Talokudo, fenômeno no Tik Tok em 10 meses: ‘Postava vídeo e dava 6 milhões de views. Pensei que tinha erro’


O sucesso do ator e humorista acontece depois de ele criar uma família de personagens femininas, inspirada em sua própria. Por se vestir de mulher, percebeu certo preconceito. “Até hoje, perguntam se eu sou homossexual, porque quem não me segue na minha rede social pessoal, que é o Instagram, onde apareço com cara limpa, pensa, que eu sou realmente uma mulher ou um homossexual” comenta ele, com bom humor, que por outro lado se emociona com mensagens que recebe: “As pessoas dizem que através dos meus vídeos saíram da fase de depressão, pânico e tristeza”, O maior sonho? “O meu objetivo maior é produzir uma série com os meus personagens e colocar em alguma rede de streaming, tipo Netflix, Amazon Prime e fazer shows pelo Brasil inteiro”

* Por Carlos Lima Costa

O humorista e influencer digital Talokudo, de 30 anos, se tornou um fenômeno na internet em plena pandemia, quando, em maio do ano passado, ingressou no Tik Tok e criou uma família de personagens femininas. Até, então, ele que começou a produzir conteúdo para a web, em 2013, tinha um crescimento gradual no número de seguidores, que acompanhavam, por exemplo, suas paródias musicais. Atualmente, dez meses depois, ele acaba de atingir a marca de três milhões de seguidores. “Essa foi a rede social que explodiu em um curto período de tempo, o pessoal abraçou a ideia. Quando vi que postava um vídeo e dava seis milhões de views de acesso até pensei que tivesse algo errado nessa história. O meu sucesso era justamente porque eu produzia um conteúdo diferente do que o pessoal estava fazendo, aquelas dancinhas e dublagens. Então, comecei a me destacar de uma forma absurda por ser diferente dos demais”, frisa.

Os vídeos com suas criações também impulsionaram suas outras redes sociais nesse curto período de tempo. No Instagram, pulou de 30 mil seguidores para 365 mil, e no YouTube, está próximo do primeiro milhão, indo de 80 mil para 941 mil. “Quer dizer, criei as personagens e deu boom em tudo que é canto. Onde tivesse o meu nome o pessoal ia lá e seguia”, vibra.

Há dez meses, Talokudo interpreta no Tik Tok uma família de personagens femininas (Foto: Zenden Silva)

Há dez meses, Talokudo interpreta no Tik Tok uma família de personagens femininas (Foto: Zenden Silva)

Essas criações, inspiradas na própria família, surgiram após se formar como ator. Jacinta, Ketley e Katia são as personagens principais e existem algumas secundárias. “Dona Jacinta surgiu em cima da minha mãe, Nicacia Alves, que veio de sítio, mãe rigorosa, briguenta. A Ketley, a filhinha mais nova, eu me baseei em mim, pois eu era muito chorão, fofoqueiro, arengava com tudo. Resolvi criar a minha versão feminina, por que achei que seria mais engraçado com as chuquinhas, um vestidinho antigo. Já a Katia é a mais velha, adolescente, inspirada em minhas duas irmãs, Nadia e Érica, com um pouco de cada: Uma é muito mentirosa, a outra é muito debochada. Peguei esses dois nichos e o povo adora”, explica ele, responsável também pela edição dos vídeos, que várias vezes mostram mais de uma delas.

Talokudo na pele das personagens Ketley e Jacinta, que fazem sucesso no Tik Tok (Foto: Zenden Silva)

Talokudo na pele das personagens Ketley e Jacinta, que fazem sucesso no Tik Tok (Foto: Zenden Silva)

Talokudo tem consciência de que sua passagem pelo Caldeirão do Huck, em maio de 2020, também contribuiu para o sucesso. Era dezembro de 2019, quando ele recebeu o convite para participar do programa. Mas veio a pandemia e deram uma pausa. “Fiquei triste, pois era uma oportunidade única. Em abril, me ligaram, estavam pensando em fazer o quadro de forma online. Topei na hora, não quis esperar até voltar ao estúdio. Aí tive quatro dias para produzir o conteúdo e mandar para eles. Criei um personagem que era um professor doidão que dava aulas com as músicas da Bahia. O quadro tinha duração máxima de um minuto e dez segundos. Graças a Deus, os jurados, Larissa Manoela, Hugo Gloss e o Rafael Portugal, foram super de boa, consegui dez dos três. Fui o campeão, ganhei o prêmio máximo e o troféu”, lembra.

@talokudo

Você já passou por isso? Kkkkkk tamo junto, compartilhe #humor #infância #memes

♬ som original – Humorista Talokudo

Ele ressalta que Mossoró, no Rio Grande do Norte, sua terra natal, parou para assisti-lo. “Fiquei muito contente. Apareceu até um primo meu que eu nem conhecia (risos). Nessa fase, o meu trabalho não estava tão em evidência como hoje e deu uma alavancada, ganhei muitos seguidores”, acrescenta.

