Saia da Caixa de Helen Pomposelli com Everson Perninha: das comunidades para o posto de cabeleireiro e barbeiro das estrelas dos gramados


Autodidata, Everson começou a trabalhar no Andaraí, no sótão de casa, e hoje é o favorito dos jogadores da seleção brasileira. Mas entre um ponto e outro, ele tem muita história de superação e inspiração para contar. Vem ler!

Everson Perninha por Miguel Moraes

*Por Helen Pomposelli

Everson Perninha por Miguel Moraes

Everson Perninha por Miguel Moraes

Que os jogadores de futebol são vaidosos com suas madeixas, isso todo mundo sabe. Mas que por trás disso existe uma pessoa que cuida minuciosamente dos cabelos e da barba deles e que é conhecido como Perninha do Andaraí, esse é o personagem do Saia da Caixa de hoje. Anote aí: Léo Moura, Muralha, Eduardo da Silva, Everton, Paulinho, João Paulo e Luis Antonio do Flamengo são alguns clientes do famoso Perninha que não só raspa com máquina na lateral como também incrementa o penteado com o creme alisante que ele mesmo criou chamado “Chora, negão”.

Everson Perninha por Miguel Moraes

Everson Perninha por Miguel Moraes

Aos 28 anos, Everson Conceição de Oliveira, o famoso Everson Perninha do Andaraí, cujo nome é de família e em homenagem ao seu avô que tinha o apelido de “perninha de sapo” já tem muita história pra contar. “A galera sempre chegava na comunidade e perguntava: ‘Quem é esse tal de Perninha?’ É o filho da Miriam que está trabalhando no Moto Taxi. Mas quem é Miriam? É a mãe do Perninha!”, explica, rindo. Perninha não nega, nasceu numa família pouco convencional, na qual a mãe era solteira e o pai com muitas namoradas, eram 11 irmãos de várias mães, e ele foi criado pelos avós. “Meu pai era DJ e traficante. E eu, quando tinha 12 para 13 anos já fazia ‘carreta na bolsa’, empacotava bolsa de mercado e levava criança na escola para ganhar 10 reais. Em 2014, com 14 anos, comecei a trabalhar na Livraria Saraiva no Projeto Jovem Aprendiz como auxiliar administrativo”.

Everson Perninha por Miguel Moraes

Everson Perninha por Miguel Moraes

Perninha nessa época estudava na escola Epitácio Pessoa e começou a ficar famoso no moto taxi pranchetando e anotando nome dos motoqueiros. “Trabalhava na Saraiva e estudava. Ganhava R$ 60 por semana e R$195 por mês na livraria. Aos 14 anos comecei a conhecer o corte de cabelo. Ainda não tinha muita condição financeira e na puberdade já era vaidoso como meu avô. Ele usava pente no bolso para pentear o bigode e achava que era o passaporte dele. Eu? Já tinha o gosto por cabelo. Comecei a cortar meu próprio cabelo e o dos vizinhos. Uma vez levei a navalha para escola para cortar os cabelos dos amigos e a diretora queria me expulsar achando que era arma. Por pouco tive um sonho interrompido. Na época já estava desenvolvendo desenhos com a gilete na mão. Passando esse período, comecei a levar os colegas de escola para servir de cobaias para minha própria casa”, conta Perninha.

