#SaiaDaCaixa de Helen Pomposelli apresenta a sereia Patrícia Furtado de Mendonça


A sereia sempre fez cursos e desenhava na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, fez teatro e até novela na Globo, com direito a ser par romântico na novela Pedra sobre Pedra de Du Moscovis  e Selton Melo. Mas seu amor, mesmo, é a água: “Quando eu era pequena, minha mãe me contou que a primeira palavra que eu falei foi água, antes de falar papai e mamãe. Eu estava no colo dela, querendo que ela me levasse até um lago”, contou em papo com Helen Pomposelli

* Por Helen Pomposelli 

(Foto: Ricardo Esteves)

O “Saia da Caixa” de hoje mergulhou nas profundezas do oceano para buscar a sereia carioca, atriz, pesquisadoras, tradutora, professora e consultora de projetos Patrícia Furtado de Mendonça. “A ideia de estar dentro da caixa, para mim, é como os aquários dos peixes, que se ampliam em oceanos, cachoeiras e rios”, filosofa Patrícia, do signo de escorpião, com cinco planetas em sagitário e trazendo alma cigana.

Formada em arte, música e espetáculo com especialização em artes cênicas e mestrado em teatro na Uni-Rio, Patrícia Furtado de Mendonça diz que é impossível se definir com um único interesse, e, por isso, criou a Acqua Mater. “Fruto desse conflito, já que vivemos em um mundo que foca em uma só atividade. Amo muito tudo que tenho e tenho orgulho dos vários currículos diferentes. Dependendo do trabalho que eu preciso fazer não abdico, ao contrário, reúno! Porque eu me reconheço em todas as atividades. As pessoas me forçam a definir algo, até que um dia me perguntei: `qual a direção que você vai dar na vida?` Foi num estado inconsciente, que, de repente, veio o projeto Acqua Mater. O foco não era a atividade, mas o tema: água!”.

(Foto: Ary Amarante)

Patrícia atualmente escreve artigos para o Mermaid Federeration Internacional, sediada em Hong Kong, uma associação internacional que forma sereias. A idéia é unir “conhecimentos de sereia” e fornecer conteúdo para eles sobre as memórias da água. “Quando eu resolvi pedir demissão dos meus antigos empregos burocráticos, eu falei: não sou um peixe dentro do aquário, prefiro nadar em oceanos. E assim começou a minha história”

Segundo Patrícia, essa moda de “rabo de sereia”, “sereismo”, pode ser vista como superficial, mas têm muitos “sereios  e sereias” por aí que se aprofundaram e tem projetos de preservação do meio ambiente com fortes conexões com os chamados dos oceanos e as memórias da águas. Ela mesma faz atividades com o eixo através da Aquamater, uma plataforma para o compartilhamento de conhecimento e saberes que nos reconectam com as origens da vida e revitalizam nossa relação com as águas. “É uma vontade de tecer projetos em forma horizontal com outros pesquisadores, estudiosos, artistas, terapeutas. Todas podem compartilhar seus conhecimentos e saberes. Quando se fala de água, todos as pessoas chegam e dividem as mesma visões, sobretudo sobre a memória afetiva”, diz.

(Foto: Luciana Dau)

“A água é realmente sagrada. Eu falo de uma visão teórica e prática. A experiência passa pelo corpo. Eu tenho que ir para água, praticar apnéia, mergulhar, ir pra cachoeiras, porque é nessa hora que vem pra mim, através das terapias aqualtivas em relação direta com o líquido”. Patrícia pratica apnéia desde o final dos anos 90, morou por doze nos na Itália e lá estudou e realizou trabalhos sobre as memórias marinhas. Uma dos lugares que estudou e trabalhou foi em Maratea, no sul da Itália, onde fazia uma pesquisa compartilhada por apnéias, bailarinos e terapeutas de todo o mundo.

“Daí surgiu o meu sereismo… naturalmente amigos me chamavam de sereia. Surgiu a oportunidade de rodar um filme como sereia em Fernando de Noronha onde estavam procurando mulheres que tivessem prática em apnéia e eu sou modelo subaquática. Fui indicada por uma amiga, e, a partir disso, nasceu uma Patrícia sereia! Em setembro fiz outro filme na Tailândia com cauda de sereia de silicone profissional”, conta Patricia, que tem uma ligação quase umbilical com o tema. “Quando eu era pequena, minha mãe me contou que a primeira palavra que eu falei foi água, antes de falar papai e mamãe. Eu estava no colo dela, querendo que ela me levasse até um lago”.

(Foto: Ary Amarante)

A sereia sempre fez cursos e desenhava na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, fez teatro e até novela na Globo , com direito a ser par romântico na novela Pedra sobre Pedra de Du Moscovis  e Selton Melo. “Depois disso, me distanciei e fui para Europa, onde fiquei um ano mochilando e fazendo cursos de teatro. Me formei na Itália e foi lá que iniciei trabalho de dança aquática, entre 93 e 2005. E até 2009, trabalhei em empresas com projetos culturais na área de sustentabilidade e depois fui para recursos humanos trabalhar com treinamento e desenvolvimento, dava aula e traduzia livros de teatro. Depois,  pedi demissão na empresa e fui dar aula na PUC numa pós de educação ambiental”

E para quem quer sair do Oceano, ops, sair da caixa? “Estar aberto a qualquer tipo de pessoas e cultura. É no confronto com a diferença que aprendemos que podemos ser muito. Uma das coisas fundamentais é não julgar e acreditar que com qualquer pessoa você pode adquirir um aprendizado e, assim, conseguir circular em vários tipos de ambientes e culturas. Não ficar fechado em um modelo cultural ou profissional. A água não é uma porta, é um meio fluido a qual você pode viajar pelo mundo, conhecer e estar conectada com pessoas diferentes, basta se deixar levar e confiar”

(Foto: Leo Lamas)

Obrigada, sereia!