No Folia Tropical, Vik Muniz sonha com dias de menos polarização


“Nós precisamos aprender muito com o Carnaval, inclusive para ver o valor do Brasil. A gente não consegue nada com sermão, com opinião, tem que ser como essa turma da Sapucaí: fazer com arte”, falou.

(Foto: Lucas Rezende)

O artista plástico Vik Muniz usou suas redes sociais nos últimos tempos para se posicionar contra o presidente Jair Bolsonaro. Na publicação de uma foto junto da filha em uma passeata contra o político do PSL em Nova York, por exemplo, ele escreveu: “For a more feminine future everywhere” (“por um futuro mais feminino em todos os lugares”, em tradução). Ontem, encontramos Vik no terceiro andar do camarote Folia Tropical, em meio aos enredos de protesto na Marquês de Sapucaí, e conversamos justamente sobre em como dar opiniões ultimamente custam caro…

“Está uma confusão, tudo muito polarizado. E acho que ainda vai demorar um tempo para acharmos o meio termo, já que este é o momento de opiniões firmes e fortes. Porém, nesse limbo, há sempre muita falta de respaldo para fazer discursos e críticas e há pessoas que, então, se apoiam no radicalismo. Eu, por exemplo, sou socialista convicto, mas tento ser ponderado porque sou contra essa tendência de radicalização”, disse.

Vik, portanto, pensa que o Brasil precisa desenvolver uma esquerda de apelo ideológico para alcançar um espaço aonde possa haver diálogo – o que está faltando. “Precisamos ter posições, mais diálogos, porque enquanto não tivermos diálogos, teremos guerra. E esse já é um momento de guerra, mas, convenhamos, com essa era da rede social, essa guerra passa a ser cada vez menos no olho e olho”. Fruto, segundo ele, de um fenômeno mundial que começou com a candidatura de Donald Trump nos Estados Unidos. “Ali nasceu esse uso da força virtual no discurso, de forma muito grande, e nós ainda vamos levar um tempo para entender esse mecanismo de forma democrata e eficiente”.

Papo vai, papo vem, Vik lançou uma máquina fotográfica da mochila e passou boa parte da madrugada fotografando os desfiles das escolas de samba do alto do Folia Tropical. “Amo o Carnaval porque ele fala de diversidade, né? Ele equaliza tudo desde a Idade Média. Nós precisamos aprender muito com o Carnaval, inclusive para ver o valor do Brasil. A gente não consegue nada com sermão, com opinião, tem que ser como essa turma da Sapucaí: fazer com arte”, falou.

E Vik fala…mas faz. Ele está envolvido com um projeto em Bangladesh, na Ásia Meridional, com cinco mil pessoas num campo de refugiados usando lixo para formar um grande rosto humano. Dali, sai um documentário, mais ou menos lá para o ano que vem. “É um projeto grande”, frisou.