Everson Perninha por Miguel Moraes

Everson Perninha por Miguel Moraes

Assim começou a trajetória. Everson estudava de manhã e, depois que montou uma espécie de mini salão com cadeira de bar e espelho de moldura laranja dentro do sótão, a casa enchia de amigos que não pagavam nada pelo corte! De graça e ainda com 14 anos, Perninha começou a levar os amigos e fazer as experiências no próprio cabelo. “Mas foi aí que, quando fiz no meu próprio cabelo uma mudança mais ousada e cheguei com ele pintado de vermelho para trabalhar na Saraiva, fui mandado embora”, explica Perninha, que mais tarde começou a cobrar R$3 pelo corte. “Foi quando eu comecei a raciocinar: se os mais famosos da comunidade são os traficantes e moto taxis, vou começar a chamar para cortar o cabelo de graça. A galera perguntava onde eles cortaram e diziam que tinha cortado comigo”. Segundo Perninha foi uma época boa, onde enquanto ele cortava, a maioria dos traficantes lembravam de seu pai, Osmar DJ, que dançava no baile. “Dos traficantes, eu cortava de graça e fidelizava como meus clientes. Eles faziam meu nome conhecido e na Boca de Fumo, eles perguntavam e me indicavam. Passei dois anos fazendo isso. Ganhava dinheiro dos amigos, fãs e clientes que os traficantes levavam na comunidade. Aumentei o corte para 4 , 5, 6 reais em 2007! Já era tão conhecido na comunidade que melhorei a estrutura do meu salão.

Everson Perninha e sua equipe por Miguel Moraes

Everson Perninha e sua equipe por Miguel Moraes

“Nessa época já tinha colocado parede, já tinha cadeira dieito, bancada, espelho melhorado e aí comecei a trabalhar com Igor no salão, que virou meu sócio. De tão famoso, meu nome começou a sair da região e, em 2009, chegou Phillipe Muralha, jogador na época do Flamengo, volante, e agora está na Coréia do Sul. Foi o primeiro jogador que cortou o cabelo comigo. Falei com ele que tinha um sonho: cortar o cabelo de gente famosa e dos jogadores de futebol. Em 2014, ele me levou lá no Flamengo e cortei o cabelo de muitos jogadores: Everton, Marcio Araujo e o Luis Antonio que agora está na Chapecoense. Aí o Leo Moura não queria cortar, tinha seu próprio moicano, eu insisti e ele aceitou um dia pra fazer o pezinho do cabelo, fiz a barba, cortei mesmo sem ele querer, aí ele adorou meu trabalho, usei o alisante que na época chamava Chora, Negão e que agora se chama Boa Pinta e eles gamaram!”

O tempo passou, e Perninha se estabilizou no Flamengo crescendo cada vez mais o número de jogadores que gostavam de seu corte. Foi aí que surgiu o Caíque, que cortou e gostou muito. Da amizade, Caíque era amigo do Renato Augusto da seleção brasileira, que também cortou. “Eu fiz o corte que eu queria e ele adorou. Quando casou, chamou todos os padrinhos para cortar comigo”, diz. Sua vida não pára, Everson Perninha ganhou o barbeiro Barb design 2017, um prêmio reconhecido há mais de 25 anos em São Paulo com o reconhecimento e mérito que intitularam pela especialidade de fazer um disfarçado chamado “fade”. Assim como desenhos, traços chamados de riscos, letras, acabamentos de flor de lótus, nomes. Agora, ele pretende lançar produtos especializados para barbearias. Em 2015, abriu a Barbearia do Zé no Méier e criou um homecare. “Antes eu pagava um moto taxi para eu ir cortar os cabelos, hoje eu tenho a minha própria moto. Eu abri mão do meu salão na comunidade e deixei para os meninos que trabalhavam comigo na época tocarem e resolvi focar na seleção brasileira, que sempre foi meu sonho”.

E assim, os anos se passaram, e Renato Augusto levou Perninha para cortar o cabelo de toda seleção. “ O Neymar não queria cortar, mas eu insisti e ele cortou e gostou. Hoje meu corte custa R$ 70 reais só pra cortar. Além da minha Barbearia, eu treino equipe, preparo os funcionários”, explica Perninha cujo o sonho é sair do Brasil, levar a família para morar fora e cortar o cabelo dos jogadores internacionais como o Cristiano Ronaldo. Um bom conselho nessas horas para o Saia da Caixa? “Não desista. As barreiras vão chegar o tempo inteiro com dificuldade. Mesmo com a condição financeira apertando. O sonho deve permanecer, não deixe nunca morrer”.

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