Pool Me In reinventa o badalo carioca e traz nova onda de nudismo ao balneário-maravilha!


Na última edição o evento, HT pergunta ao público sobre o coxismo xiita que julga fervorosamente a liberdade corporal alheia. Confira!

*Por João Ker

Com a alta dos preços e a escassez de opções em alguns segmentos, já faz um tempinho que os cariocas sofrem com certa falta de variedade nos badalos. As poucas alternativas que a cidade oferece abertas ao público podem, de fato, ser incluídas em duas categorias: boas, mas com preços absurdos, dignos de atender somente aos endinheirados de Monte Carlo; ou baratinhas, mas desgastadas, repetindo fórmulas esgotadas. Não é difícil encontrar por aí esses buracos quentes, sempre tocando o déjá vu top 10 das rádios em ambiente com um ar condicionado jurássico e área de fumantes abarrotada. Diante disso – e dentre a moda das pool parties que se desenhou nos últimos tempos (e que, aliás, também se repetem), a produtora Suzana Trajano, tem estabelecido um novo padrão de divertimento, bem distante dos agitos “lugar comum”, próximo (pelo menos conceitualmente) daquele tipo de frenesi que se configurou no grand monde há quase um século, nos idos de 1920, não por acaso chamados de anos loucos. É a Pool Me In, especie de confraternização dançante com banho de piscina na casa de alguém.

Primeiro, é preciso estabelecer o que uma festa precisa ter para ser boa. Seus participantes são fundamentais: mais do que pessoas iguais a você, é preciso que haja um grupo heterogêneo de indivíduos interessantes, que acrescentem algo e estejam dispostos a se divertir, a qualquer preço, nem que isso signifique tirar a roupa e mergulhar de cabeça. Sem aquela preocupação de em fazer carão o tempo todo, ou pior: sem interesse em apenas uma mera ficada. O ambiente precisar ser criativo e prático, sem muitas filas na hora de comprar bebida, sem o público precisar se esmagar para ir tirar água do joelho. O preço também conta muito, é claro, não só o da entrada como o das bebidas. E, óbvio, boa música é essencial.

Dentre essa moda de pool parties que se espalham pelo Rio, poucas conseguem unir todos os fatores citados acima. A mais interessante de todas, sem dúvida, é a Pool Me In, espécie de agito no estilo “Grande Gatsby”, com borbulhas espirituais, mas sem a montação que seria des e esperar no pós-Primeira Guerra. A festa que, desde o mês passado domina o antigo casarão da Condessa de Barral – que Dom Pedro II frequentava para algo bem mais intenso do que uma simples prosa – consegue unir um público bacana que mistura heterossexuais, gays, lésbicas, bis, alternativos, playboys, gringos e outras categorias que Atristóteles jamais ousaria catalogar na sua classificação geral de seres vivos.O perímetro da mansão é perfeito: a piscina serve para refrescar a galera do calor nababesco e o jardim superior acolhe quem não quer se molhar, mas ainda assim não abre mão do sacolejo. Por sinal, a música dos dois ambientes é eclética: em cima, eletrônica e pop; embaixo, swing, jazz e outros ritmos antigos oferecidos pela galera de Manie Gang, com uma pegada vintage que cabe na tal pegada Gatsby de ser, enchendo a piscina. E, dado fundamental:: o preço das bebidas não abusa das carteiras. Se é um pouco acima da média, também está abaixo do que se espera de uma atração com esse padrão.

Suzana Trajano, organizadora do evento, define a Pool Me In como “um mini-festival de festas” e pretende levar o modelo para outras cidades: “Eu tinha esse projeto de fazer uma pool party há muito tempo. Então eu me juntei com o J.R. da Zíper Conveniências, conseguimos o patrocínio e pedimos a ajuda do I Hate Flash para fazer a curadoria de festas. O objetivo era juntar baladas diferentes para podermos unir todo mundo, até porque as outra pool parties que existiam até então eram ligadas a labels”, disse Suzana, fazendo referência a festas produzidas pela galera da Auslander, por exemplo, que são apenas para convidados.

E, com essa febre de festas à beira da piscina, surge uma nova tendência que rapidamente chama a atenção do conservadorismo de fachada dos mídias sociais: o nudismo badalativo. Funciona assim: as pessoas se animam, bebem, a coisa esquenta e, daqui a pouco, muitos começaram a se despir no meio da festa, sem pudor algum, pulando na água como vieram ao mundo. Ideia ótima, já que o país que sempre exibiu mulheres seminuas durante o Carnaval (e fora dele) anda querendo tratar o corpo como tabu, fazendo patrulha ideológica de topless em praia. Para Suzana, “o Rio anda muito careta, e nada como olhar para trás, para a maluquice dos anos vinte, para recuperar um pouco o eixo da modernidade.” Faz sentido. Não era nessa época em que as pessoas cheiravam rapé nos rega-bofes? “Na verdade, não é só o Rio. O Brasil está careta e o mundo inteiro também. Você pode reparar que os gringos não se importam, para eles é normal porque estão acostumados culturalmente com isso. A nossa festa foi uma das primeiras onde isso aconteceu, até porque aqui ninguém é noiado com o corpo. Você via todo o tipo de gente e todos bem à vontade”, completa a produtora.

