Ator de Pega Pega, Rodrigo Fagundes mostra como fugiu da figura caricata de seu personagem e como lidar com a influência do politicamente correto sobre o humor


Na trama, o ator interpreta o mordomo do hotel Carioca Palace contracenando com Marcos Caruso e grande elenco

Rodrigo Fagundes é um mordomo em Pega Pega (Foto: Faya)

Seja no teatro, no cinema ou nas novelas, a figura do mordomo é sempre muito utilizada. Geralmente, é um personagem de postura refinada, engraçado e que está naquele núcleo familiar buscando ascender daquela camada social trabalhadora a qual se encontra. Foi exatamente este caminho caricato que Rodrigo Fagundes tentou desviar de seu papel em Pega Pega. Na novela das 7, o ator faz o Nelito, o fiel mordomo do hotel Carioca Palace. Durante a composição do personagem, ele tratou de se inspirar na série Downton Abbey para trazer a formalidade na postura e no personagem do Pedro Paulo Rangel em Vale Tudo. “Geralmente se espera que um ator vá para o caminho mais fácil que é o da comédia. Óbvio que fazer comédia é difícil, mas acaba sendo o lugar comum e tradicional ao falarmos deste personagem. Ele é um cara muito realizado com a sua vida, não está ali por querer algo a mais, porque já atingiu o lugar que pretendia. Possui uma fidelidade e amor paterno com relação ao dono do hotel. O Pedrinho, personagem de Marcos Caruso, é como um pai para ele. Mais que um mordomo é um amigo de todos que vivem ali. Dessa forma, busquei ao máximo, através desta característica altruísta, humanizar”, contou Rodrigo. O ator contou, inclusive, que está sendo maravilhoso contracenar com Marcos Caruso e Vanessa Giácomo, pessoas que ele pretende manter em seu núcleo de amizades mesmo depois do final da novela.

Um exemplo deste carinho pelo patrão é que, logo após o roubo do hotel que rolou na trama, Nelito ofereceu a sua própria casa para o seu antigo chefe ficar. Naquele momento, todos os amigos milionários do personagem haviam virado as costas para ele. Exatamente por ser um papel carismático e bondoso, Rodrigo teve medo que isto influenciasse a visão do público no sentido de acharem o Nelito bobo e ingênuo demais. “Agora que a novela já está mais encaminhada é possível ver que ser humano incrível ele é. É bom ter personagens assim como o meu que mostram que ainda existem pessoas boas no mundo”, afirmou o ator.

O ator é comediante tendo participado do zorra total (Foto: Faya)

Mesmo sendo uma figura que faz parte da aristocracia de um hotel de luxo, o personagem continua sendo da plebe. Por esse motivo, proporciona ao ator contracenar com diferentes núcleos e, ainda, lidar com assuntos sérios. “Além de fazer o lado cômico, esta novela me deu a possibilidade de fazer um personagem dramático que estou amando fazer. Ele consegue caminhar por estes dois espaços. Consigo me inspirar muito com o Nelito”, comemorou.

Pega Pega ficou conhecida por misturar diferentes gêneros de narrativa como drama, romance e comédia, com ainda uma pitada de enredo policial. Para Rodrigo Fagundes, esta trama cheia de nuances é o que caracteriza a verdadeira novela. “Quando posto uma foto no instagram coloco a hashtag ‘novela de raiz’, porque sou muito noveleiro e esta produção possui todas as características que me cativam em um enredo. É uma história envolvente que gera uma associação direta com a vida de cada pessoa. Além disso, as tramas são costuradas para dentro, ou seja, vão se entrelaçando e terão relação com outros personagens. Os fatos não são isolados e todos possuem um segredo”, caracterizou o ator. Segundo ele, mesmo que não fosse parte do elenco, continuaria a ver Pega Pega do mesmo jeito.

Pega Pega foi a segunda novela em que o ator faz parte do elenco durante toda a exibição. Antes de Babilônia, de Gilberto Braga, ele ficou por quase dez anos na grade da TV Globo, de 2005 a 2014, como integrante do Zorra Total. Rodrigo saiu dos quadros do programa humorístico devido a mudança no formato que aconteceu em 2014. “O Zorra novo está excelente com temas mais críticos e atuais. Acredito que os dois programas possuem o seu valor, o antigo também era amado pelo público. Mas o novo é mais ligado na política e parece que este viés está dando certo”, comentou o ator sobre a repaginada no programa. Para ele, foi importante ter sido escalado para Babilônia logo após a mudança, pois sempre teve vontade de participar de uma novela. “Apesar de ter sido muito criticada na época, foi importante para mim ver como funcionava este tipo de narrativa”, contou.

