Responsável pelas 43 edições da SPFW, Paulo Borges comenta corte de gastos, mudanças no line up e rumos da moda no Brasil: “Nada é estático”


Para esta edição, a maior semana de moda da América Latina sofreu um corte de 20% no valor do investimento. Apesar de algumas mudanças terem sido apontadas pelos frequentadores do evento, o diretor criativo da SPFW garantiu que o essencial não foi afetado. “Tiramos a cereja do bolo”

Já são mais de 20 anos. Há 43 edições, Paulo Borges é o nome responsável por assinar a maior semana de moda da América Latina. Prova e personagem de todas as transformações na fashion week, e que estão ainda mais intensas nas últimas temporadas, o todo poderoso da SPFW contou como é manter um evento tão importante ainda vivo, mesmo com o passar dos anos. “É um processo contínuo. Eu penso a moda e a São Paulo Fashion Week o tempo todo, não paro. Quando termina uma edição, eu fico entre quatro e cinco dias descansando e depois já estou fazendo a próxima. Então, é um trabalho que não tem fim”, disse.

Para esta edição não foi diferente. Depois de decidir adequar o calendário da semana de moda ao conceito “see now, buy now”, Paulo Borges antecipou as datas do evento. Ao invés de ser a oportunidade para as grifes apresentarem suas apostas para as futuras coleções, hoje, a SPFW é uma enorme vitrine do que chega às lojas imediatamente. “Na edição passada, a gente incorporou este conceito imediatista e, agora, introduzimos de vez. Aos poucos, as pessoas vão se adaptando. Toda mudança gera um pouco de medo e desconforto. Mas, o mais importante, é experimentar e fazer acontecer. Daqui a pouco, se precisar, a gente muda de novo”, explicou.

Responsável pelo evento, Paulo Borges acumula mais de 20 anos de SPFW (Foto: AgNews)

No entanto, nem todas as grifes tradicionais da fashion week se adaptaram à nova proposta. Nesta edição, por exemplo, que apresenta as criações dos estilistas para o Inverno 2017, nomes conhecidos e respeitados como Glória Coelho, Reinaldo Lourenço, Ronaldo Fraga e Valdemar Iódice não integraram o line-up do evento. Mas, para Paulo Borges, as ausências, que deram espaço para marcas estreantes ou que estavam afastadas das passarelas paulistanas, é natural e faz parte de um processo cíclico e orgânico. “É uma característica nesses 22 anos que, entre uma estação e outra, algumas marcas pulem uma edição. Exemplo disso é que o próprio Reinaldo (Lourenço) e a Iódice já pararam algumas vezes e depois voltaram. É assim mesmo: pula, volta, se reorganiza. A vida é desse jeito”, argumentou.

Além de um line-up readequado aos atuais conceitos do cenário de moda, esta edição da SPFW também traz uma nova experiência. Como consequência do corte de 20% do investimento para a realização do evento, alguns detalhes foram eliminados da maior e mais importante semana de moda da América Latina. Na sede do evento, na Bienal, por exemplo, a decoração imponente e luxuosa dá espaço para o conceito do minimalismo pelos corredores. No entanto, apesar dessa redução no orçamento da SPFW, Paulo Borges garantiu que o essencial não foi afetado. “A gente precisa ter um entendimento muito claro das prioridades. Então, quando a gente entra na sala de desfiles, ela tem a mesma estrutura impecável do passado. Ou seja, eu vejo que esses 20% que reduzimos de investimento foi como se tirássemos a cereja do bolo. Porque, tudo o que é fundamental para o sucesso dessa massa, está aqui presente”, destacou.

Paulo Borges e moda são dois elementos que andam sempre colados. Por conta disso, nada mais justo do que um dos principais nomes do cenário nacional para comentar os rumos do universo fashion. Em relação ao que acha para o futuro da moda, o executivo se definiu como otimista. “Eu acredito que o mundo está passando por uma de suas fases ruins, de uma maneira geral. A política, as relações sociais e a própria moda estão em uma situação mais instável. Fora que, para mim, o mundo encaretou e ficou meio esquisito. E isso reflete para a gente também. Eu reconheço que a moda está em um processo de transformação imensa, mas eu acho que vai mudar. Para mim, tudo é orgânico e vivo. Nada é estático”, argumentou Paulo que acredita em novos tempos – e breves. “Essa fase ruim que já dura uns dois ou três anos está no fim. Para o segundo semestre, eu acredito que será tudo melhor e mais diferente”, acrescentou.