Essa liberdade corporal autoexpressiva marcou presença durante a Pool Me In – The Final Pool, última edição da festa nesta temporada. Seja pela empolgação com o fim do calor, as grandes quantidades ingeridas de álcool, a abundância de pessoas bonitas e a diversão com contagiante sublinhada por Manie Gang, fato é que um certo clima de excessos tomou conta do ambiente, com um ar de luxúria tomando do badalo, principalmente na piscina, onde cabeças mergulhavam e, misteriosamente, só apareciam minutos mais tarde. Será que uma nova espécie de cariocas-sereios, capazes de respirar no fundo d’água está surgindo? Ainda assim, isso não incomodava a pequena parcela que estava presente, mas não quis ir tão a fundo no espírito flapper dos anos 1920. Nem todos os frequentadores, aliás, se transportaram para o clima de loucura moderna que fazia eco às festas espalhafatosas da Era do Jazz, embora esse, claro, seja o charme da festa. Muito pelo contrário, a maioria daqueles que observavam essas cenas libertinas apenas ria e continuava na dança, sem esquentar a cabeça com algo que não lhes dizia respeito.

Esse tipo de ambiente, onde a mente aberta prevalece sobre pré-julgadores de carteirinha, é raro. Hoje em dia, o normal mesmo é ser coxinha, politicamente correto (no mau sentido) para não ofender ninguém, e ai de quem fuja a essas regras: logo vem uma horda de moralistas pronta para soltar sua metralhadora social, antes mesmo que haja tempo para vestir a roupa. Preocupado com a expansão desse coxismo urbano, mas muito empenhado em colaborar para tornar o mundo mais divertido, HT ensaiou uns passinhos de charleston e rodou a Final Pool em prol de descobrir tudo sobre esse execrável comportamento. A pergunta foi uma só: “Por que os coxinhas  têm atacado com tanto fervor e do que eles deveriam se desviar?” As respostas, como seria de se esperar, foram dignas de apimentar alcovas. Confira!

Para a jornalista Raisa Carlos de Andrade, habituê das festas alternativas cariocas, os “coxinhas” são um grupo que não abre mão do convencional e preferem ficar na infelicidade, ao invés do meio-termo aristotélico: “A liberdade do outro assusta e incomoda, em qualquer formato que ela for exercida. Eles têm muita dificuldade para vencer a barreira da imagem em nome do contato, da troca”, filosofa.

Raisa tem 25 anos é de Guarapari (ES), mas mora no Rio. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Raisa tem 25 anos é de Guarapari (ES), mas mora no Rio e curte grafismos. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

O produtor musical Lôu Caldeira tem uma epifania poética na hora de mostrar sua indignação. Segue o texto: “Diferente entre os iguais, igual entre os diferente, gay nega os protocolos adversos, conquista o próprio espaço”.

Lôu, que não revelou sua idade, explicou melhor e quis dizer que, na verdade, é muito difícil (mas não impossível) conseguir construir uma própria carreira e um nome, vindo de baixo e mantendo a própria individualidade, principalmente com o criticismo alheio

Lôu, que não revela sua idade nem sob risco de ebó, explica melhor e diz que, na verdade, é muito difícil (mas não impossível) conseguir construir uma própria carreira e um nome, vindo de baixo e mantendo a própria individualidade, principalmente com o criticismo alheio. Hum… Tá bom, meu amor, vai para a piscina e sossega! (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

A produtora de música Carla Ollie prefere mandar um recado: “Para o povo que julga, diz ‘galera pelada quer é se exibir muito’ e fica controlando a roupas que os outros vestem: @#*@3##*&!” Deve ser ariana…

Carla tem 29 anos, mora em Niterói e só tem a cara de mansa.

Carla tem 29 anos, mora em Niterói e só tem a cara de mansa. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Douglas Coelho, de São Paulo, observa que nem dentro da festa o coxismo dá descanso: “Julgamento lá fora? Aqui dentro tem uma menina que tirou a camisa, de boa, e outro grupo de meninas ficou julgando do outro lado”.

Douglas é bike messenger, tem 27 anos e um caráter observador muito apurado.

Douglas é bike messenger, tem 27 anos e um caráter observador muito apurado (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Provando que não é só o pessoal da indústria criativa que pensa assim, a comerciante de petróleo Thaís Avellar diz, indignada: “Na hora de usar minissaia que mostra a bunda, pode. Agora pular na piscina sem roupa é errado? Desde quando?”

Thaís tem 28 anos, mora no Rio e acha que se a mulher tem direito de usar roupa curta, também tem controle sobre a imagem do próprio corpo. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Thaís tem 28 anos, mora no Rio e acha que, se a mulher tem direito de usar roupa curta, também deve ter controle sobre a imagem do próprio corpo. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Eduardo Castelo tem 27 anos e acha que isso tudo é medo do diferente: “Os coxinhas são muito normativos, querem que todos sejam iguais. Tudo que cresce, eles atacam. A nossa parada é quebrar isso”.

Eduardo é designer, DJ e tem uma paixão por glitter.

Eduardo (esq.) é designer, DJ e tem uma paixão por glitter. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Emma Wedmore, de 19 anos, foi uma das meninas que fez topless na piscina e acha que o problema do coxismo vai muito além: “O nudismo é um tabu grande, mas eu acho que está melhorando. O problema é a homofobia que ainda persiste. E o machismo de taxar a mulher de vagabunda, quando o homem pode fazer as mesmas coisas, sem ser julgado”.

Emma é estudante de psicologia e vestiu a camisa do fotógrafo na hora de posar. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Emma é estudante de psicologia e vestiu a camisa do fotógrafo na hora de posar. (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Reiteirando a divergência de opiniões e pluralidade da festa, o stylist Felipe Veloso, em modelito demi Yayoi Kusama, demi Lana del Rey, decreta: “As pessoas têm a liberdade de julgar o que elas quiserem”.

Felipe tem 44 anos e mora no Rio de Janeiro (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)

Felipe tem 44 anos, combina  saia com blusa muito melhor que a maioria das pessoas e mora no Rio de Janeiro (Foto: Francisco Costa / I Hate Flash)