“O meu irmão caiu de um helicóptero e está vivo, é um sobrevivente. Foi uma inspiração”, afirmou Selton Mello sobre a construção de seu personagem na nova minissérie da Globo


O ator faz parte do elenco de Treze Dias Longe do Sol, uma trama que relembra casos de desabamento por falha na construção que já aconteceram no país. Além da minissérie, ele dublou a animação Lino e atuou na nova série brasileira da Netflix, de José Padilha, O Mecanismo

A personagem de Carolina Dieckmann já possuia uma história mal resolvida com o papel de Selton Mello (Foto: AGNEWS)

“O nosso país maquia as coisas. Vivemos a felicidade do Rock in Rio e, ao mesmo tempo, a tristeza do confronto na Rocinha, onde moram muitos trabalhadores. O estado colocou o exército para as pessoas irem aos shows e quando acabou o festival, abandonaram tudo de novo. Mas não é só isso que está errado. O Brasil deveria começar do zero”, afirmou Selton Mello. O ator faz parte do elenco da nova minissérie da Globo, Treze Dias Longe do Sol, que estreia em janeiro de 2018 na TV aberta. A trama relembra casos de desabamento de prédios e construções que já aconteceram no Brasil, como o Palace 2, no Rio de Janeiro. Na história, ele interpreta um engenheiro que escolhe mão de obra e materiais baratos para lucrar com a empreitada. No entanto, algumas infiltrações e falhas na construção ocasionam a queda do edifício e alguns personagens ficam presos por dias na garagem do local onde precisam aprender a conviver e a sobreviver. Entre as pessoas que ficam soterradas, está o próprio Saulo e o amor de sua vida, interpretada por Carolina Dieckmann. Enquanto isso, as pessoas que participaram da corrupção querem tentar se livrar da responsabilidade da obra. “O meu personagem é visto como herói, mas pode ser que ao longo da temporada se invertam os papéis”, afirmou o ator. Além do trabalho com a Globo, Selton dublou a animação brasileira Lino – Uma Aventura de Sete Vidas e atuou nova série brasileira da Netflix, de José Padilha.

Site Heloisa Tolipan: A Carolina Dieckmann é o seu par romântico em Treze Dias Longe do Sol. Vocês não trabalhavam juntos desde Tropicaliente, em 1994. Como é a sensação de reencontrá-la vinte e três anos depois?

Selton Mello: Estamos envelhecendo bem. Trabalhei com ela ainda muito menina, com 18 anos no máximo. Sempre foi uma pessoa muito alegre que gosta da vida, de festa e de dançar. Este reencontro me mostrou que está igual, nesse sentido. Como atriz é uma mulher muito intuitiva, tudo que se dispõe a fazer na frente da câmera fica ótimo.

HT: Nas cenas, o elenco que foi soterrado passa treze dias confinados em um espaço pequeno e com pouca ventilação. Você ou alguém do elenco sentiu a claustrofobia deles durante as gravações?

Selton Mello se inspirou no irmão para fazer o personagem (Foto: AGNEWS)

SM: Toda a parte que gravamos mostrando a galera soterrada foi dentro do estúdio da O2, então foi em um espaço muito tranquilo. Mesmo eu sendo um pouco claustrofóbico, acho que foi um ambiente de gravação muito bom.

HT: Em Treze Dias Longe do Sol, os personagens sofrem com aquele desastre de todas as formas possíveis. Quando saírem daquela situação serão vistos como sobrevivente pelas pessoas. Houve alguma inspiração pessoal no desenvolvimento deste personagem? Você já enfrentou algo parecido?

SM: Felizmente, nunca enfrentei algo tão pesado como este personagem vive nesta série, mas o Dalton Mello viveu. O meu irmão caiu de um helicóptero e está vivo, é um sobrevivente. Muitas vezes neste trabalho pensei nele, foi uma inspiração. Durante um tempo, achamos que tivesse morrido. Foi encontrado no meio da floresta e precisou ser operado.

HT: Todos os personagens passam por uma transformação pessoal ao longo dos episódios. Apesar da minissérie não focar no tema do desabamento, o elenco precisou lidar com um drama que mexe com o psicológico e, ao mesmo tempo, com o físico devido aos ferimentos causados pelo ocorrido. Foi desafiante para você preparar um personagem que possuísse esta carga de energia?