Nos quadros do Zorra Total, mesmo fazendo muitos papéis, Rodrigo Fagundes caiu no gosto do público ao interpretar o Patrick. Foram mais de três anos alternando do personagem para outros secundários. “O Patrick veio da peça Surto que criei junto com os meus companheiros. O personagem foi pronto para a televisão. Até hoje tenho resquícios deste papel na minha carreira que é a ideia do raciocínio rápido, muito usado pela comédia. A ideia é que a piada e a resposta estejam na ponta da língua. O que aprendi, tanto no teatro quanto na televisão, estou levando para a vida”, contou.

Rodrigo Fagundes trabalhou durante 3 anos como personagem Patrick, resultado da peça Surto (Foto: Faya)

O espetáculo Surto foi o responsável pelo destaque do ator em sua carreira o que o fez chegar à televisão. Foram quase onze anos em cartaz alternando entre temporadas e turnês. “Não penso em voltar com esta peça, porque foram anos muito bem vividos. Consegui comprar o meu apartamento, com 37 anos, graças ao Surto. Um dinheiro que veio do teatro e me orgulho muito disso. Além disso, era uma satisfação fazer uma peça com amigos. Acho que paramos na hora certa, é como se saíssemos no meio da festa”, explicou o ator. Além disso, ele teve a oportunidade de interpretar seu personagem da peça por mais três anos pela televisão.

Assim que acabar Pega Pega, o ator já tem planos para o teatro. Dessa vez, ele irá estrear o espetáculo O Incrível Segredo Da Mulher Macaco com o companheiro Wendell Bendelack, que também participou da peça Surto. A comédia é em homenagem aos livros de Hitchcock e de Agatha Christie. “Encomendamos este texto com o escritor paraense Saulo Sisnando. A gente adora esse universo de Hitchcock e comédia, com uma mistura de melodrama de novela. Acredito que seja uma trama muito envolvente. Somos dois atores fazendo sete personagens, eu irei fazer quatro”, contou. Ainda sem data de lançamento, a ideia é fazer uma temporada em São Paulo e uma turnê pelo Brasil no primeiro semestre de 2018, no início de janeiro ou na época do carnaval. Atualmente, Rodrigo e Wendell estão correndo com a captação para começar a montagem e poder selecionar as datas nas agendas teatrais.

Rodrigo está buscando patrocinio para sua próxima peça que será lançada em 2018(Foto: Faya)

Em sua longa caminhada pela comédia teatral, o ator pode acompanhar de perto as mudanças que ocorreram com a profissão. Segundo ele, o problema mais grave que ameaça o futuro do artista humorístico é a chegada de profissionais inexperientes no mercado. “Antigamente, as pessoas estudavam e se preparavam mais para subir no palco. Com o stand up comedy, hoje em dia, quem se acha engraçado pensa que pode se jogar neste universo sem ter uma preparação. Todos os comediantes famosos são atores que já passaram por várias experiências no teatro, como Tata Werneck e Fabio Porchat. Existe, dessa forma, uma glamorização errada do que é a nossa profissão. Acho que houve no humor uma confusão do que é realmente ser ator. É importante estudar e ler para saber o que está fazendo, conhecer Charlie Chaplin, Chico Anysio e outros grandes nomes para entender o que é a comédia inteligente”, instruiu o mesmo.

Outro problema que a classe enfrenta é a ideia do politicamente correto. Atualmente, existe uma preocupação por fazer piadas que não ofendam o outro. Segundo Rodrigo, ele sempre teve cuidado para trabalhar com o bom gosto e fugir do humor apelativo. “Me preocupava com o politicamente correto antes deste termo existir. A palavra tem muita força e não adianta fazer uma brincadeira que não tem graça”, confirmou. Mesmo tomando todo este cuidado, o ator recebeu uma crítica pelo nome da peça O Incrível Segredo Da Mulher Macaco durante uma entrevista para uma rádio. “O locutor perguntou se eu achava o nome mulher macaco politicamente correto. Não entendi o que ele estava falando, porque é uma referência da época de Conga, onde uma mulher vira gorila. É algo folclórico e não tem nada a ver com o racismo. Acredito que as pessoas discutem sem ter embasamento na crítica, é preciso tomar cuidado e pelo menos investigar sobre o que está falando. Ficamos desesperados com isso, porque nós estamos produzindo este espetáculo e nunca tivemos a intenção de ofender ninguém. Aquele comentário no rádio poderia causar um problema enorme de público para a gente”, criticou.