Prestes a viver uma senhora de escravos nas telas, Maitê Proença declara: “A escravidão da mulher ainda existe. Isso acontece até aqui, do lado de casa”


A atriz ressaltou a importância de mostrar, nas telas, o momento em que a corte chega ao Brasil com conhecimento e cultura e disse: “Essas novidades trazidas pela corte seriam muito bem-vindas hoje se incentivássemos educação e cultura. O povo só se dignifica assim, porque é a maneira de ter opinião, poder bancar e colocar pra fora o que pensam e não aceitar qualquer coisa”

Maitê Proença está prestes a viver mais um grande papel. Ela será Dionísia em “Liberdade, liberdade”, uma mulher contraditória que, ao mesmo tempo que prega o quão conservadora e católica é, usa seus escravos para satisfazer seus desejos. “Ela trata os escravos como peças, não como pessoas. Esse é um dos embates com a sobrinha (Joaquina, vivida por Andreia Horta), que considera que eles são pessoas. Dionísia enxerga eles como coisas que ela comprou e com as quais ela faz o que bem entende. De fato as pessoas pensavam isso na época”. Aliás, falando em época, Maitê ressaltou sua felicidade ao contar a história do momento de virada em que a corte portuguesa chega ao Brasil com novidades culturais. “É um momento em que a corte estava chegando com conhecimento, um mundo mais desenvolvido por um lado e por outro com a subversão das regras que já estavam aqui e não foram escolhidas por esse povo”, disse.

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Maitê Proença na pele de Dionísia (Foto: Reprodução/Gshow)

Alias, Maitê vai além: “Essas novidades trazidas pela corte seriam muito bem-vindas hoje se incentivássemos educação e cultura. O povo só se dignifica assim, porque é a maneira de ter opinião, poder bancar e colocar pra fora o que pensam e não aceitar qualquer coisa. No Brasil acontece de dizerem: ‘ah, eu não sei nada mesmo, então vou aceitar o que quem tem dinheiro pensa, porque elas devem saber mais do que eu, inclusive vou aceitar o dinheiro delas’. O cara é tão humilde, massacrado, sabe tão pouco que tem pouco valor para si e aceita que todos tenham mais valor do que ele. Isso não é um bom lugar para se estar”, lamentou ela que, para viver uma senhora de escravos, teve que se desprender de toda moralidade. “Eu não posso pensar em mim, tenho que pensar como a Dionísia, se não, não faço direito. Não posso dar a importância que damos hoje para as questões”, explicou.

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A atriz teve que se desprender de qualquer pensamento moralista (Foto: Reprodução)

Sua Dionísia, aliás, representa a mulher em posição de comando em uma época predominantemente machista. “Nós não escutamos falar da mulher satisfazer seus desejos sexuais com escravos, porque o Brasil é um país que não tem memória escrita, não foi registrado, mas provavelmente aconteceu muito disso também”, defendeu ela, que admitiu: “As pessoas gostam de ver mulheres em posições de comando, como será Dionísia, porque na sociedade vemos o oposto. O corriqueiro ninguém está interessado em saber porque já tem em casa”, analisou ela, que acredita que a escravidão não se extinguiu totalmente. “Existe, ainda, hoje. É a escravidão da mulher. Nos países árabes e asiáticos as mulheres são submetidas a terem filhos que não desejam e de quem elas não podem cuidar porque não tem dinheiro próprio, não tem direito a herança, educação, trabalho. São escravas, em grande parte do mundo. Isso acontece até aqui, do lado de casa. As mulheres são obrigadas a ficarem com homens que espancam elas porque se não elas não tem o que comer”, lamentou.