Noemia Oliveira, primeira integrante negra do time “Portas dos Fundos”, fala sobre carreira e representatividade


A artista está no mercado há 17 anos e, agora, integra o programa de humor. “Nossos passos serão mais significativos quando não pudermos mais contar em poucos dedos a quantidade de negros no mercado de trabalho”, afirma

*Por Domênica Soares

Noemia Oliveira é a mais nova integrante do programa ‘Porta dos Fundos‘ e os frutos desse excelente trabalho já vem sendo colhidos. Na função desde janeiro, a atriz já foi destaque no “The Guardian” ao protagonizar o vídeo “Escola Sem Partido”. Ela comenta que esse fato pode trazer ainda mais visibilidade para o ‘Porta’ e conta que muitas pessoas que lutam pela representatividade frisaram que estão atentas ao canal. “Isso é o que nós queremos ver. Fiz teste com muitas atrizes, de várias etnias e sei que me escolheram porque gostaram do meu trabalho, mas também sei o que ocupar esse espaço representa. Fico feliz em ser a primeira atriz negra contratada, de estarmos caminhando para um elenco mais diversificado, que o público possa se identificar, e, principalmente, em saber que, a ideia da empresa é continuar trazendo mais representatividade e ser mais diversa à frente e atrás das câmeras”. 

Noemia Oliveira é a primeira integrante negra do time “Porta dos Fundos” (Foto: Luiz Brown)

A atriz conta que sua maior premissa no mundo da arte é de que ela pode ser o que quiser e diz que ainda quer trabalhar muito para cumprir todas as missões que aparecem em sua jornada. “Sou uma atriz curiosa e amo me (re)descobrir vivendo papéis diferentes. Acho que é isso que quero levar ao público: as diferentes versões de mim. Além disso, eu quero ajudar a disseminar a ideia de que bons personagens são para bons atores e que isso independente de etnia. A oportunidade faz toda diferença nesse caso”. Ela fala que ingressou na carreira desde criança explicando que fazia apresentações para a família de danças, teatro e até dublagem junto com suas irmãs e primas. Mas reflete que de fato sua porta de entrada foi no ensino médio, no Colégio Estadual Visconde de Cairu, quando uma amiga a convenceu de participar de um curso de teatro (grupo gente) que valia como extracurricular. “Fui um dia por curiosidade, para saber como era e me apaixonei de cara. Depois fiz muitos cursos livres e também faculdade”.

A atriz fala sobre empoderamento e engajamento dos jovens (Foto: Luiz Brown)

Mesmo com muito trabalho e dedicação ao ‘Porta dos Fundo’, Noemia está à frente de outro projeto, desta vez, ao lado do também ator, Orlando Caldeira. Ambos idealizadores do “Projeto Identidade”, no qual a essência se baseia na construção de uma exposição fotográfica que retrata ícones da literatura, cinema, música (originalmente brancos), representados por pessoas negras. Segundo a artista, a ideia é propor uma reflexão sobre os valores estéticos que são impostos na sociedade brasileira por meio de imagens fortes. A artista diz que esse é um dos trabalhos que mais se orgulha de ter feito e frisa que a produção foi desenvolvida a partir de experiências racistas que ela e Orlando já enfrentaram em suas rotinas de trabalho. “Estávamos exaustos de ouvir que não tínhamos o perfil para determinado personagem por conta de nossa cor. Passamos meses conversando, estudando e pensando como poderíamos transformar a nossa indignação em expressão artística. Na época, no ano de 2014, não tínhamos experiência com produção, mas estávamos decididos e era urgente falar sobre isso, como ainda é”.  Além disso, ela comenta que o projeto tem o nome de “Identidade” porque a ideia é de que ele se torne contínuo, com o lançamento do documentário que tem em sua narrativa entrevistas dos artistas e demais envolvidos que estavam presentes durante as sessões fotográficas, e também, uma proposta de peça de teatro. “Tudo, se torna então, um convite prático à reflexão e à ação mais consciente, que se traduza em mais equidade e representatividade”.

Noemia reflete sobre representatividade (Foto: Luiz Brown)

Em entrevista exclusiva ao site Heloisa Tolipan, Noemia Oliveira fala um pouco sobre a nova geração e relata que, em sua percepção, os jovens de hoje em dia são mais críticos, engajados e empoderados, e analisa que tudo isso é um reflexo da sociedade e do tempo em que estão inseridos. A humorista conta que sua geração, foi em geral, desenvolvida com uma educação  menos reflexiva do que atualmente. “A luta deles se soma à nossa. Estamos aprendendo muito juntos. Equidade é o futuro, não se muda aquilo que não se conhece. Quando tivermos todos a chance de refletir e exercer crítica e plenamente nossa cidadania, teremos evoluído juntos enquanto nação”. 

A atriz tem muitos sonhos pela frente, trabalho na internet, TV, cinema e teatro, e além disso, divide que tem o desejo de ser mãe, formando sua própria família e sendo ainda mais feliz na vida pessoal e em sua carreira, fazendo com que seu caminho continue sendo construído de passos marcantes em cada momento vivido. Noemia é daquelas mulheres fortes que não desistem do que amam, neste caso, a arte.