Site “Lugar de Mulher” vira livro e Clara Averbuck diz: “Feminismo não é dragão de 12 cabeças que transforma a mulher em algo que ela não quer ser”


A publicação reúne os principais posts escritos por Clara, Ana Paula Barbi e Mari Messias, o trio por trás do site feminista que mais faz barulho na internet

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A capa do livro das meninas do Lugar de Mulher (Foto: Divulgação)

Lugar de mulher é onde ela quiser. Além de ser uma frase que a gente precisa repetir o tempo inteiro como um mantra até que todos  – todos mesmo! – entendam esta equação é, também, o título do livro que a escritora Clara Averbuck, a blogueira Ana Paula Barbi e a pesquisadora Mari Messias estão lançando nesta terça-feira (28/04).

A data não foi escolhida aleatoriamente. Trata-se do dia em que o site “Lugar de Mulher” – um dos nossos favoritos nessa internet sem fim – completa um ano. “Percebemos o que muitos sites femininos ainda não perceberam: mulher não se interessa só por roupa, cabelo, maquiagem, filhos e enlouquecer seu homem em 16 passos. A partir daí, resolvemos, então, lançar o site “Lugar de Mulher”, e transformá-lo em um espaço para discussão de feminismo, cultura pop, corpo, sexo, política, auto-estima, consumo e outros assuntos relacionados à mulher. Não tem dicas de como secar a barriga, nem de como se vestir pra agradar homem ou de como decorar sua casa com itens caríssimos ou como ser poderosa em 12 lições”, explicam as meninas.

A ideia do livro é ser uma coletânea dos posts que elas mais se orgulham, mais gostam e que mais atingiram de forma precisa as leitoras que, além de se enxergarem representadas, encontram uma plataforma para debater as questões sem nenhuma distinção ou pudor. “O Lugar de Mulher é um site democrático, que busca abranger realidades de mulheres de todos tamanhos, raças e classes sociais e já conta com quase 9 milhões de acessos”, explica Clara.

O livro está disponível na Loja Kindle e pode ser lido em qualquer dispositivo que tenha o aplicativo instalado. Se interessou? É só clicar aqui. Mas, antes, segura a ansiedade e vem ler o nosso papo com Clara, no qual ela fala sobre feminismo online, haters e publicidade em tempos de cólera. Vem!

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Clara Averbuck fala sobre o feminismo em 2015, o site e o livro (Foto: Reprodução)

HT: Depois de um ano do site, o que mais aprendeu em relação a esse universo retratado na web e, agora, no livro?

CA: O site surgiu porque estávamos insatisfeitas com as publicações direcionadas à mulher e sabíamos que muitas delas ainda eram – e são – confusas sobre o que significa ser feminista. O que queremos, tanto no site como no livro, é esclarecer de forma bastante simples que feminismo não é um dragão de 12 cabeças que vai transformar as mulheres em algo que elas não querem ser; muito pelo contrário. O feminismo foi transformador em nossas vidas e está sendo na das nossas leitoras também, que vão aprendendo a identificar onde ficam os machismos cotidianos, uns pequenos, outros enormes, mas tão entranhados na nossa sociedade que tratamos como se fosse apenas normal. Após um ano, vemos um grande avanço, tanto por nossos esforços como quanto de alguns outros sites, como o Think Olga, mas ainda percebemos que há muita desinformação e má vontade para tratar do tema. Mas recebemos centenas de emails de leitoras e ver que estamos mudando a vida de outras mulheres é algo que nos toca profundamente.

HT: Como é ter que defender os direitos das mulheres em 2015? Avançamos? Estamos estacionados? Ou a sociedade está regredindo em relação aos valores?

CA: É um trabalho de sísifo. Todos os dias temos que repetir as mesmas coisas, responder o mesmo tipo de argumentação baseada apenas em desinformação. Precisamos de diálogo, de políticas públicas, garantia de direitos reprodutivos, de engajamento de todos os setores. Avançamos bastante, claro, mas ainda não estamos nem perto de ter uma sociedade igualitária.

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Clara, Ana Paula Barbi e Mari Messias: o trio por trás do “Lugar de Mulher”

HT: A internet, muitas vezes, é um palco para os covardes atacarem de forma anônima. Como lidar com os haters? 

CA: Nós nem temos muitos haters, curiosamente. Mas essas pessoas que destilam ódio jamais nos intimidaram e jamais nos intimidarão. O recurso de bloquear é algo maravilhoso, né?

HT: Vocês não têm anunciantes por opção ou por que as marcas não querem comprar a briga? 

CA: Nossa ideia inicial era também ser uma consultoria para as marcas, que, claramente, não estão sabendo falar com as mulheres, mas percebemos que muitas delas ainda têm receio de se associar conosco. Estamos super abertas a negociar, mas claro, sem ferir nossos ideais. Jamais faríamos propaganda de shake de dieta, por exemplo, mas estamos sempre procurando parcerias que tenham a ver conosco.

HT: Como foi a seleção dos textos do livro? Quais os critérios para que algo entrasse ou não?

CA: Escolhemos os textos que consideramos, de alguma forma, essenciais nesse um ano, e nossos favoritos pessoais, claro.