Na abertura do Festival do Rio, Sebastião Salgado mostra o belo na tragédia e emociona o público com “O Sal da Terra”


Evento vai até o dia 8 de outubro e traz mais de 300 filmes de 69 países diferentes

*Por João Ker

Foi com bastante ventania e merecida pompa que a capital fluminense deu a largada no Festival do Rio, na noite desta quarta-feira (24). Durante o evento que lotou o Teatro Oi Casa Grande, o filme escolhido para começar a trajetória de mais de 300 títulos vindos de 69 países diferentes foi o documentário “O Sal da Terra”, que mostra a trajetória do mestre da fotografia nacional, Sebastião Salgado. Dirigido pelo filho Julio Salgado em parceria com o simpático alemão Wim Wenders, o filme materializava a junção perfeita entre o nacional e o internacional em um produção que deixou toda a plateia estática pela beleza e pelos horrores mostrados na tela.

“Esse filme já teve várias exibições, mas essa é a primeira vez em que eu participo de alguma. Aqui é o lugar que a gente queria estar. Eu sinto muito orgulho e esse é um momento muito bom para nós”, comentou o fotógrafo, que subiu ao palco depois de Cláudia Raia, mestre-de-cerimônias da noite, ter homenageado Eduardo Coutinho e José Wilker antes da exibição. Mais tarde, Júlio Ribeiro confessa para HT que “o Festival é maravilhoso, assim como a cidade. Eu me sinto muito feliz e é uma honra sem fim poder abrir esse evento; além de ser um alívio poder mostrar ainda mais o trabalho do meu pai no Brasil”.

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Fotos: Zeca Santos

Hilda Santiago e Valquíria Barbosa, diretoras do Festival do Rio, ressaltam a importância tanto do evento durante o ano de eleições quanto do próprio filme de Salgado: “A indústria está organizada e presente aqui. No dia 29, nós lançaremos um plano bianual para o setor do audiovisual, que pretende reavaliar o formato dos incentivos fiscais, passando de projetos para empresas; a redução da carga tributária; a preservação da propriedade intelectual; e a redução da burocracia nesse meio. O Brasil não pode continuar sendo o segundo país na lista de consumo da pirataria. É uma vergonha para uma nação democrática”, comentou Hilda.

O público, formado por personalidades nacionais, não deixou de comentar tanto a relevância do Festival para a cidade e para a indústria, quanto a do próprio documentário de Salgado: “É importantíssimo, é o Festival que a gente pode chamar de nosso, sério e bem feito. E é bom para atrair mais pessoas ao cinema, que têm a oportunidade de ver filmes aos quais elas não assistiriam normalmente”, diz Cláudia Raia. O ator Juliano Cazarré, que antes de estourar na TV pela novela Avenida Brasil, começou sua trajetória no cinema, também declarou: “O evento é importante para formar público. Há um boom na comédia e não sei o porquê, mas o Festival serve para mostrar aos próprios brasileiros que o país produz um cinema bacana, legal”.

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Fotos: Zeca Santos

Após a exibição, o público formado por cinéfilos, cineastas e estrelas de cinema compareceu em massa ao Sacadura 154 – para misturar um pouco da magiadas telas com a magia da Cidade Maravilhosa, em uma festa que celebrou tanto a boemia quanto a cultura fluminense e nacional. A revelação da Rede Globo, Erika Januza, conta: “Normalmente esses festivais fecham com chave de ouro, mas esse aqui também abriu assim. Eu sou muito fã do Salgado e acompanho o trabalho dele. Acho que essa é uma ótima oportunidade para difundir a cultura brasileira. O cinema só tem a acrescentar!”. A estilista Bianca Marques também foi só elogios ao fotógrafo: “Só o primeiro filme já foi de grande importância não só para a cidade e para o cinema, mas para a humanidade. O Sebastião consegue achar o belo na morte para chamar a atenção do mundo inteiro sobre essas questões. De certa forma, o Rio já ganhou com isso, porque o público vai começar a espalhar pelo boca-a-boca e, com sorte, isso abre um pouco a cabeça das pessoas”.

Apesar de este ano tanto o público quanto a produção sofrerem com a falta do Cinema Odeon, que fechou as portas em meados deste ano por tempo indefinido, o Festival do Rio promete levantar debates importantes até o próximo dia 8 de outubro. E, com sorte, poderá ajudar a impedir essa nova onda de fechar os cinemas de rua pela cidade. Afinal, a sétima arte é um dos meios mais belos e eficientes para tratar de questões que podem passar despercebidas pela sociedade. Não é à toa que “O Sal da Terra” impactou tanto a audiência. E, cada um à sua maneira, os outros 300 e tantos títulos prometem fazer o mesmo.

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Fotos: Zeca Santos