Talokudo descreve o sentimento pelo reconhecimento. “Gratidão, porque lutei muito para chegar aonde cheguei. Meus olhos enchem d’água por ver o meu trabalho sendo reconhecido mundialmente, porque também tenho fãs fora do Brasil. Deus toca em mim. A promessa era não desistir nas primeiras pedras e dificuldades. Isso só faz você ser um vencedor maior do que poderia ser. Sinto gratidão por Deus me abençoar cada vez mais. Meu principal foco era a gente conseguir viver bem, ter saúde. Então, hoje, consigo dar uma vida melhor para a minha família.”

Todas às terças, Talokudo comanda o Papo de Comédia, onde recebe um humorista de renome em seu Instagram (Foto: Zenden Silva)

Todas às terças, Talokudo comanda o Papo de Comédia, onde recebe um humorista de renome em seu Instagram (Foto: Zenden Silva)

Em tempos de pandemia, o humor é essencial. “Recebo muita mensagem de gratidão, pessoas dizendo que através dos meus vídeos saíram do ciclo de uma fase de depressão, pânico, tristeza. Tudo é energia. Se você vê uma pessoa com energia muito radiante, você vai pegar um pouco daquela vibração. Procuro passar uma vibe positiva para todo mundo. Estamos vivendo um lockdown. Quando abre a internet, a gente só vê notícia ruim, tragédia. Então, vamos criar um projeto para as pessoas se divertirem e se entreterem de forma alegre”, explica.

O ator acaba de lançar o Papo Comédia, em seu Instagram. Todas as terças-feiras, às 19 horas, receberá um comediante de renome para falar sobre a importância do humor na vida das pessoas nesse período. O primeiro convidado, dia 23, foi o ator Nelson Freitas. “Temos que procurar sempre consumir humor, para que este estado de espírito dentro da gente não acabe. Criei esse projeto pensando nisso”, aponta.

Antonio Edson Oliveira dos Santos, nome de batismo de Talokudo, lembra que em sua trajetória foi vítima de bullying e preconceito. “Comecei a produzir meus vídeos há muito tempo, meados de 2013. Naquela época, não tinha esse monte de gente produzindo conteúdo para a internet. Em minha cidade, basicamente só tinha eu. E o povo começou a me chamar de louco, o doido da internet. Aí decidi criar um nome artístico para fazer jus ao apelido, um nome único e fácil para que as pessoas me achassem quando eu fizesse algum show. Comecei a pensar ‘tá louco, tá louco, talokudo’. Aí falaram: ‘É doido mesmo’. Me ajudaram a criar um nome chiclete. Mas, hoje em dia, vejo muitas pessoas que me criticavam fazendo a mesma coisa”, observa.

Talokudo caracterizado como a personagem Katia (Foto: Zenden Silva)

Talokudo caracterizado como a personagem Katia (Foto: Zenden Silva)

Em 2018, após cursar teatro, participou de peças e começou a fazer algumas interpretações de mulheres, mas ainda não eram personagens fixas. Essas só vieram mesmo em maio de 2020. Considerado no início como louco, percebeu um preconceito quando começou a se vestir de mulher. “Até hoje, às vezes, o pessoal pergunta se eu sou homossexual, porque o fã quando não me segue na minha rede social pessoal que é o Instagram, onde apareço com cara limpa, pensa, às vezes, que eu sou realmente uma mulher ou um homossexual. Ele fica com essa dúvida. Aí quando me vê sério, às vezes, com a minha esposa (ele é casado com a atendente de telemarketing Lideyrla Costa, de 24 anos), me pergunta: ‘Nossa, você não é gay? Eu achava que você fosse gay.’ Muita gente pensa, pelo fato de me vestir de mulher e eu estudo muito o mundo feminino para poder fazer as personagens bem reais. Às vezes, acabo sendo mais mulher do que muita mulher que tem por aí”, frisa, às gargalhadas. “Minha esposa está ingressando nesse ramo de blogueira, mas é um pouco tímida. Já tentei colocá-la nos meus vídeos, mas ela ficava muito nervosa. Um dia vai dar certo”, diz.

Para desenvolver mais seu trabalho, Talokudo nutre o desejo de ir morar no Rio de Janeiro ou São Paulo. “Nunca consegui por conta das condições financeiras que eu tinha. Faz muito tempo que trabalho no ramo artístico, que passei a viver da comédia. Então, pensei muito nisso, em 2017, quando participei do programa Legendários, da Record, e fiquei quatro dias em São Paulo. Agora, graças a Deus, estou com uma boa condição financeira para poder fazer isso, mas a pandemia não me permite. Tenho que esperar passar essa fase”, explica. “Acho que me chamaram para o programa por conta de uma paródia que eu fiz da música Louca de Saudade, da dupla Jorge e Matheus, e que bombou”, completa.

