro frescor de nomes já conhecidos daquelas passarelas do Expominas com marcas que se preparam para os holofotes. Aos nomes: Plural, Natalia Pessoa, Lucas Magalhães, Manzan, Mollet, Chocker, Anne Est Follle repetem o sucesso das últimas edições, enquanto os estreantes Fátima Scofield,  Virgílio Couture, NotEqual e Skazi prometem brilhar riscando pela primeira vez a passarela mineira. Teremos ainda o desfile coletivo do Sindijoias.

Croqui Natália Pessoa

A autenticidade da mulher brasileira é o mote da coleção que Natalia Pessoa propõe para o verão 2019 ao enaltecer a coragem e vanguarda de Dora Vivacqua. Não está ligando o nome à pessoa? A gente clareia: mais conhecida como Luz Del Fuego, Dora foi atriz, escritora, naturista e feminista. Destacou-se na contribuição na luta pela emancipação das mulheres e viveu na capital mineira na década de 20. Bacharel em Ciências e Letras, ela fez fama mesmo ao seguir carreira artística em meados de 1942, quando se apresentava acompanhada de serpentes amestradas no Teatro de Revista. E como isso vai ser traduzido na moda de Natalia? Valorizando o feminino e glorificando o poder da mulher com um tricô leve e fluido, que traz frescor para uma coleção elegantemente resort.

Lucas Magalhães é movido pela busca de uma moda própria e com desejo de diálogo e conexão. Sua coleção será inspirada na troca de cartas entre artistas modernistas e busca resgatar a afetividade das relações humanas. Inspirado pela Semana de Arte Moderna de 1922, o estilista valoriza o resgate da autoestima e demonstra o cuidado com o único em tempos de reprodução rápida.

Croqui da Plural (Foto: Divulgação)

Desfilando no line up do Minas Trend desde o verão de 2013 – depois de cinco anos expondo no estande coletivo do evento -, a Plural é uma das marcas queridinhas das mineiras. Com uma moda inteligente e geométrica, assinada por Gláucia Fróes e Letícia Leão, a dupla promete um Verão com foco na estampa e em cores pouco óbvias, como elas gostam sempre de fazer. A inspiração para a estação mais quente do ano são movimentos artísticos que têm a geometria como característica principal. O construtivismo, com as formas tridimensionais e cores fortes, se alia à abstração do concretismo, que resulta em estampas figurativas e abstratas. A cartela de cores vai do vermelho ao caqui e branco, com toques de mostarda, preto e azul. Shapes geométricos e de comprimento midi reforçam a identidade da marca, sempre descomplicada e confortável. Os acessórios são de Carlos Penna e os sapatos do Estúdio NHNH.

 

Croqui da Manzan (Foto: Divulgação)

Cores, brilho, música e alegria norteiam o verão de Letícia Manzan, que se apropria do cuidado com o corpo, esporte como lifestyle e academia como cenário social típicos dos anos 80 para criar uma coleção esporte vintage com direito a tules bordados, crinolinas – uma organza modernosa com textura inusitada -, seda e linho. Tons pastas de amarelo, laranja, verde menta e rosé contrastam com peça clássicas das danceterias e clubs da década. Ou seja: jaquetas, parcas, modelos jogging e puffs chegam enriquecidos com bordado cuidadoso. Paetizados, transparentes e metalizados prometem surpreender aliados à novas técnicas de bordado que remetem às lembranças da estilista de pontos caseiros revisitados em propostas ousadas. “Acredito que a moda é uma forma de interpretar sonhos e os desejos”, disse ela, que aposta em cenário bem lúdico com perfume esportivo. Os jeans ficam por conta da Canatiba Denim Industry.

Comandada pela estilista Barbara Monteiro, a Molett se apresentará pela segunda vez na passarela mineira e leva uma coleção batizada “Saramandaia”, que significa “o que é feito em rituais secretos”, “feitiçaria” e “bruxaria”. Na coleção, a marca se apropria de elementos de culturas regionais e agrega detalhes de forma sutil e enaltecedora, lançando seu olhar sobre o contemporâneo. Listras, peças manuais e bordados contrastam com shapes modernos. A diretora criativa da Molett busca moda resiliente, resistente, combativa e questionadora. “A expectativa é apresentar um desfile mais ousado, consistente e completo, que reflita a vocação da marca pelas passarelas e que também impacte clientes e impulsione novas vendas. Este desfile difere do anterior por ter sido concebido com maior antecedência, o que se reflete em um domínio maior sobre o conceito”, explicou Barbara.