SM: Isto foi algo que nunca havia feito antes. Foi um grande desafio ter que lidar com cenas tão físicas e profundas, ao mesmo tempo. O trabalho exigiu muito de todos os atores, estávamos sempre sujos e machucados. Foi intenso e muito bom.

HT: Houve algum cuidado extra para as filmagens devido a esta necessidade de doação física e mental?

SM: Cuido muito da minha alimentação e faço ginástica na minha rotina. Para lidar com a exigência física da série, apenas intensifiquei estas atitudes. Foi fundamental.

Selton Mello faz parte da série de José Padilha em parceria com a Netflix (Foto: AGNEWS)

HT: Rumores afirmam que a escritora Manuela Dias quer trabalhar com você na sua estreia no horário nobre da Globo, na próxima novela das 9. Você atuou no penúltimo projeto dela na emissora na série Ligações Perigosas, mas faz um tempo que não se dedica a produtos grandes como um folhetim. Se houver o convite, aceitaria?

SM: Talvez exista uma possibilidade de fazer novela de novo. Adoro a Manuela e Ligações Perigosas é um papel que me orgulho muito, foi um dos trabalhos mais lindos que tive a oportunidade de fazer. Mas o grande problema este tipo de produto é o tempo, por ser difícil de encaixar na agenda, já que estou sempre envolvido em muitas coisas. Tenho optado por fazer séries há alguns anos, por preferir fazer coisas mais curtas. As chamadas super séries da Globo com cerca de oitenta capítulos, para mim, é o tamanho ideal.

HT: Você afirmou que assiste mais séries do que novelas no seu dia a dia. Gosta, inclusive, de fazer maratona de Stranger Things e House of Cards, por exemplo. Apesar de cultivar este gosto, acha que ainda há espaço para a novela no mercado brasileiro?

SM: Acho que a novela sempre irá existir, ainda vemos grandes sucessos no meio como A Força do Querer, de Gloria Perez. Foi um produto com alto poder de captação e isto mostra que sempre haverá espaço para o formato, porque o público brasileiro gosta muito. No entanto acho que vamos começar a gravar cada vez mais séries, um caminho natural que o mundo está seguindo.

HT: Você está investido na carreira de diretor. A repercussão de seu último longa-metragem, O Filme da Minha Vida, foi muito positiva. Já existe algum próximo projeto?

SM: Com certeza ainda vou fazer alguma coisa, mas ainda não consigo pensar nisso. Foi um projeto muito recente que ainda está seguindo a sua carreira, entrando para o NOW e iTunes. Acho que só vou partir para outro quando acabar este ciclo.

HT: Você decidiu apostar no cinema nacional e já se tornou um nome de referência. Qual seria a sua visão sobre este formato que você está investindo agora?

SM: É um meio bem rico e representado em muitas frentes. Isto deve ser ampliado cada vez mais, porque é importante termos mais vozes contando histórias de lugares diferentes. O nosso país é muito rico, cheio de histórias e culturas. São Paulo é diferente do Rio que é diferente de Salvador. Acho que estamos caminhando para um futuro onde cada um poderá expor a sua cultura através do cinema, mesmo que seja lenta.

HT: Tem alguma história em particular que você sonhe em adaptar para o meio audiovisual?

SM: Tenho um conto específico que estou conversando com a Globo. Quero fazer um trabalho inspirado no conto do Machado de Assis, O Alienista. É um texto que amo e acho importante falarmos sobre ele já que o autor é um clássico. Desenvolvi no formato de minissérie e estou esperando um sinal verde para começar a fazer.

 

HT: Qual o próximo passo na sua carreira?

SM: Quero focar na divulgação desta série e aproveitar um pouco do gostinho dela. Nós trabalhamos muito para trazer um produto bacana e é legal ver este projeto indo para o mundo. Ano que vem, faço parte do elenco da série O Mecanismo, dirigida por José Padilha e escrita por Elena Soarez, que será exibida na Netflix.

HT: Você conseguiu êxito em todas as funções que decidiu desempenhar até hoje como dublador, diretor e ator. O Selton Mello mais novo imaginou algum dia ganhar este respeito?

SM: Não dava para imaginar este futuro. Sempre sonhei em trabalhar com a atuação e acho que faço projetos que me inspiram, me fazem crescer e me movem. Fui ampliando o meu leque criativo e comecei a dirigir, também, o que só ajudou a me alimentar mais como artista. Estou feliz com o que venho aprontando.