Lideyrla Costa e Talokudo oficializaram a relação há um ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Lideyrla Costa e Talokudo oficializaram a relação há um ano (Foto: Arquivo Pessoal)

Talokudo está envolvido com criação desde a infância. “Ganhei meus primeiros centavos na escola vendendo os meus desenhos, porque também sou artista plástico, desenho, pinto. Agora, trabalhei algum tempo com carteira assinada em algumas empresas. Surgia uma vaga de auxiliar que não precisava de experiência eu ia (risos). Fui auxiliar de tudo, de pintor, mecânico… Meu último emprego foi de motoboy em meados de 2014, quando já gravava meus vídeos e vi neles a oportunidade de largar aquele emprego que estava me fazendo muito mal. Motoboy sofre bastante com sol, chuva, condições horríveis de trabalho, periculosidade nas ruas, bairros perigosos. Aí fui viver só da minha arte”, recorda.

Um de seus vídeos no YouTube tinha batido um milhão de views, quando recebeu convite de uma network canadense, a Broad Band TV, que lhe ofereceu a oportunidade de monetizar os vídeos com anúncios. “Aceitei a proposta deles, mas no primeiro mês, ganhei R$ 5, no outro, R$ 20, e assim foi aumentando”, realça. Nessa época, ainda morava com a mãe e ela lhe fornecia a alimentação. “Desde criança, nunca pedi dinheiro a ela. Perdi meu pai (Francisco dos Santos Neto), aos 12 anos. Ele morreu do coração. Foi picado por um barbeiro e teve a Doença de Chagas. Vi minha mãe sendo pai e mãe ao mesmo tempo para criar os três filhos. Na infância, vendia meus desenhos e se quisesse comprar algo, eu usava o meu trocado. E nessa fase, passava um mês sem comprar um lanche no final de semana, sem sair, atrasava internet. Mesmo ganhando pouco, não desisti e tudo foi melhorando”, conta.

"Minha mulher está ingressando nesse ramo de blogueira, mas é um pouco tímida. Já tentei colocá-la nos meus vídeos, mas ela ficava muito nervosa”, conta Talokudo

“Minha mulher está ingressando nesse ramo de blogueira, mas é um pouco tímida. Já tentei colocá-la nos meus vídeos, mas ela ficava muito nervosa”, conta Talokudo

Como também teve banda, foi cantor, ele começou na internet fazendo paródias. “Pegava uma música e estragava com uma letra nada a ver. Aí fui para o ramo do stand up comedy no estilo Whindersson Nunes. Quando me formei como ator profissional, vi a possibilidade de fazer humor de forma séria. Comecei a criar e dar vida a personagens, fazendo situações engraçadas. Meus vídeos, hoje, tem muita atuação. As pessoas riem não pelas piadas, mas por se identificarem com alguma situação que elas já viveram. Faço muita gente rir sem contar nenhuma piada”, explica Talokudo, que também usa as redes para passar mensagens positivas. “No Instagram, todos os dias eu posto uma reflexão sobre algo que eu já passei para motivar alguém a ter uma vida melhor, a correr atrás dos objetivos”, afirma.

Talokudo reflete sobre a área do humor e fala sobre o que planeja para o futuro. “A internet está renovando, até porque o maior comediante do Brasil, hoje, veio dela, o Whinderson Nunes, o cara tem bilhões de views de acesso. A internet veio para renovar e dar oportunidades. Cada pessoa que tem seu celular em casa é como se tivesse uma emissora de televisão. Ela pode produzir o seu próprio conteúdo para as pessoas assistirem. Então, quando alguém tem talento, potencial e mostra isso am alguma rede social, ela pode chegar na televisão, se for o sonho dela, ou fazer como o Whinderson Nunes, que preferiu viver a vida na internet e fazendo shows. O meu objetivo maior é produzir uma série com os meus personagens e colocar em alguma rede de streaming, tipo Netflix, Amazon Prime e fazer shows pelo Brasil inteiro. Quando a pandemia passar, quero voltar a sentir esse calor humano mostrando a minha arte. É a primeira coisa que eu vou fazer quando tudo isso passar”, espera.

Talokudo sonha em criar uma série com suas personagens para transmitir em plataformas como Netflix (Foto: Zenden Silva)

Talokudo sonha em criar uma série com suas personagens para transmitir em plataformas como Netflix (Foto: Zenden Silva)

Talokudo também é admirado pelas crianças. “Eu não escolhi fazer conteúdo para elas. As crianças que me escolheram. Quando comecei a fazer essas personagens pelo fato de ter uma criança lá envolvida, que é a Ketley, elas começaram a assistir e a achar engraçado”, ressalta. A partir disso, começou a dar uma equilibrada em seu conteúdo para poder ser visto por todo mundo sem problemas. “Hoje em dia, com os meus vídeos, eu sempre procuro passar uma mensagem de ensinamento às crianças. Procuro não fazer coisas que venham prejudicar a educação delas”, assegura ele, que aboliu os palavrões, por exemplo.

A pandemia não atingiu sua família. Ficaram todos em casa protegidos. “Aproveitei para ficar produzindo meus vídeos. Onde moro é basicamente é o meu cenário. Tem dois quartos. Um é meu e da minha esposa e o outro é das personagens, da Ketley e da Katia, pintado de rosa, a cor que gostam, uma dorme na cama, a outra na rede. É como se realmente existissem. Tem um alpendre aqui fora que a mãe sempre conversa, fofoca”, conta.