O croqui da Molett (Foto: Divulgação)

Já a Chocker apostou na Londres dos anos 60 e 70 para uma coleção boho e que destaca toda a efervescência cultural da época. A queda dos estereótipos, a liberdade e a criatividade no vestir, que lançaram tendências na época, são lembradas através de estampas feitas à mão inspiradas nas “Chelsea girls”, garotas com seus turbantes, bolsas a tiracolo, lábios e olhos expressivos. Peças fluidas, volumes, babados, alfaiataria e plissados com uma paleta de tons off-white, rosé, pink e preto prometem encantar. Crepe francês, cetim, rendas, tule, linho e o novíssimo tecnológico impermeável são os materiais escolhidos para o verão da marca, que tem styling assinado por Paulo Martinez, um dos maiores nomes da moda brasileira e diretor do desfile coletivo de estreia do evento. “Ele tem tudo a ver com o universo Chocker, com aquela mulher feminina que queremos apresentar. Temos uma amizade de longa data com o Paulo Martinez, nascida no Minas Trend, foi uma das pessoas a quem apresentamos a ideia inicial da Chocker e ele acompanhou os primeiros passos dela. Daí que, quando fomos chamadas para desfilar, não poderíamos deixar de convidá-lo para o styling do desfile. Ele faz parte da história”, elogiou Shirlene Campos, diretora criativa da marca. “Temos uma preocupação em manter o DNA da Chocker, cuja essência é feminilidade com perfumaria retrô. Estudamos muito, pesquisamos, levando em conta sempre esse aspecto e o direcionamento do produto. O tema, base no trabalho de desenvolvimento das coleções, tem que ter a cara da marca”, enfatizou.

Com direção de arte de Renata Manso e styling de Thaís Mol, a Anne Est Folle apresenta um verão com efervescência de texturas, cores e formas. O mix perfeito de prints digitais inspirados em florais etéreos, raízes fortes, cascas de árvores cristais e paisagens urbanas aparecem em tons de turquesa, vermelho, verde, azul, preto e branco. Pintura manual não fica de fora da coleção, com direito a tie-dyes, degradés e marmorizados. Aliás, a valorização do trabalho manual de artesãos fica claro na parceria para o desenvolvimento das tramas e macramés da coleção. Seda pura, cetins, transparências, chiffons, linhos leves, crepes, viscose a algodão em silhuetas marcadas – principalmente na cintura e no busto – traduzem a identidade da mulher contemporânea e livre da marca.

Fátima Scofield está apostando em um verão repleto de transparências e fluidez em sua estreia nas passarelas mineiras. Lançada em 2011, a marca vem com um conceito que explora uma abertura entre o espaço e o tempo, que dá forma à vida. “O vazio aqui é possibilidade e expectativa, iminência de acontecimentos entre o corpo e a vestimenta” diz Fátima Scofield, que conta com styling caprichoso de Renata Correa e chega com atmosfera inspirada em pijamas, lingeries e muitos tecidos esvoaçantes. Nos pés, as modelos calçarão sapatos do designer Alexandre Dellela, enquanto os acessórios são uma parceria com a Isla. Clutches com arremates da estilista mineira prometem ser tendência e virar objeto de desejo das mais antenadas.

Sindijoias apresenta pela segunda vez na passarela mineira um desfile coletivo das marcas Caleidoscópio, Carlos Penna, Camila Klein, Endy Mesquita, Hector Albertazzi, Lázara e S Design. Com styling de Davi Leite, o desfile celebra a identidade de cada um dos criadores, um grupo eclético que propões uma visão plural sob o setor. Fundada em 1998, a Caleidoscópio é um ateliê de joias e acessórios de moda e conta com o olhar de Jeanine, Mailda e Renata Fontan, três arquitetas que misturam materiais e texturas inusitados resultando em peças criativas e únicas. A marca de Carlos Penna prima pelo inusitado, com direito à peças cheias de história! Já Camila Klein apresenta um passeio por décadas, países e realidades paralelas e une artesanato, escultura e moda em design de luxo. Endy Mesquita preza pela liberdade da criação, Hector Albertazzi foca na produção interna e segue rigorosamente os processos de fabricação de joias – desde a fundição do metal até o acabamento. Lázara, por outro lado, tem a ousadia como marca registrada. A S Design, criada e comandada pela designer Sheila Morais, investe em movimentos fluidos com inspiração na arte e arquitetura. Seus acessórios são desenhados à mão e é esse handmade que é sua base – resultando em sofisticação e identidade. A união promete dar bossa!

