Multiartista carioca radicado em Los Angeles, Leopold Nunan prepara EP acústico com músicas de Beto Brown


Aos 42 anos, fã de artistas como Liniker e Johnny Hooker, Leo From Rio está na cidade com a turnê ‘Banzé Tour’, que se encerra em 15 de janeiro no bar Comuna, em Botafogo

No Vizinha 123, espaço pequeno e aconchegante em Botafogo, Leopold fará um show samba-jazzístico no dia 9 (Foto de Austin Young)

*Por Jeff Lessa

Se você não viveu a náite alternativa carioca entre os anos 1990 e o começo dos 2000 talvez não saiba quem é Leopold Nunan. Procure saber: o cantor, compositor, dançarino, performer, ator, modelo e coreógrafo carioca de 42 anos, que vive em Los Angeles há 19, fez um show na última segunda-feira na boate Fosfobox, em Copacabana, em que mostrou a versatilidade e o carisma de quem começou aos 13 anos se apresentando como bailarino e ator de teatro. A performance do dia 30 foi o primeiro dos quatro shows da turnê “Banzé Tour”, que se encerra em 15 de janeiro no Comuna, o bar de Botafogo famoso por seus hambúrgueres artesanais. A turnê deve seu nome à sua música principal, “Banzé”, um libelo pelas causas indígenas composto por Beto Brown, dos blocos Suvaco do Cristo e Monobloco, lançado em maio, durante a Parada do Orgulho de Long Beach, na Califórnia.

Apresentação de Leopold Nunan na Fosfobox, dentro da festa ‘I Hate Mondays’, teve dançarinos de passinho e de vogue (Divulgação)

Na Fosfo, a apresentação contou com profissionais da Maré dançando o passinho e o primeiro bailarino da companhia de Deborah Colker, Rodrigo Werneck, fazendo vogue. “Vogue”? “O vogue nasceu com a cultura dos bailes surgida em Nova York e Los Angeles nos anos 1980, 90. Foi o começo da resistência dos gays que, quando eram expulsos de casa pela família, passaram a criar suas próprias ‘houses’. Alugavam apartamentos e iam morar juntos. Nesses lugares, um protegia o outro”, conta Leopold, que chegou a morar numa dessas casas, a House of Faith. “O vogue foi criado pelos rapazes a partir das poses glamourosas que viam na revista. Eles imitavam os stills dos modelos de Versace, Dolce & Gabbana, Armani, e os veteranos, criadores das ‘houses’, julgavam quem era o melhor, tipo concurso. A Madonna levou o movimento underground para o mundo”.

Para o Comuna, dia 15, Leopold promete um show com canções de Beto Brown, Caetano Veloso e do Tropicalismo (Divulgação)

Tranquilo e muito simpático, Leopold vem pouco ao Rio (“Preciso voltar com mais frequência”), mas quando está na cidade curte mesmo ficar na companhia da mãe, que mora em Copacabana, na Pompeu Loureiro: “Fico grudado com ela. Essa é a razão principal das minhas vindas ao Brasil. ‘It’s all about mama’. É a minha rainha, minha melhor amiga”, revela. “Sou louco para ela vir morar comigo em Los Angeles. Tomara que ela mude de ideia e vá para Hollywood. Seria o maior presente da minha vida”.

O entusiasmo com a temporada no Rio também se deve a outros fatores: “A cidade, para mim, é praia, comida brasileira, música, família e amigos”. Já o entusiasmo com a cena alternativa não é tão grande assim. “Estive em São Paulo e quanta diferença. São Paulo está internacionalizada, pode competir com Los Angeles e Nova York fácil. Em alguns casos, a noite de lá chega a ser melhor que a de L.A. O Rio tem pouca coisa, desanima. Mas aqui sempre foi da muvuca, é bom para quem quer se jogar na multidão. Tem de saber aproveitar o que a cidade tem a oferecer, né?”, pergunta-se Leopold, acrescentando que curte a turma nova formada por artistas como Liniker e Johnny Hooker. “O terreno foi pavimentado para eles, que abriram a torneira. A água não pode mais ser estancada, gostem ou não”.

