Rio ganha a primeira loja brasileira especializada em bonecas negras


Mais de 80% das bonecas oferecidas pela industria nacional são brancas”, declara Jaciana Melquiades, sócia da empresa que promove representatividade por meio dos brinquedos

A marca Era Uma Vez o Mundo, fundada em 2017 pela historiadora Jaciana Melquiades e pelo educador Leandro Melquiades, deixará de ser apenas virtual e ganhará o seu primeiro ambiente físico no espaço Andrada 22, localizado no centro do Rio de Janeiro, no próximo dia 16. O projeto, que nasceu em Belford Roxo, busca suprir a falta de produtos para crianças afrodescendentes e transformar a sociedade por meio da promoção da representatividade.

Tudo começou quando Jaciana foi comprar um brinquedo para o seu filho, de ascendência negra. A dificuldade de achar personagens e modelos que simbolizassem a etnia da criança a incomodou. A historiadora então percebeu que precisava investir em projetos com essa perspectiva. De acordo com ela, grande parte da população afrodescendente vem buscando representatividade. “No entanto são poucas as iniciativas que refletem a questão. Reclamar não iria ajudar em nada. Portanto, comecei a fazer bonecos para o meu próprio filho. Com o tempo, muitas pessoas passaram a pedir encomendas. E, assim, acabei me tornando empresária do segmento de produtos infantis para a população negra”.

Dandara é o principal produto da empresa. Com nome inspirado na companheira do Zumbi dos Palmares, é esperado que a boneca venda 10 mil exemplares nesse ano. (Foto: Divulgação)

A abertura de uma loja física só foi possível graças à parceria do Instituto Ekloos, a maior aceleradora de iniciativas sociais do Brasil, com o Oi Futuro. Atualmente, a estrela do negócio é a boneca Dandara. O nome é inspirado na famosa heroína que foi mulher de Zumbi dos Palmares. A marca oferecerá aos clientes a possibilidade de customização do brinquedo:

“A Dandara é o carro-chefe do negócio, com mais de 15 estampas e modelos diferentes de roupinhas feitas com tecido africano exclusivo. Ela custará 80 resis. A Era Uma Vez o Mundo já homenageou personalidades famosas do Brasil, entre elas o ator Lázaro Ramos e as atrizes Cris Vianna e Ruth de Souza. A atriz, cantora e ativista Zezé Motta manifesta apoio ao projeto: “Por mais atitudes e empreendedorismos assim”, enfatiza a atriz.

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Todos os produtos são feitos de pano e possuem uma costura reforçada e sem cola, permitindo a lavagem sem o risco de danificação. As articulações são feitas com botões, conferindo mais movimento ao brinquedo. Cada personagem vem com uma certidão de nascimento única e especial, para que a identificação com a criança seja ainda maior. Os meninos não ficam de fora da brincadeira. Existe a versão masculina chamada Zambi. Assim como a Dandara, o boneco possui inúmeras opções de roupas que podem ser trocadas.

Embora a iniciativa apresente bons resultados, Jaciana critica o descaso da indústria brasileira com artigos dessa natureza: “Apesar de o quadro ter se modificado nos últimos três anos, apenas 7% das bonecas oferecidas no mercado são negras. Encontrá-las em uma loja física é bastante difícil. Entendemos que o público consumidor tem a necessidade de ver, tocar e avaliar o produto antes de comprá-lo, ainda mais quando se trata de um item tão raro na praça”, sinaliza.

Além dos personagens, a marca possui outros itens voltados para o público infanto-juvenil. Jogos e livros com pessoas e histórias que mantenham relação com a cultura africana são alguns exemplos de peças disponibilizadas pela loja. “Esperamos faturar um milhão de reais no ano de 2019, vendendo mais de 10 mil bonecas no ano, considerando as vendas da loja física e online”, almeja  a empresária, que tem como objetivo principal promover o respeito e a igualdade social.

A maior missão do empreendimento é elevar a autoestima das crianças afrodescendentes. A Era Uma Vez o Mundo busca transformar realidades. “Ao se sentir representada, a criança ganha confiança para assumir a sua personalidade. Com a educação inclusiva é possível gerar reconhecimento e dar a esses jovens a possibilidade de se orgulharem de suas origens”, declara Jaciana.

A valorização da cultura negra e o incentivo à representatividade são os principais valores do negócio (Foto: Divulgação)