Um dos croquis do desfile Sindijóias (Foto: Reprodução)

O estilista Virgilio Andrade retorna com sua Virgilio Couture e seu verão 2019 vem cheio de tecidos desenvolvidos com a equipe de Julia Bianchi, Rodrigo Baba e Virginia Domingos. As inspirações da coleção são “ruídos cotidianos, calor escaldante, britadeiras, pássaros que murmuram anunciando a chuva. Tormenta e tempestade. Cores que explodem, nuances de pôr do sol – quase fluorescentes – se mesclam à geometria abstrata das peles animais, felinas e artificiais”, explicou o estilista. “Meu primeiro desfile foi na Casa de Criadores, onde eu não tinha tanta necessidade comercial. Foi um processo de experimentação. Agora, mostro também meu potencial de vendas por isso a expectativa é maravilhosa! Afinal somos uma marca que nunca desfilou em um evento assim tão grande de mídia e de estrutura”. A parceria com a Focus Têxtil teve toque autoral de Virgilio, que retrabalhou as superfícies de cada tecido. Vale lembrar que a Focus Têxtil, fundada em 1940, é uma empresa que desenvolve e comercializa tecidos para diversos segmentos: moda, homewear, jeanswear e tecidos para uniformes, entre outros.

(Foto: Divulgação)

Suas roupas são um estudo de colagem em cima de modelagem que dão a impressão de sobreposições. Xadrez, animal print, pinceladas de nanquim, bordados autorais, broches e estampas trabalhadas digitalmente aumentam o leque de possibilidades de combinações. Tecidos estruturados como crepe virão ao lado dos fluidos, como musseline, cetim e chiffon e os comprimentos vão do micro aos longos, passando por midis cheios de estilo.

Virgílio Andrade (Foto: Divulgação)

Desenvolvida por Fabio Costa, participante do reality show “Project Runaway”, a NotEqual se destaca pela produção de roupas que se adaptam a ambos os sexos e destina 15% dos lucros para o desenvolvimento de pesquisas sobre gênero. Suas peças são desenvolvidas artesanalmente e propõe novo olhar sobre os conceitos tradicionais de confecção.

Já a Skazi volta à catwalk mineira após um hiato de duas edições fora do evento com direito a um desfile comemorativo dos seus 25 anos, além de uma exposição no Salão de Negócios. A marca, convidada para encerrar os desfiles do evento, promete um verdadeiro show que  reunirá um time de famosos e a turma de fashionistas da semana de moda mineira para apresentar uma coleção que une sofisticação, contemporaneidade e vanguarda em design moderno e aplicação de estampas, formas e matérias-primas exclusivas. Renda, chiffon de seda e couro vão ser apresentados pela marca – que conta com mais de 500 pontos de venda em todo país – e apresentados de forma inovadora que caracterizam e definem o já reconhecido estilo Skazi. Além disso, quem passar pelos corredores do Salão de Negócios encontrará uma mostra com looks e a história de sucesso da Skazi, em um espaço monocromático e interativo. “É gratificante retornar ao evento em um momento marcante da nossa história, afinal o Minas Trend teve papel fundamental para o sucesso da Skazi”, disse Vander Martins, diretor da marca.

 

Line Up:
17/04/2018 – Terça-Feira
16h – Fatima Scofield / Sindijoias-MG
18h – Plural / Natália Pessoa
20h – Lucas Magalhães / Manzan

18/04/2018 – Quarta-Feira
16h – Virgilio Couture / Moles
18h – Choker / Anne Est Folle
20h – NotEqual / Skazi

Serviço:
Minas Trend – primavera-verão 2019
Data: 17 a 20 de abril de 2018
Horário: de 3ª a 5ª feira, das 10h às 20h, e 6ª feira das 10h às 17h
Local: Expominas – Belo Horizonte – MG
Informações: www.minastrend.com.br – https://www.facebook.com/minastrend