No Folia Tropical, Moacyr Luz diz que o samba é o melhor grito de protesto


Compositor foi uma das atrações musicais do badalado camarote na noite de sábado

Moacyr Luz (Foto: Agnews)

Não era dia 2 de fevereiro, mas Moacyr Luz cruzou a Marquês de Sapucaí ontem como se estivesse no Rio Vermelho, em Salvador (BA) distribuindo flores para Iemanjá, afinal foi autor do samba-de-enredo da Renascer de Jacarepaguá, que homenageia a grande celebração baiana. Para este carnaval, ainda tem mais duas obras para desfilar até a Apoteose: o samba da Grande Rio e o da Paraíso do Tuiuti.

Esse último segue uma toada de protesto, como o do ano passado, quando a Tuiuti foi para as cabeças questionando se, afinal, está de fato extinta a escravidão? Agora, o samba de Moacyr contará a história do bode que foi eleito vereador em Fortaleza (CE). Sem ter feito campanha, o animal recebeu votos em forma de protesto. No camarote Folia Tropical, onde cantou com o Samba do Trabalhador, Moacyr falou sobre esse papel contestador da música.

“Este é o auge do entendimento da desigualdade. O pobre acordou e entendeu que é pobre. O negro acordou e entendeu que é negro. Vivemos, sim uma cultura de preconceitos e agora toda a revolta está aflorando. E se o samba puder falar, ele tem que falar! As pessoas estavam sufocadas há séculos, porque vivemos uma ditadura social depois da militar. Chegou o momento das identificações e de quem sofreu falar: ‘Opa, pera lá: parem de fingir que não existe racismo! Parem de fingir que vocês gostam do pobre!’”, disse.

E, como no caso específico do Rio de Janeiro pairam discussões acirradas sobre a importância da maior festa do planeta, aponta Moacyr, aflora ainda mais um “momento de revolução, onde o samba pode ser a melhor arma para se externar toda a nossa indignação”. Não à toa, chama atenção um dos trechos do samba-de-enredo da Tuiuti, que diz: “Vendeu-se o Brasil num palanque da praça e ao homem serviu ferro, lodo e mordaça. Vendeu-se o Brasil do sertão até o mangue e o homem servil verteu lágrimas de sangue”.

Ainda no Folia Tropical, que sempre preza pela brasilidade, incensando o samba e, neste ano específico, também a diversidade de povos, Moacyr destaca os que remam no fluxo contrário: “Sou adeptos de transformações, mas desde que se mantenha características mínimas. A Sapucaí é o berço do samba, que abarca um mundo de pessoas que sonha com essa noite, onde o samba é rei. Então, é hora de regar essas flores e não podá-las”.