Vinicius de Moraes: homenagem do Google e agito em Nova York para ser infinito enquanto durar


No Brasil, a doce lembrança para fãs e amigos; na Internet, a homenagem do Google e, em NY, a ação do Grupo .BR

Os 100 anos que o poeta e compositor Vinicius de Moraes completaria hoje continuam rendendo sonata mundo afora. O Google lembrou o Poetinha com uma bela ilustração, tendo sua eterna Ipanema como cenário. Nova York também se preparou para homenagear o artista neste sábado, data de nascimento, lançando o logotipo oficial do seu centenário nesta cidade e promovendo uma noite beneficente organizada pelo Grupo.BR, trupe de teatro brasileiro sediada na Big Apple, composta por Andressa Furletti, Debora Balardini e Thiago Felix, que usa o teatro de vanguarda para apresentar o trabalho de artistas brasileiros na metrópole americana.

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Homenagem do Google ao centenário de Vinicius de Moraes

O evento, que acontece no Loft Studio (23 west 35th), pretende arrecadar fundos para a nova produção do grupo, uma obra que celebrará a vida e carreira do Poetinha, batizada Infinito enquanto dure. O top chef Porter William Brooks, que será o anfitrião da noite, preparou comidinhas baseado nas preferências pantagruélicas de Vinicius. O nome dado ao rega-bofe? Vinicius, uma aventura culinária. Porter é aquela figuraça que apresenta um programa no TV Entertainment People sobre gastronomia, vinho, viagens e o mundo do entretenimento. Ele ainda concebeu um open bar onde vai rolar de uísque a caipirinha,  de licor de fígo a açaí.

Abrilhantam a noite: Marialvo dos Santos – o único músico brasileiro no Stomp -, a cantora americana Alexia Bomtempo, conhecida pelo seu gingado tupiniquim, e Kay Lyra, a filhota do compositor Carlos Lyra, além de performances e esquetes teatrais inspirados em Vinicius.

No mais, vai rolar também um leilão com peças de artistas brasileiros renomados. Renê Nascimento, Alcina Saphira, Antonio Oliveira Filho, Adri Volpi, entre outros, doaram peças em prol da causa. E, para os amantes de esportes, o Flamengo Futebol Clube doou uma camiseta oficial e autografada pelos jogadores mais requisitados da casa.  Que tal levantar o braço e fazer um lance?

Carioca, nascido no bairro do Jardim Botânico, Vinicius foi diplomata de carreira e atuou como poeta, autor de peças teatrais, escritor e compositor de mais de 250 músicas. Vinicius viveu em uma época mais simples, em que a dialética de quem estudou em colégio de padre e a retórica de quem pertenceu aos quadros do Itamaraty podiam perfeitamente conviver com a boemia notívaga em uma mesa de bar, num período menos politicamente correto, mas muito mais criativo, em que encher a cara e dar baforadas de cigarro era coisa de intelectual descolado. Também era época em que se batia no peito de orgulho por ser amante de muitas mulheres, chegando do badalo com marca de batom na camisa. Em relação às mulheres, o poeta colecionou afetos, casou nove vezes, teve cinco filhos e amou muitas – física ou platonicamente – entre Gildas, Lucianas e Garotas de Ipanema. Com seu parceiro de todas as horas, Tom Jobim, criou a bossa nova e desviou a bússola do mainstream para o Rio de Janeiro.

Com a peça Orfeu da Conceição, Vinicius de Moraes deslocou de mala e cuia o velho mito grego para a favela carioca, colocando os negros no centro do universo antes mesmo de Martin Luther King e sua moçada pavimentarem os canyons da intolerância racial no árido ambiente social norte-americano. E anos-luz à frente de a Motown de James Brown, The Supremes e Jackson Five democratizar a música pop sem as fronteiras da cútis. Como compositor, soube trazer água de beber aos corações mais empedernidos, se revelando estupefato com crianças mudas telepáticas de Hiroshima ou cheio de preguiça no corpo em uma agradável tarde em Itapoã. Ao falecer em 9 de julho de 1980, deixou saudade, mas não quis saber nem de choro, nem vela.

Para marcar essa data especial (o artista nasceu no dia 19 de outubro de 1913), o Teatro SESI celebra, a partir desta terça feira, às 19h, Vinicius de Moares em exposição gratuita do acervo sobre sua vida e obra. A mostra Vinicius – 100 anos é uma coletânea de cerca de 200 itens, entre obras e curiosidades do homenageado. Estão expostas, entre outras relíquias, fotos de várias fases do artista, poesias, máximas notórias (tipo “o amor é infinito enquanto dura” ou “as feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”), os figurinos criados por ele mesmo e diplomas com notas em diversas disciplinas escolares.  Em um país onde o registro para posteridade da prata da casa muitas vezes é relegado a segundo plano e a propagação de sua história cultural costuma sucumbir a modismos imediatistas, chega a ser louvável a iniciativa.

Na ocasião haverá também um debate sobre a vida e carreira de Vinicius de Moraes, além do show Tempo de amor – Vinicius e os afro-sambas, com José Staneck e Zé Neto. Afinal, apesar de branco de olhos azuis, o poeta sempre flertou com a umbanda e se descobriu filho de santo.

Nós, do site, aproveitamos o ensejo e homenageamos o poeta com um vídeo de outro Vinícius, nosso editor de fotografia e videomaker, Vinícius Pereira, que criou uma colagem de imagens icônicas a partir da voz do eterno companheiro de aventuras, Tom Jobim, em Carta ao Tom.