A turnê carioca de Leopold se encerra em 15 de janeiro, no Comuna (Foto de Austin Young)

Depois de uma pausa para curtir a família e os amigos, o versátil Leopold Nunan volta à cena em 9 de janeiro, agora no Vizinha 123, misto de pub, casa de shows e local para eventos em Botafogo. No espaço, pequeno e aconchegante, Leopold fará um show samba-jazzístico em que cantará as canções de Beto Brown. O show é a prévia de um novo projeto, que vinha sendo acalentado há tempos e está se tornando realidade: “Estou preparando um EP só com músicas do Beto. É um grande vocalista e autor, muito versátil. O EP será acústico, nada de música eletrônica”, adianta Leopold. “Conheci o Beto em 1999, em Nova York. Nós morávamos no Rio e fazíamos teatro no Tablado, mas não nos conhecíamos. Desde então, escolhi ele como meu muso”.

No dia do show no Vizinha 123, Leopold, Beto Brown e o cantor e compositor Tárcio Cardo têm um compromisso inusitado. Os três serão fotografados desnudos em estúdio para o material gráfico da apresentação do dia 15 no Comuna, em Botafogo. “Vamos fazer o show ‘Os Três Tremores’, eu Beto e o Tárcio, com temas ligados à natureza. Terá canções de Beto, de Caetano Veloso, do Tropicalismo. Vamos fazer um Novo Tropicalismo. No encerramento, música eletrônica!”, conta. “Além de ilustrar os flyers, as fotos serão projetadas num telão durante a apresentação”. (Atenção: “Os Três Tremores” é piada de Leopold, ok? O nome oficial da apresentação é “Trio de Homens Cantores + Encerramento Banzé Tour”. Mas que “Três Tremores” é genial, lá isso é…)

Ele fala de seu começo com carinho e frisa que sempre foi artista. “A primeira vez que pisei no palco foi por causa das irmãs angélicas do Colégio São Paulo, no Arpoador. Eu cantava em todas as bandas e me apresentava em todos os eventos. Meu pai foi médico cirurgião plástico, grande dançarino e percussionista. Aprendi em casa com o melhor”, lembra. “Minha carreira começou pela dança e pelo teatro. Sou cria de Maria Clara Machado e Ricardo Kosovski, e meu primeiro musical foi dirigido pela Cininha De Paula. Ganhamos o Prêmio Sharp e o Coca-Cola de Teatro com ele. ‘Pocahontas’ era o nome da peça. E aprendi a dançar com o mestre de dança moderna Renato Vieira”.

Enquanto conversamos, o entusiasmo de Leopold Nunan com suas breves férias cariocas chega a ser palpável. Quase não é preciso fazer perguntas: o artista vai se lembrando dos detalhes e acrescentado às respostas, nitidamente se divertindo com a antevisão dos resultados. Então, fica a pergunta: por que saiu do país? “Fui para fazer música. Para me libertar mais. Aqui, o que eu fazia era muito risqué, muito ousado. Quando cheguei em Los Angeles, me abraçaram, me acolheram, me chamaram logo de Leo from Rio. Fui embora daqui para buscar a liberdade artística, e fui parar no underground, na House of Faith”, relembra. “A TV me descobriu e me colocou no mainstream. Fiquei porque me apaixonei pelo meu marido (Thomas Soveg), estamos há mais de uma década juntos. Formamos uma família, eu, ele e o nosso cachorro.

Cidadão americano, Leopold conta que faz uma feroz oposição ao presidente americano: “No bairro onde moro, West Hollywood, vivem muitos gays. Não admitimos sequer gente usando bonezinho MAGA (Make America Great Again, slogan da campanha de Donald Trump), ou tira ou botamos para fora”.

Artista de talentos múltiplos, Leopold participou como bailarino de peças premiadas com o Prêmio Sharp, como “Hair” e “Sweet Charity”. Nos Estados Unidos, produziu a festa “Drrrama”, no Standard Hotel, no Sunset Boulevard, e participou de duas temporadas do reality show cômico “Worst Chefs in America” (“Os piores Chefs da América”), além de ter aberto shows para Miss Kier, do Deee Lite. O artista também estrelou comerciais de alcance nacional para marcas como a Coca-Cola e a Phillips.

SERVIÇO

Beto Brown + Leopold Nunan Live

Vizinha 123

Rua Henrique de Novais 123, Botafogo – 99999-8633

Quinta (9 de janeiro), às 20h

 

Trio de Homens Cantores + Encerramento Banzé Tour

Comuna

Rua Sorocaba 585, Botafogo – 3579-6175

Quarta (15 de janeiro)